Arquidiocese de Braga -

“O que se pode esperar de uma «teologia fundamental do sacerdócio» no actual contexto histórico dominado pelo drama do abuso sexual do clero? Não deveríamos antes abster-nos de falar do sacerdócio quando os pecados e crimes de ministros indignos aparecem nas primeiras páginas da imprensa internacional por traírem o seu compromisso ou por vergonhosamente encobrirem os culpados de tal depravação? Não deveríamos antes ficar calados, arrepender-nos e procurar as causas de tais delitos?”.

O cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, iniciou o seu discurso no simpósio internacional “Por uma teologia fundamental do sacerdócio” com estas três perguntas.

“Estamos todos com o coração partido e humilhados por estas questões cruciais que nos desafiam diariamente como membros da Igreja de Jesus Cristo. Esta é uma oportunidade para expressar o nosso sincero pesar e pedir desculpas às vítimas, cujas vidas foram destruídas por comportamentos abusivos e criminosos, que foram ocultados por muito tempo e tratados com leviandade, por desejo de proteger a instituição e os perpetradores, em vez das vítimas”, continuou o “ministro” vaticano sob o olhar do Papa Francisco.

Mais de 700 especialistas convocados pela Congregação para os Bispos participam neste fórum vaticano sobre vocação sacerdotal, formação de seminaristas e celibato, que se realiza na Sala Paulo VI até 19 de Fevereiro. Embora as questões não incluam os abusos infantis, o prefeito não quis perder a oportunidade de se manifestar sobre o assunto num momento em que os abusos na Igreja são protagonistas em vários países.

Descobrir a raiz do clericalismo

Segundo Ouellet, “este simpósio toma nota do clamor do Povo de Deus”.

“Estamos aqui para unir as nossas vozes àqueles que clamam por verdade e justiça, e elevar as nossas orações ao Senhor da messe, para que nos conceda a graça de responder adequadamente aos desafios colocados pela crise sacerdotal do nosso tempo”, frisou.

Por outro lado, o prefeito apontou para o clericalismo. Como sublinhou, pareceu-lhe importante organizar este simpósio “para fazer um balanço dos estudos sociológicos em curso e analisar as causas históricas, culturais e até teológicas que podem descobrir a raiz do que o Papa Francisco chama de «clericalismo»”.

“Este termo é genérico, mas também concreto, e descreve uma série de fenómenos: abusos de poder, abusos espirituais, abusos de consciência, dos quais o abuso sexual é apenas a ponta do icebergue, visível e perverso, emergindo de desvios mais profundos que devem ser identificados e desmascarados”, concluiu.

Artigo de Vida Nueva Digital, publicado a 17 de Fevereiro de 2022.