Arquidiocese de Braga -
8 fevereiro 2022
Bento XVI escreve carta sobre abusos na Arquidiocese de München e Freising
DACS
Papa Emérito reafirma que cada caso de abuso sexual "é terrível e irreparável" e envia compaixão às vítimas.
Depois da apresentação de um relatório sobre abusos sexuais na Arquidiocese de München e Freising, da qual o Papa Emérito foi Arcebispo durante um período menor do que cinco anos, Bento XVI sentiu necessidade de dirigir a todos os fiéis “uma palavra pessoal”.
O Papa Emérito expressa um “cordial agradecimento” a todos quantos o ajudaram “nestes dias de exame de consciência e reflexão”, incluindo o relatório dirigido ao escritório de advocacia de München. Os colaboradores terão ajudado Bento XVI a estudar e analisar a perícia de quase 2.000 páginas. O resultado será publicado sucessivamente em apêndice à carta agora escrita.
“No trabalho gigantesco destes dias para elaborar a tomada de posição, verificou-se um lapso a propósito da minha participação na reunião do Ordinariato de 15 de janeiro de 1980. Este erro, que infelizmente ocorreu, não foi intencional e espero seja desculpável. Já providenciei para que o arcebispo Gänswein informasse disso mesmo no comunicado à imprensa de 24 de janeiro de 2022”, afirma Ratzinger, como já havia dito dias antes.
O Papa Emérito refere, no entanto, que o lapso “em nada diminui o cuidado e a dedicação que foram e são um imperativo absoluto óbvio para aqueles amigos”.
“Tocou-me profundamente que a distração tivesse sido utilizada para pôr em dúvida a minha veridicidade e até mesmo para me fazer aparecer como mentiroso. Mais ainda, porém, me comoveram as variadas expressões de confiança, os testemunhos cordiais e as calorosas cartas de encorajamento que recebi de tantas pessoas. Sinto-me particularmente agradecido pela confiança, o apoio e a oração que o Papa Francisco me expressou pessoalmente. Por fim quero agradecer à pequena família no Mosteiro Mater Ecclesiae, cuja comunhão de vida tanto nas horas felizes como nas difíceis me dá aquela solidez interior que me sustenta”, refere.
Na segunda parte da carta, Bento XVI explica, em tom de “confissão”, que cada vez mais se comove com a confissão de culpa que a Igreja coloca “no início da celebração da Santa Missa”.
“Publicamente suplicamos ao Deus vivo que perdoe a nossa culpa, a nossa tão grande culpa. É claro que a expressão «tão grande» não se refere da mesma forma a todos e cada um dos dias. Mas cada dia me questiona se não devo, também hoje, falar de tão grande culpa. E consoladoramente diz-me que, por maior que possa ser hoje a minha culpa, o Senhor perdoa-me, se me deixo sinceramente perscrutar por Ele e estou realmente disposto à mudança de mim mesmo”, observa.
O Papa Emérito relembra ainda os seus encontros com as vítimas de abusos sexuais por parte de sacerdotes, tendo observado com os seus próprios olhos “as consequências de uma tão grande culpa”.
“Aprendi a compreender que nós mesmos somos arrastados por esta tão grande culpa quando a negligenciamos ou não a enfrentamos com a necessária decisão e responsabilidade, como aconteceu e acontece com muita frequência. Como fiz naqueles encontros, mais uma vez posso apenas expressar a todas as vítimas de abusos sexuais a minha profunda vergonha, a minha grande dor e o meu sincero pedido de perdão. Tive grandes responsabilidades na Igreja Católica. Tanto maior é a minha dor pelos abusos e os erros que se verificaram durante o tempo do meu mandato nos respetivos lugares. Cada caso de abuso sexual é terrível e irreparável. Para as vítimas de abusos sexuais, vai a minha profunda compaixão e lamento cada um dos casos”, afirma.
Bento XVI diz que em breve se encontrará perante “o último Juiz” da sua vida e que, apesar de em longa retrospectiva ter “tantos motivos de susto e medo”, tem o “coração feliz” porque confia firmemente “que o Senhor não é só justo juiz, mas simultaneamente é o amigo e o irmão que já padeceu”.
“Na perspetiva da hora do juízo, como se me torna clara a graça de ser cristão! O ser cristão dá-me o conhecimento, mais ainda, a amizade com o juiz da minha vida e permite-me atravessar com confiança a porta escura da morte. A propósito, retorna-me sem cessar à mente o que João conta no início do Apocalipse: vê o Filho do Homem em toda a sua grandeza e cai aos seus pés como morto. Mas Ele, pousando a mão direita sobre João, diz-lhe: «Não tenhas medo! Sou eu...» (cf. Ap 1, 12-17)”, conclui.
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