Arquidiocese de Braga -

11 dezembro 2023

Presépio de Priscos desafia a ver o rosto e a cuidar das pessoas vítimas de violência

Fotografia DACS

DM - Jorge Oliveira

O Presépio ao Vivo de Priscos conta com cerca de 600 figurantes distribuídos por 60 cenários, num espaço de 30 mil m2, junto à igreja paroquial.

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A XVI edição do Presépio ao Vivo de Priscos abriu ontem as portas, debaixo de chuva miudinha, com a presença de mais de uma centena de pessoas, algumas vindas da vizinha Espanha.

O Arcebispo Metropolita de Braga, D. José Cordeiro, que presidiu à inauguração deste que é considerado o maior presépio ao vivo da Europa, destacou a singularidade desta representação, no ano em que a Igreja comemora os 800 anos do primeiro Presépio, representado em Greccio, Itália, por S. Francisco de Assis.

“Ver o Presépio é ver o rosto das pessoas, de todas as pessoas, e de um modo especial aquelas que mais sofrem, que são vítimas de todo o tipo de violência”, destacou.

Este ano, o Presépio ao Vivo de Priscos salienta as vítimas de tráfico de pessoas, mas ao mesmo tempo recorda-nos que o Natal também é o tempo em que podemos transformar o mal em bem e o caso que hoje nos acompanha é de alguém que soube dar o salto, porque foi bem acolhida, bem integrada e numa relação harmoniosa na comunidade em Braga”, frisou o prelado, em declarações aos jornalistas, quando visitava o Presépio. 

D. José Cordeiro percorreu o Presépio de Priscos integrado num grupo de convidados onde estavam, entre outros, o presidente da Câmara de Braga, o pároco de Priscos, o presidente da Junta de Freguesia e uma jovem camaronesa que foi vítima de tráfico, atualmente a residir em Braga.

Notando a feliz coincidência da abertura no dia em que se comemorou os 75 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Arcebispo de Braga considerou que o Presépio de Priscos “é há 17 anos um sinal de esperança não só para Braga, na articulação com o Município e com tantas outras autoridades, mas para todos aqueles que têm a possibilidade de o visitar ou até de o conhecer”.

“É uma interpelação cada vez maior para nós de humanizar a humanidade e de transformar o mal em bem”, acrescentou.

O prelado espera que as pessoas que vão visitam o presépio se sintam “interpeladas, incomodadas” e façam um esforço por serem  “artesãos da paz, do amor, da alegria”. 

“O Natal não devia ser só numa quadra, mas deveria ser todos os dias”, concluiu.

O Presépio ao Vivo de Priscos conta com cerca de 600 figurantes distribuídos por 60 cenários, num espaço de 30 mil m2, junto à igreja paroquial.

Ana Silva, da freguesia de Tadim, era a figurante que ontem estava a fazer de Maria, na gruta do presépio, acompanhada de Pedro Castelo, seu marido, na figura de S. José.

Ao Diário do Minho, o casal disse que é um “orgulho”, mas também uma "grande responsabilidade", assumir a representação de duas figuras “tão importantes do Cristianismo”.

À entrada do Presépio está montada uma exposição sobre a temática do tráfico humano, constituída por uma dezena de painéis com fotografias de pessoas vítimas desta atrocidade.

Este ano, o Presépio de Priscos toca também na questão da guerra, através do um acampamento militar, que foi melhorado graças a um trabalho assegurado por voluntários ao longo de um ano.

Com este cenário, protagonizado por figurantes vestidos à época romana, a organização pretende dizer aos visitantes que a guerra “é uma maldade humana que deveria ser visitada e não praticada”.

 

Mentor do Presépio pede organização e vigilância  

O pároco de S. Tiago de Priscos defendeu, ontem, que o Estado tem que “fazer mais” em matéria de combate ao tráfico de seres humanos.

Falando aos jornalistas na abertura da edição de 2023 do Presépio ao Vivo de Priscos, o sacerdote questionou a vantagem da extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para a criação da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), e considerou que o Estado “não tem serviços bem organizados para acolher imigrantes”.

“Ter acabado com o SEF poderia ter sido uma boa ideia se o Serviço estivesse agora mais organizado, não sei se está”, disse o mentor do Presépio ao Vivo de Priscos, representação que este ano alerta para o tema do tráfico de seres humanos.

O sacerdote referiu que é necessário saber onde é que os imigrantes estão, que tipo de trabalhos têm, se estão ou não a ser explorados.

“Isso deveria ser uma preocupação para todos nós, porque acredito que o Estado, por si só, não vai resolver todos os problemas”, acrescentou.  

O padre João Torres incentivou a fomentar “uma boa política de vizinhança”, apelando a que cada um seja “sentinela e vigilante” do seu próximo.

“Se eu sei que no meu bairro, na minha terra, no meu prédio há alguém que me parece que está a ser vítima de tráfico humano eu devo denunciar. Em Portugal, o tráfico de seres humanos, é um crime público”, sublinhou.

A guerra é outro dos temas focado no Presépio de Priscos , através de um acampamento militar, a grande novidade deste ano.

O padre João Torres notou que a guerra “continua a existir”, hoje com outros «atores» e com “outras temáticas” e o Presépio de Priscos, nesta edição, quer chamar a atenção para esta “maldade humana” que “às vezes nasce na casa de cada um de nós, depois passa para a rua e depois passa para um país”. 

 

"Homenagem" no combate ao tráfico humano

Testemunho Nadege Llick, a convidada deste ano do Presépio ao Vivo de Priscos, não escondeu a sua emoção por ser o principal rosto do tema escolhido para esta edição, "tráfico de seres humanos".

Aos jornalistas, a jovem camaronesa disse que este gesto, uma espécie de homenagem, “é muito importante” para si e para sua família, porque os encoraja a prosseguir na busca de uma vida melhor, depois dos momentos «muito difíceis» por que passaram.

Além disso, continuou, é um estímulo para todas as pessoas que combatem o tráfico humano. “Estou realmente muito contente com esta homenagem”, acrescentou.

Nadege Llick está a viver em Braga há quatro anos.