Arquidiocese de Braga -

27 julho 2022

Estas são as três “bandeiras vermelhas” do abuso de poder na Igreja

Fotografia DR

DACS com Vida Nueva Digital

Teóloga Ianire Angulo analisou o problema na conferência “A Igreja diante de um mundo em mudança”.

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Para a teóloga Ianire Angulo, Escrava da Santíssima Eucaristia, o abuso de poder na Igreja é como um icebergue: vemos, nos média, aqueles casos que terminam em abuso sexual, mas é um problema de grandes dimensões.

Isto foi visto na comunicação “Sob a ponta do icebergue. Os abusos de poder na Igreja”, que pronunciou na conferência “A Igreja diante de um mundo em mudança”, realizada no Centro Universitário Real María Cristina San Lorenzo em El Escorial (Madrid), onde apontou as “bandeiras vermelhas” dos abusos de poder na Igreja.

“O abuso de poder configura grande parte daquela massa de água congelada que não é evidente e que raramente aparecerá nos jornais”, disse Angulo. “Claro que tomamos consciência da sua presença e das suas dimensões a partir daquela ponta que pode ser vista. Graças à denúncia de crimes sexuais perpetrados no âmbito eclesial e à reflexão que provocaram, foi possível aprofundar e reconhecer o que está por trás deles”.

Assim, enquanto o “Evangelho, a reflexão teológica e o propósito de nos situarmos na existência à maneira de Jesus Cristo impelem-nos a querer viver o poder a partir da sua dimensão mais positiva, como possibilidade de gerar vida ao nosso redor e como mediação para o desenvolvimento humano e crente dos que nos rodeiam”, esse discurso “não nega a existência de abusos de poder na esfera eclesial, ainda que seja impossível conhecer a sua real magnitude”.

Desta forma, Angulo apontou que “raramente temos consciência de como, sem se tornar um transtorno de personalidade, existem muitas pessoas socialmente adaptadas cuja dinâmica de relacionamento facilmente degenera em abuso”. Na verdade, “há muitos tipos de personalidade que tendem ao controlo que pode ser abusivo”.

De facto, “o abusador pode não estar ciente da sua conduta”, pois “o discurso aprendido, os padrões de comportamento normalizados e um conhecimento limitado da sua própria dinâmica psicológica podem causar uma inconsciência no agressor que não o isenta de responsabilidade”. Da mesma forma, “a ambiguidade das situações e a confusão entre os afectados multiplica exponencialmente o problema quando se trata de discernir situações de abuso de poder e, portanto, de lidar com elas”.

 

As “bandeiras vermelhas” do abuso de poder

Por todas estas razões, “sair da confusão de que temos falado exige reconhecer certos sinais de alarme que nos alertam para um possível uso abusivo do poder”, pois “a experiência de mergulhar em qualquer tipo de prática abusiva mostra-nos que existe uma série de características estruturais que propiciam esses comportamentos”.

 

1. Certa compreensão elitista do próprio grupo. “Essa percepção confere um certo sentimento de elite eclesial contra aqueles que não pertencem à organização ou à própria comunidade”.

2. Como a liderança é gerida. “Quando há um único referente que, além disso, ocupa uma posição centralna comunidade, é muito fácil degenerar num culto da pessoa e, a partir daí, em manipulação emocional da pessoa sobre os seus seguidores”. Por esta razão, “temos de agitar uma bandeira vermelha de alerta quando se recorre permanentemente ao papel eclesial para exigir obediência e subordinação”.

3. Ausência de espaço para discernimento conjunto, dúvida, diálogo sincero ou opiniões contrárias. “Temos que levantar a voz de alarme quando qualquer tipo de posição que não a de quem detém o poder é catalogada, sem mais delongas, como rebelião”.

Em consonância com as características dos grupos humanos em que se geram mais situações de abuso, para Angulo “tudo o que envolve derrubar muros de separação e construir pontes de diálogo e aprendizagem mútua tornar-se-á um sistema eficaz de prevenção de práticas abusivas”. Assim, “a valorização e o reconhecimento do outro na sua dignidade e como interlocutor válido irá dispor-nos a escutar e acolher vozes díspares, deixando-nos enriquecer e interpelar pelos outros”.

 

Artigo de Elena Magariños, publicado em Vida Nueva Digital a 26 de Julho de 2022.