Arquidiocese de Braga -

17 maio 2022

Artistas ucranianos partilham visões da invasão russa em exposição em Roma

Fotografia Ines San Martin/Crux.

DACS com Crux

Uma exposição com o trabalho de três pintores ucranianos foi inaugurada em Roma neste Sábado, com o apoio da embaixada da Ucrânia no Vaticano e da Igreja Greco-Católica Ucraniana.

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O artista Volodymyr Stasenko apresentou uma série intitulada “Agnus Dei, qui tollis peccata mundi: miserere nobis!”, retratando imagens da guerra em preto sobre tecido branco, com as palavras usadas pelos padres católicos durante a missa: “Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo, tem piedade de nós”, em negrito vermelho.

Ostap Kovalchuk apresentou pinturas da sua série “Imagens queimadas pela guerra”, pintadas em pedaços de madeira que recuperou depois de os russos bombardearem os arredores de Kiev, onde morava antes da guerra, e onde se escondeu num bunker subterrâneo com a sua esposa e o seu filho.

Diante de uma tela de madeira que retrata a Sagrada Família a fugir para o Egipto, o artista disse que, ao pintá-la, também retratava a sua própria família: “Nós também tivemos que fugir da violência, da perseguição... deixar tudo para trás por causa de um louco”.

À esquerda e à direita da pintura, havia outras duas a representarem um helicóptero e um avião de guerra, ambos em preto, com pequenos toques de cor.

“Para mim, isto é pessoal: esta é minha esposa, as minhas filhas e eu; estamos a fugir daquele avião, daquele helicóptero, do fumo negro que as bombas deixaram para trás”, disse Kovalchuk, com a ajuda de um tradutor.

Embora aparentemente simples, desprovido de detalhes e cores – devido em parte ao facto de ter deixado a maior parte do seu trabalho e pintura para trás quando fugiram das suas casas após o início da invasão a 24 de Fevereiro – reconheceu que precisaram de muito esforço: “Não foi fácil para mim enfrentar este argumento. Porque eu perdi amigos. Perdi vizinhos”.

Disse que o mundo hoje está a ver a história a repetir-se, com russos a matar ucranianos na sua própria terra, e isso está a acontecer em “busca do propósito fantasma de «desnazificação» da Ucrânia”.

“Se a Ucrânia desistir, será a vez da Europa”, disse Kovalchuk. “No entanto, não vamos desistir! Nós, com a vossa ajuda e apoio, resistiremos. E para evitar que valas comuns apareçam também em solo italiano, devemos todos juntos parar o Führer do século XXI”, indicou.

Na abertura da exposição, no sábado, disse que todos os artistas estavam a apelar aos presentes para despertar a Europa para que não seja tarde demais.

“Informem as pessoas, contem-lhes a verdade sobre o que está a acontecer, para que a Terceira Guerra Mundial – sobre a qual o Papa Francisco nos advertiu há muito tempo – não se torne uma catástrofe mundial!”, pediram.

A exposição está patente no Instituto Polonês de Roma e faz parte do projecto internacional de arte “Stand with Ukraine”.

A embaixada ucraniana na Santa Sé perguntou aos Museus do Vaticano se considerariam mostrar algumas das obras, mas foram informados de que não incluem artistas vivos nas suas colecções.

Kobalchuk ainda está grato pela oportunidade de exibir a sua arte na Cidade Eterna – e o plano é que outras cidades também recebam a exposição.

Stasenko disse que durante as primeiras semanas da guerra, não conseguiu entrar no seu estúdio Ele e a sua família pensaram em fugir, tornando-se refugiados, mas decidiram o contrário e prepararam-se para lutar contra a invasão russa de todas as maneiras possíveis.

Tiveram muitas oportunidades de fugir; amigos e colegas do exterior prometeram à família abrigo.

“Mas eu sou um homem. Tenho que ficar para trás e lutar”, disse ele. No entanto, “não fui autorizado a entrar no exército: sou praticamente cego de um olho e o meu braço esquerdo mal funciona. Mas trabalhamos em família, com a minha esposa e filho, para ajudar aqueles que passavam pela nossa porta enquanto fugiam”.

“Havia muitos refugiados… 50, 60 pessoas chegavam todos os dias, quando estavam a fugir. Todas as pessoas que conheço foram embora”, disse. “Parei de ouvir as sirenes a anunciarem um ataque aéreo. Há muitas pessoas para alimentar, muitas pessoas precisam de um lugar para passar a noite”.

“E um dia chorei”, afirmou. “Chorei como nunca chorei antes, com todo o meu coração, histericamente: uma maternidade foi bombardeada. Estive lá muitas vezes. Conheço bem as suas paredes. Tentamos salvá-los a todos, mas falhamos”.

Quando teve tempo – e forças – para voltar ao estúdio, encontrou o seu último quadro, quase pronto para ser enviado para uma exposição no exterior. Ele cobriu a paisagem que havia pintado com a bandeira ucraniana.

“Nossa Ucrânia... Nossa querida Ucrânia, pintei sobre os nossos campos, sobre os nossos céus, a nossa bandeira. Porque tudo isto é a Ucrânia. Não a Rússia”, disse Stasenko.

 

Artigo de Inés San Martín, publicado a 17 de Maio de 2022 no Crux.