Arquidiocese de Braga -

27 junho 2022

Para onde, a seguir?

Fotografia

DACS com La Croix International

Talvez uma das consequências da longa pandemia de COVID-19 seja fazer-nos reexaminar muito daquilo que tínhamos como certo.

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Devagar, imperceptivelmente, vamos deixando os dias de Covid para trás e uma nova realidade está a nascer.

Passaram-se semanas e meses sem a Eucaristia e agora estamos a despertar para um novo amanhecer. Muito mudou.

O padrão familiar de ministros eucarísticos a aguardarem para oferecer a cada um de nós o cálice na altura da Comunhão parece uma memória distante quando voltamos às práticas anteriores e recebemos de uma única forma, com o cálice reservado apenas para o sacerdote-presidente.

Talvez seja a altura de fazer algumas perguntas à luz das formas alteradas, perguntas que desafiam a nossa própria percepção do que estamos a fazer e porque estamos a fazê-lo.

 

Dividir o cálice

Foi-nos dito para partilharmos um cálice, uns com os outros. Essa prática ia directamente contra os costumes sociais do tempo de Jesus e também do nosso tempo.

Um grupo de amigos entrar num café e pedir uma chávena de café para partilhar não seria aceitável. Da mesma forma, partilhar uma garrafa de vinho ao jantar exige copos individuais em vez de um copo comum passado de uns para os outros à volta da mesa.

No entanto, essa instrução contracultural está no centro da nossa crença eucarística. “Está preparado para partilhar este cálice comigo?”.

Partilhar um copo implica passar o copo de pessoa para pessoa com todas as dificuldades envolvidas. Por esta razão, a natureza do copo ou cálice é inadequada para o propósito que actualmente lhes atribuímos.

Um recipiente com duas pegas ou “asas” seria mais adequado, como o Ardagh Hoard que um grupo de rapazes descobriu na Irlanda em meados do século XIX. Um cálice precisa de ser pensado para ser partilhado a fim de cumprir o propósito comum indicado na instrução que Jesus nos deu.

Thomas O'Loughlin, um colaborador frequente e popular do La Croix International, tem algumas boas reflexões sobre isto.

 

Perguntas incómodas não desaparecem simplesmente por serem ignoradas ou banalizadas

Muita coisa mudou desde o primeiro confinamento do coronavírus. Só voltar à Missa sem alguma reflexão não é uma opção realista. Espera-se que a retoma de um cálice partilhado não seja adiada por muito tempo.

Quando a poeira assentar, descobriremos que o cenário que nos cerca foi de facto alterado.

Talvez uma das consequências da longa pandemia de COVID-19 seja fazer-nos reexaminar muito do que tínhamos como certo. A segurança a que nos acostumamos continua a ser desafiada à medida que damos os próximos passos na nossa peregrinação pessoal de fé.

Com a mudança vem o desafio, o desconforto da alteração e o afastamento daquilo que é familiar com todas as acomodações necessárias que devem ser feitas. Perguntas incómodas não desaparecem simplesmente por serem ignoradas ou banalizadas.

Lembre-se das palavras de uma das canções de Pete Seeger da década de 1960: “Para onde foram todas as flores, há muito tempo, para onde foram todas as flores, há tanto tempo?”.

Eu sugeriria que, com a limpeza do terreno, um tempo de replantação está mesmo aqui, um tempo para questionar destemidamente as raízes da nossa fé enquanto varremos o solo solto em preparação para que novos brotos verdes frutifiquem.

 

Artigo de Chris McDonnell, publicado no La Croix International a 25 de Junho de 2022.