Arquidiocese de Braga -
10 julho 2024
Em Hiroshima, religiões mundiais se comprometem com o Apelo de Roma da IA
Vatican News - Lisa Zengarini
Líderes religiosos de todo o mundo estão reunidos até esta quarta-feira em Hiroshima, no Japão, para a assinatura do “Apelo de Roma para a Ética da Inteligência Artificial", enfatizando a importância vital de orientar o desenvolvimento da IA
Os líderes das principais religiões mundiais estão reunidos na cidade japonesa de Hiroshima esta semana para reafirmar o seu compromisso em garantir que a inteligência artificial (IA) seja desenvolvida de forma ética e responsável em favor da paz.
Intitulado “Ética da IA para a Paz: As Religiões Mundiais comprometem-se com o Apelo de Roma”, o fórum de dois dias é co-organizado pela Pontifícia Academia para a Vida (PAV), Religiões pela Paz do Japão, Fórum de Abu Dhabi pela Paz dos Emirados Árabes Unidos, e o Rabinato Central de Israel para as Relações Religiosas.
Assinatura do “Apelo de Roma pela Ética na IA”
O destaque do evento multi-religioso, que começou terça-feira, será a assinatura do Rome Call for AI Ethics ("Chamado de Roma pela Ética na IA”), emitido em 2020 pela Pontifícia Academia para a Vida e promovido pela Fundação RenAIssance, enfatizando a importância vital de orientar o desenvolvimento da inteligência artificial com princípios éticos para garantir que ela sirva para o bem da humanidade.
O documento, co-assinado em Roma pela Microsoft, IBM, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o governo italiano, visa promover uma abordagem ética à inteligência artificial e promover um sentido de responsabilidade partilhada entre organizações, governos, tecnologias de informação (TI), empresas e instituições, a fim de moldar um futuro em que a inovação digital e o progresso tecnológico sirvam o génio e a criatividade humanos, salvaguardando ao mesmo tempo a dignidade humana de cada indivíduo e do planeta.
Uma abordagem multi-religiosa aos desafios colocados pela IA
Após a assinatura do “Apelo de Roma” pelos líderes das três religiões abraâmicas (Cristianismo, Islamismo e Judaísmo) em 2023, em nome da coexistência pacífica e dos valores partilhados, o evento pretende reforçar a ideia de que uma abordagem multi-religiosa para questões vitais, como a ética da IA, são o caminho a seguir.
Em um comunicado de imprensa, os organizadores salientam que a escolha do local tem um significado particular, uma vez que Hiroshima permanece como um poderoso testemunho das consequências da tecnologia destrutiva e da busca duradoura pela paz.
Uma responsabilidade partilhada pela paz e pela nossa casa comum
No seu discurso de abertura, na manhã de terça-feira, o presidente da Pontifícia Academia para a Vida do Vaticano, dom Vincenzo Paglia, reiterou o papel crucial que as religiões são chamadas a desempenhar para garantir que o desenvolvimento da inteligência artificial, “uma grande ferramenta com capacidade ilimitada possibilidades de aplicação”, disse ele, caminha de mãos dadas com a proteção da dignidade de cada ser humano e a preservação da nossa casa comum. “Esta é a nossa responsabilidade comum e neste esforço partilhado podemos redescobrir a verdadeira fraternidade”, observou.
“Em Hiroshima, um lugar altamente simbólico, invocamos fortemente a paz e pedimos que a tecnologia seja um motor de paz e reconciliação entre os povos. Estamos aqui, juntos, para dizer em voz alta que permanecer juntos e agir juntos é a única solução possível.”
Cooperação, solidariedade e integridade ética
As palavras de dom Paglia foram ecoadas pelas dos líderes dos outros parceiros organizadores. “Cooperação, solidariedade e trabalho conjunto são necessários para lidar com os desenvolvimentos da Inteligência Artificial”, disse o xeque Abdallah Bin Bayyah, presidente do Fórum para a Paz de Abu Dhabi. A IA é uma força para o bem – um futuro em que os frutos da tecnologia são aproveitados para construir um mundo mais tolerante, pacífico e virtuoso", afirmou.
Por sua vez, o Rev. Yoshiharu Tomatsu, presidente das Religiões pela Paz no Japão, reiterou o compromisso da sua organização em garantir que a IA promova “a inclusão e o respeito mútuo para todos”.
O rabino Eliezer Simha Weisz, membro do Rabinato Central de Israel para as Relações Religiosas, insistiu que, como pessoas de fé, os líderes religiosos “carregam uma responsabilidade única de infundir a nossa busca pela IA com clareza moral e integridade ética”.
Ele destacou ainda a necessidade de utilizar a IA “não apenas como uma ferramenta para o progresso, mas como um canal para aprofundar a nossa ligação com o divino e fortalecer a nossa jornada espiritual. “A IA fortalece a nossa fé em Deus, proporcionando caminhos para explorar as complexidades da criação e os mistérios da existência”, disse ele.
Governança ética da IA
Outros palestrantes na terça-feira incluíram o padre Paolo Benanti, professor de ética da tecnologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, que apresentou o Adendo de Hiroshima sobre IA Generativa. O documento centra-se na necessidade de governação ética da IA generativa – um processo contínuo que requer um compromisso sustentado de todas as partes interessadas para que o seu potencial seja utilizado para o bem da humanidade.
Também se pronunciaram na terça-feira altos representantes de empresas de TI como Microsoft, IMB Cisco, bem como funcionários da ONU e da FAO.
O encontro terminará neste dia 10 de julho com a assinatura do “Apelo de Roma". Após o depoimento de um sobrevivente da bomba atómica, os participantes também planejaram visitar o Parque Memorial da Paz de Hiroshima, bem como o Cenotáfio das vítimas da bomba atómica, onde depositarão flores em sua memória.
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