Arquidiocese de Braga -
8 março 2022
Ao longo da história, os católicos ucranianos têm sido uma “Igreja de mártires”
DACS com Crux
Na era soviética, a UGCC era o maior corpo religioso ilegal do mundo e sofreu muito por isso; a maioria dos especialistas acredita que o número total de católicos gregos que morreram naquela época de opressão violenta está na casa dos milhares.
Quando surgiram as notícias de que Vladimir Putin havia ordenado que as tropas russas invadissem a Ucrânia, o diácono Daniel Galadza estava em Roma a participar numa conferência na Congregação para Igrejas Orientais do Vaticano.
Seis dias antes da guerra, na sexta-feira, os participantes da conferência foram recebidos pelo Papa, que disse lamentar o facto de a humanidade parecer “apegada às guerras, o que é trágico”.
Galadza é um diácono da Igreja Greco-Católica Ucraniana (UGCC), e mesmo tendo algumas reservas sobre ser ordenado em vez de permanecer um académico, podia argumentar-se que a Igreja estava no seu sangue: “O meu pai era um padre católico ucraniano, os meu tios eram padres católicos ucranianos e o meu bisavô era um padre católico ucraniano, que conseguiu uma passagem gratuita para a Sibéria graças a Estaline e levou a sua esposa e filhas”.
Galazda nasceu nos Estados Unidos, mas cresceu no Canadá. Estudou em Roma, mas trabalhou em Viena até que, “por ser ingénuo e idealista”, largou o emprego para se mudar para a Ucrânia, onde foi incentivado pela Igreja a continuar a sua formação académica.
Agora na Alemanha, a terminar o seu segundo doutoramento, tem planos para se mudar para Roma no próximo semestre.
Mesmo que não fosse suposto voltar para a Ucrânia após a conferência no Vaticano, o seu coração está muito na sua terra natal.
“Estive na Ucrânia em Dezembro e as discussões entre padres na sacristia da nossa catedral falaram da coragem que essas pessoas têm”, disse Galadza.
Embora todos esperassem que Putin não avançasse com a invasão da Ucrânia, o diácono afirmou que, estando lá, entende-se porque é que esta é “uma Igreja de mártires”, que, apenas há uma geração, estava “a sofrer nas catacumbas”.
E mesmo diante de uma ameaça que conhecem muito bem, de acordo com o diácono, os ucranianos ainda conseguiram manter o seu sentido de humor, um sinal da sua resiliência e fé.
Apelidar a UGCC de Igreja de mártires não é, de forma alguma, um exagero.
Na era soviética, a UGCC era o maior corpo religioso ilegal do mundo e sofreu muito por isso; a maioria dos especialistas acredita que o número total de católicos gregos que morreram naquela época de opressão violenta está na casa dos milhares.
Após o Comunismo, a igreja experimentou um renascimento: depois de levar 3,5 milhões de fiéis para a clandestinidade e confiscar quase todas as suas propriedades, uma Ucrânia pós-soviética permitiu que a UGCC ressurgisse. A partir desse ponto, ergueu-se das catacumbas com um crescimento milagroso.
Mais de 3000 padres morreram nos gulags e, quando a Ucrânia recuperou a sua independência, restavam apenas 300, e nem todos na Ucrânia. Hoje, esta igreja conta com mais de 7 milhões de fiéis e 3000 sacerdotes, sendo 100 ordenados a cada ano e mais de 800 seminaristas.
O lendário cardeal ucraniano Josef Slipyi, que passou duas décadas nos gulags, disse uma vez que a sua igreja havia sido enterrada sob “montanhas de cadáveres e rios de sangue”. Durante a sua visita à Ucrânia em 2001, João Paulo II beatificou 27 mártires greco-católicos sob os Soviéticos – um dos quais foi fervido vivo, outro crucificado na prisão e um terceiro emparedado.
A UGCC está há muito tempo entre as forças pró-democracia mais importantes na Ucrânia, tentando estimular as potências ocidentais para enfrentar a agressão russa, o que ajuda a explicar o porquê de o Arcebispo Maior Sviatoslav Shevchuk falar sobre fé, juntamente com um pouco de política, durante os seus vídeos diários enviados de um abrigo subterrâneo na Catedral Patriarcal da Ressurreição de Cristo em Kiev.
Depois de agradecer ao Papa Francisco por “condenar de forma aguda e inequívoca a guerra contra a Ucrânia” durante a oração do Ângelus de Domingo, no vídeo de segunda-feira pediu ao mundo que “feche o céu sobre a Ucrânia”, algo que o presidente ucraniano tem vindo a pedir às nações da NATO. Isso, segundo Putin, seria um acto de guerra.
Artigo de Inés San Martín, publicado no Crux a 8 de Março de 2022.
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