Arquidiocese de Braga -

O Arcebispo Metropolita de Braga, D. José Cordeiro, disse este sábado que a renovação da fé e dos modos de evangelizar não se alcança com uma “solução mágica”, mas implica um compromisso coletivo.

D. José Cordeiro, que falava na abertura da Jornada “Renovar: Levar Jesus a Todos”, no Auditório Vita, em Braga, convidou todas as comunidades paroquias a envolverem-se neste processo iniciado pela Igreja de Braga, que pretende chegar sobretudo aos mais jovens que não conhecem ou andam afastados de Cristo.

“Algumas paróquias já estão neste alinhamento de transformação, utilizando ferramentas de evangelização que as ajudam a adaptar-se aos tempos modernos”, destacou.

Diante de uma assembleia que lotou o Auditório Vita, o prelado apontou S. Frutuoso – cujo dia litúrgico se celebra no dia 19 – como um exemplo de dedicação à fé e modelo inspirador, e fez referência à experiência de quatro sacerdotes da Arquidiocese que participaram recentemente num encontro em Madrid, onde tiveram oportunidade de trocar ideias e experiência com outras comunidades e que podem servir de motivação. 

“Eles voltaram tão entusiasmados que trouxeram consigo um novo ardor, uma nova chama que pode iluminar o caminho de todos nós”, afirmou o prelado reforçando o propósito de “levar Jesus a todos”, neste tempos de “desafios e incertezas”.

D. José Cordeiro disse que as “provocações” de não católicos que perguntam “o que é que os católicos fazem a mais pelo mundo” devem interpelar e fazer os católicos aprofundar o testemunho e a vivência dos seus valores.

“A missão essencial da Igreja é evangelizar, é mostrar os mistérios de Cristo, refletindo o amor e a esperança que Ele nos oferece”, frisou.

O prelado salientou ainda a importância da oração e da escuta ao Espírito Santo para que a missão seja verdadeiramente eficaz.

“Sem o Espírito Santo não há missão”, lembrou.

Este encontro de formação no Auditório Vita contou com cerca de 500 agentes pastorais e líderes paroquiais, convocados pela Arquidiocese de Braga para transformar as paróquias e comunidades em verdadeiros centros de renovação da fé e da fidelidade ao Evangelho e o entusiasmo pela missão, neste caminho até 2033, Ano Jubilar da Redenção de Cristo.

“Que possamos, juntos, acender a chama da fé e levar Jesus a todos, renovando-nos constantemente na esperança e na alegria”, incentivou D. José.

Este encontro, que termina amanhã, pretende marcar o início de um caminho de renovação em ordem a uma Igreja em saída, missionária, capaz de ser uma verdadeira luz na sociedade.

O Arcebispo de Braga destacou a importância de encontrar novos modelos de ser Igreja, de ser comunidade, de responder ao Evangelho, face à complexidade da realidade atual.

“Há muitos jovens a crescer sem Deus e sem a Igreja, mas não são contra a Igreja nem são contra Deus, por isso temos aqui uma grande porta de evangelização”, notou, reforçando a necessidade de “fortalecer as paróquias no crescimento da fé” e levar a “mensagem transformadora do Evangelho a todos os cantos da Arquidiocese”, apostando em novos métodos.

O prelado explicou que renovar significa “transformar na fidelidade ao único e mesmo Jesus Cristo, ao mesmo e único Evangelho” e que para isso é necessário “sair, evangelizar e criar discípulos”. 

O padre Sérgio Torres, secretário do Conselho Pastoral Arquidiocesano, disse que esta jornada pretende ser precisamente a chama que faça “incendiar” o espírito missionário pelas comunidades. Daí a escolha de S. Bartolomeu dos Mártires para patrono desta jornada com o seu lema episcopal, “Arder e Iluminar”.

“É hora de preparar a palha e acender o lume”, disse o sacerdote, incentivando as cerca de 500 pessoas que participam nas Jornadas a espalharem este “ardor” e a comprometerem-se com a renovação da fé e das comunidades.  

Tote Barrera e Cristy Salcedo realçaram importância do querigma na renovação pastoral

A Jornada "Renovar: Levar Jesus a todos" contou de manhã com duas conferências proferidas por Tote Barrera e Cristy Salcedo, um casal vindo de Espanha que trabalha há várias anos na nova evangelização.

Os palestrantes apontaram o primeiro anúncio (querigma) como essencial para a evangelização, a conversão e renovação pastoral e partilharam com a assembleia propostas sobre como levar Jesus a todos.

Tote Barrera referiu que uma Igreja em saída não se resume à conversão individualizada, ou seja, a trazer novos fiéis para o Cristianismo, é algo mais profundo, implica a conversão pastoral das paróquias.

“O primeiro anúncio é a porta de entrada que reinicia o ciclo da evangelização”, explicou, destacando a importância de passar do anúncio inicial para a formação de discípulos e depois para a missão.

Afirmando que a cristandade está “morta” e que  os cristãos devem aceitar o luto, o palestrante, membro do grupo da Comissão de Primeiro Anúncio da Conferência Episcopal Espanhola, defendeu uma Igreja renovada, com frescura e com força renovada para anunciar o Evangelho. 

“A cristandade não é a fé, é o sistema, é o resultado da evangelização. É necessário avançar no caminho de uma conversão pastoral e missionária que não deixe as coisas como estão”, disse, referindo que a estrutura pastoral da Igreja “está desenhada para uma sociedade que já não existe”.

Cristy Salcedo disse, na sua conferência, que o primeiro anúncio deve ser feito no “coração da  paróquia”, pois só assim terá uma função evangelizadora, e desafiou os bispos a proferirem homilias que evangelizem. A fórmula é anunciar Jesus Cristo de maneira direta e acessível.

A formadora,  que se dedica à evangelização desde 2011 em Espanha, tendo coordenado juntamente com Tote Barrera o Alpha Espanha até 2020, incentivou a anunciar Jesus de forma alegre e partilhou com a assembleia os passos necessários para começar a evangelizar: ter uma equipa, orar com a equipa, escolher um método, convidar pessoas, pôr mãos à obra, preparar-se para colher o "fruto" e acompanhá-lo. E por fim, o mais importante, pedir a vinda do Espírito Santo.

“Quem quer evangelizar e renuncia ao Espírito Santo é um fracasso total”, avisou Crisy Salcedo.

Método utilizado com jovens dá frutos em Santiago

Num dos workshops da tarde, o padre Ricardo Sanjurjo Otero partilhou uma experiência sobre o primeiro anúncio aos jovens na Diocese de Santiago de Compostela.

O sacerdote, que é delegado da Pastoral Universitária, referiu que o primeiro anúncio «foi o motor de uma renovação pastoral muito profunda» no modo como se encarava a pastoral dos jovens.

“O método que utilizamos deu muitos frutos, porque é um terreno muito mais aberto no que se pode experimentar. Já trabalhámos nesta chave há quase dez anos e neste período tivemos uma multiplicação de jovens nas atividades quer do Departamento, quer das paróquias, transformaram-se vidas, muitos jovens receberam o batismo, completaram a formação de iniciação cristã, casaram, são pais, outros entraram no Seminário ou na vida religiosa”, assinalou.

Questionado se este processo pode ser replicado noutras dioceses, incluindo portuguesas, o padre  Ricardo Sanjurjo Otero respondeu com cautela, afirmando que os métodos têm que ser desenvolvidos de acordo com a realidade de cada sítio.

“A Galiza e o Norte de Portugal são muitos parecidos, mas ao mesmo tempo não somos exatamente iguais. Este processo pode ajudar e inspirar a que outros sejam ousados”.