Arquidiocese de Braga -
17 fevereiro 2022
Reabrindo o debate sobre o celibato sacerdotal
DACS com La Croix International
O celibato clerical está entre os temas que vozes influentes na Igreja estarão a discutir abertamente nestes dias num simpósio internacional sobre o sacerdócio em Roma.
“Tenho uma opinião muito favorável ao celibato, mas será que ele é indispensável?”.
Vindo de um cardeal da Igreja Católica Romana, esta pergunta é tudo menos trivial.
O cardeal Jean-Claude Hollerich, que é Arcebispo do Luxemburgo e Presidente da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE), não poupou nas palavras.
“Perguntemos francamente se um padre deve necessariamente ser celibatário”, afirmou numa entrevista publicada a 24 de Janeiro pelo La Croix e traduzida pelo DACS.
“Porque não ter padres casados também?”, perguntou.
Ele não é o único líder influente da Igreja na Europa a perguntar se seria melhor acabar com o celibato obrigatório para presbíteros ordenados.
“Pergunto-me se o celibato deveria terminar como condição básica para qualquer padre”, afirmou o Cardeal Alemão Reinhard Marx a 2 de Fevereiro.
“Acho que as coisas não podem continuar como estão”, disse o Arcebispo de Munique, um dos assessores mais próximos do Papa Francisco.
Mudanças que preocupam o Vaticano
Os comentários do Cardeal Marx surgiram na véspera de uma Assembleia Plenária do Caminho Sinodal Alemão, o processo de reflexão sobre o futuro da Igreja.
Alguns católicos alemães que estão envolvidos no processo estão a pedir mudanças profundas que preocupam o Vaticano. Isto inclui a ordenação de mulheres e o fim do celibato sacerdotal obrigatório.
A 4 de Fevereiro, 86% dos membros da Assembleia Sinodal, com igual número de clérigos e leigos, votaram a favor de um documento – que terá que ser ratificado numa segunda leitura em Setembro – que pede um relaxamento do celibato, tornando-o opcional.
Trata-se de uma votação que não deixará de provocar diversas reacções na Igreja universal sobre esse tema delicado.
O celibato não é o tema central do simpósio sobre o sacerdócio que se realiza de quinta a sábado no Vaticano. Mas o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos e principal organizador do simpósio, não o descarta.
Celibato como “um dom para a Igreja”
As questões sobre o celibato obrigatório não são novas. Nas Igrejas orientais em comunhão com Roma, homens casados são ordenados ao presbitério.
No entanto, não parece que os debates actuais na Igreja Romana estejam a ocorrer ao mais alto nível.
Sobretudo porque o número de sacerdotes em todo o mundo tem decaído novamente desde 2015. Actualmente, existem pouco mais de 400.000 em todo o mundo.
Além disso, a possibilidade de ordenar homens casados foi um dos pontos debatidos durante a assembleia do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazónica, gerando fortes tensões.
Mas o Papa não se referiu a isso na sua exortação pós-sinodal “Querida Amazónia”, publicada a 12 de Fevereiro de 2020.
Então, a regra pode mudar?
No seu voo de volta do Panamá em Janeiro de 2019, Francisco referiu-se ao celibato como “um dom para a Igreja”, rejeitando a ideia da regra como “opcional”.
“A questão do celibato de bispos e padres não pode ser considerada uma questão puramente disciplinar e acidental da história”, afirmou o padre Philippe Capelle-Dumont, que lecciona na Universidade Católica de Estrasburgo.
“Mais que uma lei e menos que um dogma”
“Não pode ser desvinculado do estado celibatário de Cristo e da sua exclusividade missionária", observou.
Por outro lado, aponta “apreciações enganosas” sobre este assunto.
O filósofo e teólogo, que falou no simpósio do Vaticano na quinta-feira sobre “Visões do sacerdócio numa era de mudança”, acredita que a possibilidade do casamento não é uma resposta à crise vocacional.
“Isso não é verdade no mundo protestante, nem no ortodoxo, nem no catolicismo oriental”, argumentou.
D. Didier Berthet de Saint-Dié, ex-reitor do Seminário, destacou que o celibato é “mais que uma lei e menos que um dogma”.
Apontou para a questão de como os padres vivem realmente a vida de celibato.
“Certificamo-nos de que os padres que se comprometeram com o celibato podem vivê-lo de maneira humana e espiritualmente frutífera e não em solidão e isolamento?”, perguntou.
Se a regra deve evoluir, o bispo espera que aconteça por razões positivas. Afirmou que, antes de tudo, deve levar em conta a vida e a missão dos sacerdotes. E aí, sim, um Concílio deveria ser realizado para resolver esta questão “incómoda”.
Artigo de Arnaud Bevilacqua, publicado no La Croix International a 17 de Fevereiro de 2022.
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