Arquidiocese de Braga -

27 abril 2022

Em "Terras d’Esperança", repensar a missão da Igreja no meio rural

Fotografia FREDERIK ASTIER/DIVERGENCE

DACS com La Croix

Na origem deste encontro, adiado duas vezes por causa da pandemia, esteve o desejo de “mostrar que a Igreja não está ausente do mundo rural”.

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Cerca de 500 cristãos envolvidos no mundo rural reuniram-se de sexta-feira, 22 de Abril, a Domingo, 24 de Abril, em Châteauneuf-de-Galaure (Drôme), por ocasião do encontro nacional Terras d' Esperança. Nesses territórios testados por muitos desafios pastorais, concordaram com a necessidade de uma “mudança de paradigma”.

“Nestas paróquias onde os leigos têm cada vez mais responsabilidades, qual pode ser o papel específico e original do ministério ordenado?”. A pergunta vem de um padre de t-shirt. Ao lado dele, na sala de aula, uma maioria de colarinhos clericais, algumas mulheres, um bispo. Todos estão sentados nas carteiras da escola, franzindo a testa, braços cruzados, ou mãos no queixo, concentrados. Neste ateliê, “repensa-se a missão do padre no meio rural”.

Na origem deste encontro, adiado duas vezes por causa da pandemia, esteve o desejo de “mostrar que a Igreja não está ausente do mundo rural”, lembra Joël Morlet, responsável da missão rural da Conferência Episcopal Francesa. “Porque apesar de um enfraquecimento institucional, os cristãos continuam a viver ali e a anunciar o Evangelho”, insiste. Da Acção Católica às sensibilidades mais carismáticas, o evento reuniu fiéis de perfis muito variados.

Mais de 300 iniciativas chegaram das dioceses para responder aos desafios da Igreja no campo, testados em particular pelo declínio do modelo de grelha territorial que prevaleceu nas últimas décadas: “um padre, um campanário, uma paróquia”. A constatação não é nova: com a escassez de vocações, os sacerdotes, muitas vezes encarregados de dezenas de campanários, lutam cada vez mais para garantir uma presença em todo o seu território.

 

Pastoral itinerante

Entre as iniciativas apresentadas no Terras d' Esperança, a itinerância pastoral foi recorrente. Um espaço experimentado pelo padre Gilles Gracineau em Haute-Vienne, no planalto de Millevaches. A cada mês, o sacerdote instala-se por três dias numa das seis comunidades que compõem a sua paróquia. Os cristãos no local preparam a sua chegada, respondendo à pergunta “de que precisamos?”.

Após a celebração da missa – que “é um evento” na aldeia – o padre visita as pessoas que lhe são indicadas. Recentemente, conheceu aqueles que estavam a estabelecer-se: um casal de horticultores, criadores de porcos. “É uma renovação do ministério, já não estamos no centro, mas ao serviço das pequenas comunidades”, sublinha.

Para remediar a solidão dos sacerdotes nestes vastos territórios, a diocese de Tulle (Corrèze) criou em 2017 “fraternidades presbiterais”. Em cada “espaço missionário”, quatro sacerdotes, que vivem separadamente, reúnem-se uma vez por semana para uma manhã de organização, rezando e almoçando juntos quando podem.

Cada um deles é responsável por uma comunidade, mas partilham responsabilidades transversais, como o ministério da juventude ou da saúde. Se alguém se sente cansado ou deseja voltar a África por um mês para ver a sua família, pode contar com os outros. “É uma nova maneira de viver a missão”, disse D. Francis Bestion, bispo de Tulle.

 

Criação de uma rede

Resta a questão do dinamismo das comunidades locais: como apoiá-lo? Há cinco anos, Isabelle Pélissié du Rausas co-fundou a WEMPS, uma associação que oferece aos jovens vários fins-de-semana missionários durante o ano numa paróquia rural. Em pares, um jovem e um paroquiano visitam os moradores, organizam actividades abertas a todos na praça, bem como um tempo de adoração, para que “cada actividade crie o caminho de um encontro entre cada pessoa e Deus”.

E em alguns campanários, onde a missa é celebrada apenas uma vez por mês, os leigos resolveram o problema com as próprias mãos. Em Javené (Ille-et-Vilaine), a comunidade cristã organiza há dez anos Encontros da Palavra no primeiro Domingo do mês.

Os leigos lêem as leituras, comentam-nas e a assembleia fica livre para reagir: “Não íamos deixar morrer a nossa Igreja!”, exclama Marcel, o criador da iniciativa.

No fim deste grande encontro, Joël Morlet não pretende parar por aqui: já está a considerar a criação de uma rede, encontros temáticos e, porque não, futuros dias nacionais.

 

A Igreja nas “periferias espirituais”

Além do dinamismo das comunidades cristãs, os participantes do Terras de Esperança abordaram, durante ateliês e mesas redondas, os temas da agricultura, ecologia, animação e as várias formas de pobreza no mundo rural.

Também reflectiram e debateram como é que a Igreja poderia acompanhar as novas “periferias espirituais”, muito presentes no mundo rural, como new age, biodinâmica, meditação mindfulness, ou culto à natureza.

“O desafio para os cristãos é descodificar a busca espiritual nestas experiências”, defende o padre Gilles Gracineau, sacerdote da diocese de Limoges (Haute-Vienne).

 

Artigo de Marguerite de Lasa, publicado no La Croix a 24 de Abril de 2022.