Arquidiocese de Braga -
28 julho 2023
A capulana faz a mulher “merecida”!
O Conquistador
Fátima Castro, Equipa Missionária Salama!
A palavra “ekuwo” (capulana) é sinónimo de festa, alegria, pertença, identidade e celebração! Falar de capulana é falar da mulher. É falar de explosão de cores e padrões, de arte e de alta-costura! Mas porque é que este "simples" pedaço de pano é tão importante na cultura africana?!
A capulana chegou a este continente, entre os séculos IX e X, através das trocas comerciais entre os árabes e os povos que viviam na costa africana. Ao longo dos tempos o tecido foi evoluindo nas cores, texturas, padrões e na sua utilização! Do mesmo metro e meio de tecido, a mulher faz dele saia, lenço na cabeça (usando pedaços menores), “muthete” (usada como instrumento com o qual transportam a criança), lençol ou cobertor da cama, berço, toalha de banho ou de mesa, cortina, lençol de defunto, maca de doentes… Aprendi com as mamãs que a capulana é como os gatos: tem sete vidas. Quando estão gastas, ou "cansadas", como diz a mamã Rosalina, quando se rasgam ou são comidas por ratos, tornam-se pano de prato ou lenço da mão, e também partes delas são comumente usadas para fazer roupas para as crianças. Com a capulana, nada se perde. Tudo se transforma! Pois as capulanas são oferecidas, recebidas, guardadas, trocadas, emprestadas, acumuladas, entesouradas, perdidas… mas nunca deitadas fora.
A riqueza das mulheres macuas mede-se pelo número de capulanas que elas adquirem e preservam ao longo da vida. Vestir o conjunto completo com três peças de capulana − uma na cintura, uma na cabeça, e outra no ombro, dobrada, ou como nsunki (xaile) é muito elegante e sinal de fortuna; por outro lado, sair de casa sem lenço na cabeça, ou com um lenço que não combina com a capulana, é sinal de pobreza e simplicidade. Actualmente a capulana é também usada, como camisa, por muitos homens, sendo eles atualmente a grande aposta dos estilistas moçambicanos!
Na eucaristia de envio para as JMJ, as mamãs de Ocua ofereceram-me uma capulana, resultado do trabalho delas nas machambas e como sinal de agradecimento. "És nossa mãe, por isso também deves ter capulana uma igual à nossa" − disse-me a Mamã Marta, enquanto me ajudava a amarrar a capulana! Uma "kunha" (branca) a amarrar capulana é sempre motivo de espanto e de festa! “Agora sim, estás merecida… bem vestida!" − dizia-me, com um enorme sorriso no rosto, a mamã Matilde!
Enquanto se ouviram os alaridos das mamãs e os risos envergonhados dos papás, as crianças e os jovens batiam palmas!
Agora talvez entendam melhor a primeira frase deste texto. Por isso termino como comecei: a capulana é festa, alegria, pertença, identidade e celebração!
Artigo publicado no Jornal O Conquistador de 28 de julho de 2023.
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