Arquidiocese de Braga -

6 setembro 2022

O lamento do novo cardeal do Gana: “A roupa dos cardeais é muito cara”

Fotografia DR

DACS com NCR

D. Richard Kuuia Baawobr entende que a sua designação como cardeal é “um convite para servir”, como já fez noutras missões que a sua congregação lhe confiou.

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Com 63 anos feitos há pouco, o Bispo de Wa (Gana), Richard Kuuia Baawobr, membro da Sociedade das Missões Africanas, recentemente eleito presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SECAM) e, a partir de 27 de Agosto, novo Cardeal da Igreja Católica, tem um vasto currículo que o coloca como um dos líderes eclesiais do continente com maior projecção internacional.

Formado em Lovaina e Londres, o Cardeal Baawobr foi o primeiro superior geral africano da congregação daqueles que são conhecidos como Padres Brancos, criado por Charles Lavigerie como Arcebispo de Argel em 1868.

Não sabe se agora que Francisco, como a outros novos cardeais, chama para colaborar mais estreitamente com ele, terá que deixar Gana e a diocese de Wa, onde nasceu. Mas uma coisa que ficou clara para si desde que se tornou superior geral dos Padres Brancos é que “era uma altura em que estava convencido de que a missão não se limitava à África, mas também à Europa, América, Ásia, etc.”.

 

Bilhete de ida e volta... por enquanto

De momento, tem um bilhete de volta para depois do Consistório e da sessão de dois dias em que o Papa irá reflectir com todo o Colégio Cardinalício sobre a implementação da reforma da Cúria explicada na Praedicate Evangelium.

D. Richard Kuuia Baawobr entende que a sua designação como cardeal é “um convite para servir”, como já fez noutras missões que a sua congregação lhe confiou. Não lhe importa onde o serviço é realizado, porque deixa claro que pensa sempre “dois filhos de Zebedeu que estão a  disputar lugares, um à esquerda e outro à direita. Nesse momento, Jesus recorda-lhes que a sua grandeza está no serviço, que Ele veio para servir”.

“Assim, acredito que cada um de nós, onde quer que estejamos, é chamado a servir, e é isso que nos fará grandes, não o título”, como reconheceu há poucos dias em entrevista à ACI Africa.

Muito atento à pastoral caritativa e assistencialista num país com grandes deficiências, o novo cardeal promoveu uma pastoral diocesana de rua que envolveu voluntários paroquiais e profissionais de saúde para prestar cuidados e assistência médica a pessoas com deficiência mental que foram abandonadas pelas suas famílias, já que sofrem de forte estigmatização no país.

 

A perspectiva do frente a frente com a miséria

Nessa perspectiva que coloca o trabalho frente a frente com a miséria, há apenas uma coisa que parece incomodá-lo na sua nomeação como cardeal. O preço da roupa exclusiva que deve ser usada no dia 27 de Agosto na imponente Basílica de São Pedro.

Consiste em duas peças de vestuário, uma totalmente vermelha, com uma faixa de seda da mesma cor e outros acessórios, como um cordão vermelho entrelaçado com ouro para a cerimónia litúrgica; e outro hábito negro (embora no seu caso possa ser branco, vindo de um país muito quente) para actos não litúrgicos.

Roupas que, como reconhece este missionário, “são muito caras, porque têm de ser feitas por encomenda”. “Eles têm que nos medir; têm que costurá-las especialmente para nós. Então há custo do material e o custo da mão de obra. E o custo do trabalho na Europa é muito mais alto do que no Gana...”. É o único lamento causado pelo seu novo serviço.

Artigo de José Lorenzo, publicado em Religión Digital a 26 de Agosto de 2022.