Arquidiocese de Braga -

24 janeiro 2022

Um melómano chamado Bergoglio

Fotografia Javier Martínez Brocal

DACS com Vida Nueva Digital

Entre as melodias favoritas de Francisco, Mozart e Bach alternam com Edith Piaf e os tangos de Astor Piazzolla.

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“Ele costumava comprar-nos música clássica. Francisco é um amante do género, da ópera, das grandes vozes”, diz Letizia Giostra, proprietária da Stereosound, a antiga loja de discos da Via della Minerva, no centro de Roma, perto do Panteão, onde o Papa compareceu de surpresa a 11 de Janeiro.

A visita à chamada “discoteca Panteón”, como os romanos a conhecem, foi capturada acidentalmente por Javier Martínez Brocal, director da agência Rome Reports, que tirou fotografias e um vídeo que imediatamente partilhou no Twitter. Nestas imagens o Papa é visto a sair com um vinil debaixo do braço. “É um presente que lhe demos, um álbum de música clássica”, completa Giostra.

Ninguém quis revelar o título. Martínez Brocal mantém a hipótese de que possa ser uma edição de “El rapto del seraglio”, a ópera de Wolfgang Amadeus Mozart, o compositor favorito de Francisco, nem que seja por uma citação de Konstanze, a protagonista, na nota manuscrita que o Papa enviou ao jornalista espanhol no dia seguinte: “Senhor Javier Martínez Brocal, o senhor não negará que foi uma sorte brutal que, depois de tomar todas as precauções, havia apenas um jornalista à espera de uma pessoa na paragem de táxis”.

Francisco despede-se com um “não deves perder o sentido de humor” e depois acrescenta um eloquente: “Obrigado pela compreensão para com os vendedores de música”.

O Papa ia frequentemente à Stereosound quando viajava para Roma como Arcebispo de Buenos Aires e ficava na Casa do Clero na Via della Scrofa. E agora quis voltar para abençoar as instalações, após um breve período fechadas pela pandemia e em que Letizia Giostra renovou a loja.

“Ele é um cliente antigo, todas as vezes que vinha a Roma quando era cardeal visitava-nos. Foi uma alegria imensa vê-lo como Papa. Ficou cerca de quinze minutos. A minha lembrança mais bonita do encontro foi a simplicidade de um homem extraordinário”, declara Tiziana, filha do proprietário, ao canal TV2000.

 

Não se limita a um género musical

E não há dúvida de que é também um amante da música singular e atento. Domenico Agasso explorou em La Stampa os gostos musicais do Papa: “Jorge Mario Bergoglio ama Mozart e Bach, ouve Beethoven, é apaixonado por Wagner. Ele adora tango. E desde criança que também foi educado com ópera”, explica.

Em recente entrevista ao jornal de Turim, revelou a origem: “Aos Sábados, a rádio transmitia gravações de óperas e, enquanto a minha mãe as ouvia, falava-nos delas. Também nos levava ao teatro, lembro que vimos o tenor Tito Schipa no Teatro Colón”.

O cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura e também amante de música clássica, criou uma “áudioteca” numa sala do dicastério com o nome do Pontífice, composta pelos discos que Francisco foi enviando: “Temos um registo actualizado, agora o catálogo conta com 1.728 CDs e 19 vinis. Há os discos que lhe foram dados – o mais recente, uma colecção de discos de vinil de Krzysztof Penderecki – e os que o Papa já tinha e ouve há muito tempo”.

O próprio Ravasi revelou no Il Corriere della Sera o conteúdo: “Principalmente música clássica, diria. Mas Francisco, com a sensibilidade de quem gosta mesmo de música, não se limita a um género, não tem a rigidez de quem diz: «Depois não há mais nada». Eu, por exemplo, também me interesso por rap… Recentemente, enviou-me uma colectânea de 25 músicas gospel cantadas por Elvis Presley e, embora não tenha havido nenhum comentário, talvez lha tenham dado.”

Artigo de Juan Carlos Rodríguez, publicado em Vida Nueva Digital a 22 de Janeiro de 2022.