Arquidiocese de Braga -
26 julho 2022
Cardeal do Sri Lanka Ranjith critica governo interino
DACS com La Croix International
Ranil Wickremesinghe, escolhido a dedo pelos legisladores para substituir um presidente eleito que fugiu do Sri Lanka no meio de protestos em massa, ordenou que as forças armadas reprimissem os manifestantes.
O cardeal do Sri Lanka Malcolm Ranjith condenou o recente ataque a manifestantes antigovernamentais, enquanto a nação do sul da Ásia, carente de dinheiro, está a esforçar-se para obter um fundo de resgate sob o novo presidente Ranil Wickremesinghe.
“Condeno completamente esta acção arrogante do presidente”, disse o cardeal Ranjith, arcebispo de Colombo. “Ele [o presidente] agiu contra o direito básico do povo de protestar”, continuou.
O cardeal Ranjith disse que Wickremesinghe está a tentar “ditar termos... e a opressão é inaceitável”.
“Isto é muito triste”, disse o cardeal “porque o presidente tornou-se presidente apenas pelo voto dos parlamentares” e exigiu uma investigação sobre o ataque aos manifestantes.
Armada com espingardas automáticas, a task-force especial a 22 de Julho acusou manifestantes que estavam a bloquear a Secretaria Presidencial em Colombo.
Os manifestantes ergueram tendas do lado de fora do prédio, que também foram atacadas por soldados por ordem do novo presidente do país.
A Amnistia Internacional condenou o uso da força. A Human Rights Watch disse que mais de 50 pessoas ficaram feridas na repressão e pediu às autoridades que processassem os responsáveis pela violência.
A União Europeia disse que a liberdade de expressão é a chave para o Sri Lanka enquanto a nação em apuros está a transitar do seu caos.
“Não é altura de reprimir os cidadãos”, tweetou a embaixadora dos EUA, Julie Chung. Wickremesinghe foi escolhido a dedo pelos legisladores para substituir Gotabaya Rajapksa, o presidente eleito que fugiu do Sri Lanka no meio de protestos em massa e da invasão do palácio presidencial em Colombo devido à crise económica do país.
“Responsabilizamos o presidente”
Wickremesinghe, um importante aliado de Rajapksa, declarou o estado de emergência e ordenou aos militares que fizessem “o que fosse necessário para restaurar a ordem”, enquanto manifestantes ocupavam prédios estatais exigindo que o presidente também renunciasse e permitisse novas eleições.
Os manifestantes também acusam Wickremesinghe de proteger Gotabaya Rajapksa e o seu irmão Mahinda Rajapksa, que já tinha servido como primeiro-ministro do país e que renunciou em Maio.
Wickremesinghe empossou um novo gabinete, em grande parte reinstalando os ministros de Rajapksa.
“Responsabilizamos o presidente”, advertiu o cardeal Ranjith, “por qualquer desastre futuro que possa acontecer como resultado das suas acções”.
Devido à grave crise económica que deixou o país falido, os cidadãos tiveram que enfrentar longos apagões de energia e uma inflação recorde, enfrentando severa escassez de alimentos, combustível e remédios.
Os protestos começaram em Colombo em Abril e espalharam-se pelo país quando a inflação subiu para mais de 50% e o governo teve que lutar para administrar serviços essenciais como autocarros, comboios e veículos médicos por falta de moeda estrangeira suficiente para importar petróleo e gasóleo.
O Papa Francisco também implorou às autoridades que ouvissem os gritos do seu povo. No Angelus de Domingo, 17 de Julho, apelou a todas as partes “para procurarem uma solução pacífica para a crise actual, especialmente a favor dos mais pobres, respeitando os direitos de todos”.
Wickremesinghe está à procura de ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) para garantir um fundo de resgate de 3 biliões de dólares para o país endividado e dependente de importações.
As negociações, que começaram a 20 de Junho, estão a avançar lentamente, pois o FMI insiste em “garantias de financiamento adequadas dos credores do Sri Lanka”.
O Sri Lanka deve mais de 51 biliões de dólares a credores estrangeiros, incluindo 6,5 biliões à China. O Banco Mundial concordou em emprestar ao Sri Lanka 600 milhões, e a vizinha Índia ofereceu pelo menos 1,9 biliões.
Artigo do La Croix International, publicado a 25 de Julho de 2022.
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