Arquidiocese de Braga -

6 julho 2022

Luis Gerardo Moro Madrid: “Precisamos de mudar a nossa cultura de violência”

Fotografia DR

DACS com Vida Nueva Digital

Provincial da Companhia de Jesus no México clama pela paz depois de enterrar os dois padres assassinados em Sierra Tarahumara.

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Em entrevista ao Vida Nueva Digital, Luis Gerardo Moro Madrid, SJ, provincial da Companhia de Jesus no México, fala sobre a violência no país e o processo para alcançar a paz na região, no qual, diz ele, estão dispostos a colaborar.

 

Após o assassínio dos padres Javier Campos e Joaquín Mora, o Governo mobilizou-se para recuperar os corpos. Essa acção foi suficiente para atender aos pedidos da Companhia de Jesus?

Sim, os três níveis de governo apoiaram a recuperação dos corpos: municipal, estatal e federal, mas realmente não é suficiente. A realidade da violência não será resolvida apenas capturando os líderes dos grupos criminosos. Precisamos de mudar a nossa cultura de violência, por uma de reconciliação e amor, como nos ensinou o Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Não podemos e não queremos estar satisfeitos agora. Se em 72 horas os corpos de duas pessoas foram recuperados e as investigações avançaram, por que não fazer isso com tantos casos impunes? Imploro a Deus que não nos esqueçamos, que nos dê a graça da memória histórica. Não podemos mais esquecer que no México chegamos a 100 mil pessoas desaparecidas entre 1964-2022. Até agora temos 122 mil homicídios. Que existe um maior controlo territorial por parte do crime organizado. E todos nós sabemos disso.

 

Há vontade do governo em dialogar com a Companhia de Jesus, para que, com a experiência jesuíta, possam ser aplicados programas cuja utilidade comprovadamente dê segurança à população e aos poucos restabeleça a paz no país?

A Companhia de Jesus mantém o diálogo com o governo estatal e federal. Mesmo no discurso da missa com os corpos dos nossos irmãos jesuítas fiz um apelo à paz que inclua todos os níveis de governo. Rezamos para que as causas estruturais da violência sejam revistas e sejam abertos espaços para que aqueles que sofrem com ela, ou seja, os mais pobres do país, possam desfrutar de liberdade e paz nas diferentes comunidades onde sofrem de forma exacerbada essa violência.

 

Qual seria o seu apelo ao povo católico mexicano que actualmente vive “coragem” perante o homicídio de dois padres muito queridos?

Pela fé em Cristo Ressuscitado acreditamos que a vida não termina com a morte; que o sangue dos mártires é uma semente de esperança, como confirmamos pelos testemunhos de tantas pessoas nestes dias. Os nossos irmãos deram as suas vidas, não só até ao fim, mas diariamente, sempre atentos e a servir as outras pessoas.

 

Artigo de Miroslava López, publicado em Vida Nueva Digital a 6 de Julho de 2022.