Arquidiocese de Braga -
18 julho 2022
Peregrinação a Lemenhe, Senhora do Carmo
Homilia de D. Nuno Almeida, Bispo Auxiliar de Braga.
Caros irmãos, caras irmãs!
1. Provenientes das paróquias deste grande arciprestado de Vila Nova de Famalicão,viemos como peregrinos a este santuário de Nossa Senhora do Carmo. Saboreamos o acolhimento materno e amoroso de Nossa Senhora, num domingo em que a hospitalidade está no centro da Palavra de Deus proclamada. Hospitalidade que não é somente receber alguém em casa, mas sobretudo no coração!
Na primeira leitura, do Livro do Génesis, reparemos na simplicidade, prontidão e candura de Abraão. Abraão corre, apressa-se, esmera-se em bem receber e servir!
Abraão apresenta-se como o modelo do homem que está atento a quem passa, que partilha tudo o que tem com o irmão que se atravessa no seu caminho e que Deus recompensa, pois nunca se deixa vencer em generosidade.
2. Estando a caminho de Jerusalém, onde em breve deveria dar cumprimento à sua missão, Jesus para numa aldeia, em casa de Marta e de Maria. O evangelista Lucas descreve do seguinte modo o acolhimento dado a Jesus por parte das duas irmãs: Marta, desempenhando o tradicional papel de dona de casa, «andava atarefada com muitos serviços» exigidos pela hospitalidade, enquanto Maria, «sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra» (v. 39). À atenção de Maria contrapõe-se a agitação de Marta. Por isso, perante as suas queixas por ter sido deixada sozinha a servir, Jesus responde: «Marta, Marta, andas inquieta e perturbada com muitas coisas, mas uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada» (vv. 41-42).
O diálogo entre Jesus e Marta descreve bem a sua relação de amizade, que permite até que ela se lamente com o Mestre. Mas qual é o serviço que Jesus deseja? Para Ele, é importante que Marta não esteja agitada, que deixe o papel tradicional atribuído às mulheres e se coloque também ela à escuta da Sua Palavra. Como Maria, que assume um papel novo, o de discípula.
Antes de mais, deixemo-nos surpreender e encantar com Jesus Cristo, que se faz próximo com simplicidade e assim nos revela um Deus de risos e lágrimas. Acredito que, naquela casa de Betânia, Jesus reencontrava a familiaridade, a amizade, a tranquilidade e a intimidade da sua pequena Nazaré. Como temos vontade de repetir: Jesus Cristo verdadeiro Deus e verdadeiro homem!
3. Reparemos também que esta passagem se encontra entre a parábola do bom samaritano – talvez a página mais sublime no que se refere à caridade para com o próximo, verdadeiro património da humanidade e de humanidade – e aquela em que Jesus ensina os seus discípulos a rezar – sem dúvida a página mais sublime sobre o relacionamento com Deus-Pai, ao ensinar-nos o Pai Nosso! Indica assim o equilíbrio necessário entre o amor a Deus e o amor aos irmãos, entre a oração e ação, ou a contemplação e o serviço.
Jesus não aprecia apenas a escuta de Maria, nem despreza o ativismo de Marta, pois “em Marta há uma preocupação que nasce de uma necessidade; enquanto em Maria há uma doçura que nasce do amor” (S. Agostinho).
Não há verdadeiro amor a Deus ou oração que não se traduza em gestos concretos. A verdadeira oração, se queremos também nós ser discípulos de Jesus Cristo, hóspede e peregrino no meio de nós, implica que cumpramos aquela ordem colocada, antigamente, nas passagens de nível: “para, escuta e olha!” Ou seja, a oração ao jeito de Jesus Cristo terá de ser feita de olhos abertos, de mãos disponíveis e sapatos calçados, pois é oração que nos filializa, fraterniza e humaniza, avivando em nós a consciência de filhos amados de Deus, irmãos de todos e cidadãos atentos e responsáveis.
4. Com Maria, Mãe de Jesus, que hoje e aqui invocamos como Nossa Senhora do Carmo, aprendemos a olhar para o alto e para o lado, pois ela soube permanecer na mais alta contemplação e caminhar ao lado de cada um. Após a Anunciação, pôs-se apressadamente a caminho. Ela ensina-nos que na nossa vida cristã, a oração e a ação têm de permanecer sempre profundamente unidas.
Rezo muitas vezes o terço, junto à sede da Proteção Civil de Braga, que está sediada em espaços da Arquidiocese, bem junto à casa onde moramos. Particularmente nestes dias tão difíceis, na minha oração estão presentes os Bombeiros e todos os que estão em ação nas situações de emergência e da Proteção civil. É justo que lhes manifestemos toda a nossa gratidão, apreço e apoio.
Estamos, num momento particularmente difícil, por isso mais unidos a todos os que combatem os incêndios: Bombeiros, forças de segurança, militares, populares. Recordamos com muito pesar o piloto, André Rafael Serra, falecido esta semana em pleno combate aos incêndios, confiando-o ao amor de Deus e pedindo a Nossa Senhora do Carmo que auxilie a sua família em hora tão dolorosa!
Mas a oração tem de levar-nos a gestos de responsabilidade. Aqui resumo os apelos da campanha “Portugal Chama”: Evitar comportamentos de risco tais como queimadas, ou fogueiras. Nos dias quentes e ventosos, não usar máquinas agrícolas e florestais; não fumar nas florestas; não lançar foguetes. Ter sempre à mão um telemóvel e em caso de deflagração de incêndio ligar para o 112.
5. Maria, Senhora do Carmo, é proclamada bem-aventurada, feliz, porque acreditou! A sua fé é forjada na mais alta e perfeita contemplação e no serviço mais concreto, atento e humilde. Ela oferece-nos a chave da santidade, o seu segredo: vivermos centrados na Vontade de Deus e no amor ao próximo, nunca em nós mesmos!
Aprendamos de Maria a ter uma atitude contemplativa feita de atenção e de escuta e consequentemente de ação quer diante do mistério divino, quer perante as simples realidades da vida de cada dia.
Maria escuta, decide e atua! Aprendamos de Maria a fé segura (“Eis a serva do Senhor”); a esperança confiante em Deus (“nada é impossível a Deus”); a caridade missionária (Maria pôs-se a caminho apressadamente”).
Poderá ser um bom e feliz compromisso, neste tempo de verão de férias para uns e de muito trabalho para outros: para, escuta, olha, reza e multiplica gestos de amor!
5.Há uma bonita invocação da tradição cristã, que podemos recitar antes de cada atividade e que nos pode ajudar a rezar bem, para fazer melhor. Reza assim (cf. Missal, p. 171, Oração coleta, 5.-ª feira depois das Cinzas):“Fazei, Senhor, que a vossa graça inspire sempre as nossas obras e as sustente até ao fim, para que toda a nossa atividade por Vós comece e em Vós acabe”.
Nossa Senhora do Carmo,
Nossa Irmã, nossa Mãe, Nossa Rainha,
Neste tempo de pandemia,
Fortalece a nossa esperança.
Nós te confiamos todos os que são mais afetados, direta ou indiretamente.
Confiamos-te todos aqueles que, de muitos modos, cuidam dos doentes e da sociedade em geral.
Nossa Senhora do Carmo,
Fortalece a esperança de todos os que, neste tempo marcado pela guerra na Ucrânia e por tantos conflitos e violência,
vivem esmagados pela força destruidora das armas, pela opressão e pela injustiça.
A ti, que também foste forçada a deixar a tua terra, confiamos também todos os refugiados.
Nossa Senhora do Carmo,
Tu que só fazias a vontade do Pai
E estavas sempre atenta às necessidades dos outros,
intercede por todos os que são vítimas do flagelo dos incêndios,
ajuda os nossos Bombeiros e os que trabalham na Proteção Civil
que sintam sempre a Tua proteção e a solidariedade de todos.
Nossa Senhora do Carmo,
Fortalece a nossa esperança.
Concede à Igreja o dom da unidade e da paz.
Alcança-nos a graça de sermos “Igreja em saída”
Que sabe multiplicar os gestos de amor
levando a todos a esperança, a luz e a salvação de Jesus, teu filho,
hóspede e peregrino nos caminhos da vida.
Nossa Senhora do Carmo, Rogai por nós!
D. Nuno Almeida,
Bispo Auxiliar de Braga
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