Arquidiocese de Braga -

25 julho 2022

Cuidar dos vínculos

Fotografia DR

DACS com Omnes

Hoje, mais do que nunca, é importante cuidar dos nossos laços pessoais, principalmente os familiares e de amizade. Cultivá-los como aquela planta que mais apreciamos. O Verão coloca-nos à frente de uma época privilegiada para o fazermos.

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Hoje, muitos pensam que somos mais livres – e mais felizes – na medida em que nos mantemos livres de vínculos. Que os laços com os outros são laços que limitam e, a longo prazo, aprisionam. Não é por acaso que pensamos assim.

O liberalismo predominante no Ocidente tem-nos apresentado a estilos de vida cada vez mais individualistas e autorreferenciais.

As relações pessoais, desse ponto de vista, tornam-se um instrumento para atingir os nossos fins, ou um fardo que nos impede de fazer o que queremos. Assim, gera-se o que Bauman descreveu como a “condição líquida” das novas gerações: indivíduos “soltos”, sem raízes no passado, com identidade volátil e pouca projecção para o futuro.

Essa pobreza de laços leva à solidão. É por isso que os recém-criados “ministérios da solidão” não são ocorrências dos governos originais, mas sim uma tentativa de responder a um problema cada vez mais generalizado.

Os vínculos são para unir, não para amarrar. As relações humanas são em si uma riqueza, porque nos permitem sair de nós mesmos e receber dos outros. Se isso acontecer num contexto de amor incondicional, como a família, o bem é incalculável. É por isso que o maior tesouro de cada pessoa deve ser “os seus”.

A neuropsiquiatra italiana Mariolina Ceriotti, que já citei noutras ocasiões, diz que o problema não são os vínculos, mas sim a falta de equilíbrio adequado entre eles. Para que uma relação funcione, é muito importante ocupar uma posição adequada na família, respeitar os limites de cada um e manter a distância ideal na relação com as outras pessoas. Muitas vezes, muitas crises pessoais e familiares estão relacionadas com o fracasso de um desses aspectos.

Hoje, mais do que nunca, é importante cuidar dos nossos laços pessoais, principalmente os familiares e de amizade. Cultivá-los como aquela planta que mais apreciamos. O Verão coloca-nos à frente de uma época privilegiada para o fazermos.

O tempo de partilha põe à prova o necessário equilíbrio de laços: pode ser um momento de separação. ou um momento de maior união.

A minha proposta não pode ser outra: deveria ser tempo de assumir que as relações familiares são uma prioridade; um momento para aproveitar o espaço partilhado para nos conhecermos melhor; fazer com que aqueles à nossa volta se sintam especiais; partilhar tarefas e responsabilidades; incentivar o entretenimento criativo e limitar o meramente passivo.

Em suma, desfrutar da vida em família pelo que ela é: um verdadeiro presente para todos.

 

Artigo de Montserrat Gas Aixendri, publicado em Omnes a 22 de Julho de 2022.