Arquidiocese de Braga -

6 julho 2022

A Igreja precisa de sacerdotes, mas para quê?

Fotografia DR

DACS com La Croix International

Concentrarmo-nos nos números talvez seja o ponto de partida errado.

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Acabamos de virar a página no mês de Junho, tradicionalmente a época das ordenações sacerdotais em muitas partes do mundo católico.

Segundo dados da conferência nacional dos bispos, a Igreja em França ordenou 122 novos sacerdotes neste Verão – 77 diocesanos e 45 de congregações religiosas.

Podemos passar muito tempo a discutir estes números.

Os católicos mais ou menos resignados lamentarão o declínio das vocações. Outros verão os números como uma razão para abolir o celibato obrigatório ou ordenar mulheres.

E outros ainda exortarão os bispos a seguir o exemplo das dioceses ou comunidades que estão a atrair vocações.

O que essas três atitudes aparentemente diferentes têm em comum é que se concentram em números – números que devem ser aumentados de uma forma ou de outra. Mas talvez esta seja a forma errada de olhar para o problema.

Para colocar as coisas de forma provocadora, não “precisamos” de sacerdotes que estarão disponíveis para todos para prestar vários serviços espirituais. Devemos colocar-nos noutro nível.

O sacerdote é antes de tudo um sinal da solicitude de Deus pelo seu povo. O sacerdote é um dom que Deus dá à sua Igreja para guiá-la e ajudar cada um dos seus membros a avançar no caminho da santidade, através da escuta da Palavra de Deus, da vida sacramental, do serviço fraterno, etc.

Mas estamos conscientes de que Deusnos quer tornar um povo santo, um povo de santos?

A crise vocacional talvez seja sobretudo uma crise do desejo de santidade, questão que aparentemente está ausente do feedback da consulta sinodal.

É um desejo de viver cada vez mais na graça com que Deus nos enche e que nos transforma interiormente, a ponto de nos fazer novos seres.

De que nos servem os sacerdotes se não desejamos ser santificados?

E como podemos desejar ser santos se já não há quem nos recorde, através de uma opção de vida totalmente dedicada à edificação da Igreja, que Deus chama cada um de nós à santidade (cf. Lv 19,2) e nos sustenta neste caminho pela sua graça?

É por isso que precisamos de sacerdotes. Mas não de qualquer padre, especialmente depois de revelações de vários tipos de abusos cometidos pelo clero.

Precisamos de sacerdotes que não se encham de orgulho, mas que se dediquem totalmente à santificação daqueles que lhes foram confiados.

Daí o papel fundamental das comunidades cristãs no discernimento das vocações.

Artigo de Dominique Greiner, publicado no La Croix International a 1 de Julho de 2022.