Arquidiocese de Braga -

20 maio 2022

Bernard Ardura: “Charles de Foucauld é o paradigma da Fratelli tutti”

Fotografia Darío Menor

DACS com Vida Nueva Digital

Postulador da canonização pensa que o Santo poderia ser “o patrono dos que têm um segundo começo na fé”.

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Charles de Foucauld poderia ser “o patrono daqueles que têm um segundo começo na fé”. Quem conhece bem a sua carreira pensa assim: Bernard Ardura, presidente da Pontifícia Comissão para as Ciências Históricas e postulador da sua causa de canonização.

 

O que é que o novo santo traz para a Igreja hoje em dia?

A experiência de Charles de Foucauld é sempre actual, a partir da sua conversão. Embora tenha sido criado como cristão, a sua fé de criança não cresceu com ele quando chegou à adolescência, então não respondeu mais às suas perguntas. Pouco a pouco, afastou-se dela, pois não era mais um ponto de referência na sua vida. É algo que acontece com muitas pessoas que, como aconteceu com Charles de Foucauld, depois de alguns anos sem prática religiosa e sem oração pessoal, redescobrem essa dimensão fundamental da vida. Assim, redescobrem o que significa acreditar em Deus, uma realidade que inspira a vida. Ser cristão é, pelo menos, tentar ser coerente entre a fé que se professa e a própria vida. Charles de Foucauld poderia ser o patrono daqueles que têm um segundo começo na fé.

 

Qual é o milagre que impulsionou a sua canonização?

É um milagre inusitado e faz parte daqueles 10% em que não se trata de curas. Em italiano é conhecido como scampato pericolo (perigo evitado). Neste caso, ocorreu a 1 de Dezembro de 2016, centenário da sua morte. Na cidade francesa de Saumur, onde morou por dois anos quando frequentou a escola militar, há um grande colégio católico onde naquele dia estavam a ser realizados trabalhos de restauração no tecto da capela. Um trabalhador estava a trabalhar com o seu aprendiz, chamado Charles. Quando o pedreiro pediu que lhe passasse uma ferramenta, o jovem caminhou imprudentemente pela cúpula, que se rompeu, caindo no vazio de uma altura de 15,79 metros. Quando atingiu o solo, atingiu um banco de madeira a cerca de 60 quilómetros por hora. São dados científicos. Com o impacto, uma das partes do banco perfurou o seu corpo. O pedreiro que estava no telhado viu o que tinha acontecido e foi pedir ajuda. Incrivelmente, uma semana depois e após passar por uma cirurgia, o jovem deixou o hospital sem nenhum membro partido ou nenhum órgão vital ferido. Isto aconteceu na tarde de 30 de Novembro de 2016, na véspera do centenário da morte de Carlos de Foucauld.

 

Aconteceu na cidade onde viveu…

Isso mesmo, e onde estavam a rezar pela sua canonização. Ao longo daquele ano, os mais de 20 grupos, institutos religiosos e associações ligadas à família espiritual de Charles de Foucauld rezaram pela sua canonização. E naquele dia isso estava a ser especialmente realizado. Além disso, o construtor encarregado da obra, ao saber do acidente, pediu aos amigos e membros da paróquia que pedissem a Charles de Foucauld a salvação do aprendiz. Os médicos examinaram o que aconteceu e afirmam que não pode ser explicado cientificamente que depois daquela queda não tenha partido membros ou órgãos vitais danificados. É por isso que se reconheceu que é um milagre de Deus por intercessão do Beato Charles de Foucauld.

 

O que é que os católicos podem aprender hoje com o seu exemplo?

Quando vivia no deserto do Saara, alimentava a sua fé em duas fontes: a Eucaristia e a Sagrada Escritura. Dedicou muito tempo à meditação da Palavra de Deus e à adoração do Santíssimo Sacramento. São as duas fontes da vida cristã. Aprendemos porque ele mesmo se definiu como missionário, embora não tenha baptizado praticamente ninguém. Foi missionário não com a pregação, mas com o testemunho da caridade. A fé cristã não é imposta, mas alcançada pela atracção. Graças a ele, os muçulmanos aprenderam o que é um cristão. Nada substitui esse testemunho. Anos mais tarde, Paulo VI já se lembraria na sua exortação apostólica Evangelii nuntiandi que o mundo precisa de testemunhas, não de mestres. E também disse que a tragédia do nosso tempo é a separação entre o Evangelho e a cultura, um problema que continuamos a ver até hoje.

Entrevista de Darío Menor, publicada em Vida Nueva Digital a 20 de Maio de 2022. Entrevista completa disponível apenas para assinantes do VND.