Arquidiocese de Braga -
19 julho 2022
“Traditionis custodes”: um ano depois, a “aceleração” do Papa Francisco na liturgia
DACS com La Croix
Desde a publicação do motu proprio “Traditionis custodes”, em Julho de 2021, o Papa Francisco multiplicou as iniciativas relacionadas com a liturgia. No Vaticano, os funcionários são marcados pelos testemunhos de bispos que vieram relatar relações muito d
Uma aceleração. Esta é a palavra usada por alguns colaboradores do Papa quando se lembram do ano que acaba de passar. Desde o Verão passado, Francisco, que não retomou o seu ritmo de viagem pré-pandemia, multiplicou os motu proprio, nomeações simbólicas e rescritos. Também divulgou a tão esperada nova constituição sobre a Cúria em Março. E tem investido num campo até então relativamente negligenciado: a liturgia.
Em Julho passado, a publicação do motu proprio “Traditionis custodes”, que restringe fortemente a possibilidade de celebrar a missa segundo o rito antes do Concílio Vaticano II, é de facto apenas a primeira de uma série de iniciativas tomadas sobre o tema.
“Ele não estava tão preocupado com este assunto no início do seu pontificado”, observa um dos seus colaboradores. “Não era sua prioridade. Durante um ano, isso mudou, parece muito mais preocupado”.
O assunto tem aparecido com frequência nos seus discursos nos últimos meses. Como neste 9 de Junho, quando o Papa, diante dos bispos da Sicília, troçou dos ornamentos de renda usados por certos padres. “Queridos amigos, há sempre rendas, barretes… Mas onde estamos? Sessenta anos depois do Concílio!”, apontou.
Há já vários meses que Francisco está convencido de que a liturgia tem sido usada por alguns como um “instrumento de contestação do Concílio”, como explica um alto responsável romano. “O objectivo do Summorum pontificum, publicado por Bento XVI, era restaurar a unidade”, diz alguém no Vaticano. “Mas foi um fracasso porque aconteceu exactamente o oposto”.
Uma comissão interna do Vaticano posta em causa
Para os responsáveis do Vaticano, a evidência dessa instrumentalização é encontrada primeiro dentro dos muros do menor estado do mundo. Aos seus olhos, os responsáveis pela situação são em parte os membros da comissão “Ecclesia Dei”, encarregada de administrar as relações de Roma com o mundo tradicionalista, e definitivamente dissolvida por Francisco em Julho passado.
“Eles promoveram a forma extraordinária em vez de apenas administrar a existente”, critica-se em Roma. “Saíram totalmente do seu papel e isso causou grandes problemas”. Essa acusação já tinha aparecido numa carta enviada pelo Papa, em Janeiro, aos Dominicanos do Espírito Santo, um instituto tradicionalista francês.
O Papa Francisco, no entanto, mostrou-se disposto nos últimos meses a conceder excepções, caso a caso. Pelo menos fê-lo com a Fraternité Saint-Pierre, que autorizou a não seguir o motu proprio de Julho.
“Em todo o caso, não se trata de ter a liturgia como espectáculo, como teatro. Trata-se de um encontro com Deus, e não algo a que assistiríamos passivamente”, explica esta fonte do Vaticano.
Mas o Vaticano também ficou impressionado com o testemunho de bispos, que vieram a Roma para relatar relações muito difíceis com certas comunidades tradicionalistas. E o Papa Francisco tem lembranças vívidas das entrevistas privadas que teve com alguns deles.
“Conseguem perceber que alguns receberam ameaças por causa da missa?”, pergunta um alto prelado. “É uma loucura. E a prova de que existe um problema real para resolver!”.
Foi para resolver este “verdadeiro problema” que o Papa Francisco publicou a 29 de Junho uma carta apostólica sobre a liturgia, intitulada Desiderio desideravi, na qual insiste em particular na formação dos sacerdotes na celebração da missa. O assunto vai muito além da liturgia pré-conciliar, mas estabelece claramente um vínculo entre o apego à antiga forma e a oposição ao Concílio. Uma posição que o Papa parece determinado a manter.
Artigo de Loup Besmond de Senneville, publicado no La Croix a 16 de Julho de 2022.
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