Arquidiocese de Braga -
13 janeiro 2022
A missionária espanhola que resgata menores refugiados venezuelanos que chegam ao Brasil
DACS com Vida Nueva Digital
Sofía Quintans, missionária Franciscana da Mãe do Divino Pastor, relata a sua missão em Boa Vista.
Trata-se de um local fronteiriço no Brasil marcado pela presença de comunidades amazónicas e por migrantes e refugiados venezuelanos – na sua maioria menores desacompanhados –, muitos dos quais vivem nos doze acampamentos existentes – chamados abrigos.
Sonhou ser missionária aos 9 anos. Contou à sua prima, que se riu. Mas o desejo nunca lhe saiu da cabeça. Por isso, desde 2002 que é religiosa.
Nos seus primeiros anos, a sua missão foi África, concretamente Angola (no Sumbe e Luanda) durante oito anos, até mudar de continente. Em Boa Vista, está numa comunidade intercultural de três irmãs – à qual chegará outra em breve – que trabalha em rede com outras Congregações, confissões e instituições com um único propósito: acolher, proteger, promover e integrar migrantes e refugiados venezuelanos.
Até ao começo da pandemia, chegavam entre 600 e 800 venezuelanos por dia. Mais tarde, apesar do fecho das fronteiras, muitos continuaram a chegar, procurando outras rotas alternativas e clandestinas, de quem se aproveitavam as máfias que traficam pessoas.
Três nomes, três histórias
“Tentamos criar espaços seguros para as crianças”, explicou durante a apresentação do Dia da Infância Missionária, que se celebra no próximo Domingo, 16 de Janeiro, com o lema “Com Jesus a Jerusalém, Luz para o mundo!”. Crianças que para ela têm nomes. Por isso, partilhou três encontros que a marcaram durante este ano.
Jineth é uma menina indígena que veio de uma comunidade que só é acessível por barco. “Ela chegou com cancro, já com metástases. O sorriso daquela menina, a luta pela vida daquela menina, está em mim. Fez uma cirurgia em São Paulo, mas não correu bem. Voltou para a sua comunidade para estar tranquila e abraçar novamente a sua mãe”, relatou, emocionada.
Michelle é uma menina que sofre com o tráfico. “Ela apareceu no primeiro dia do curso de capacitação e não voltou mais. Perguntei porquê e ela disse: «Irmã, não posso porque tenho de trabalhar no semáforo»”, lembra com dor. É apenas um exemplo desses menores desacompanhados que são traficados, desses bebés que desaparecem todos os dias para venderem os seus órgãos ou dessas crianças que sofrem violência sexual.
Aiscar entrou no Brasil já adolescente, aos 16 anos. Fê-lo sozinha e chegou a formar-se, morando num campo de refugiados. “Ela chora ao contar a sua experiência, mas é uma história de luta, porque ela quer estudar, continuar...”, explica.
“As três representam tantas crianças que são esse Cristo crucificado”, observou Quintans. A religiosa está feliz por ser missionária. “Sei que não acompanhamos números, mas sim pessoas”, frisou. Para esta mulher de Pontevedra, “é na escuridão, nas periferias, onde está Cristo vivo. Essas pessoas, à margem, são a luz do mundo”.
“Quando nos deparamos com o sofrimento de alguém que foi forçado a abandonar a sua terra, encontramos Cristo. É uma oportunidade, um dom, uma graça”, afirma.
“Os pobres não devem ficar à espera”
As irmãs estão no centro do que o Papa Francisco denuncia na exortação pós-sinodal “Querida Amazónia”: a devastação da natureza e das comunidades vulneráveis. Uma devastação que fez com que o Covid fosse simplesmente mais uma coisa e não o protagonista, como na Europa.
Nesse sentido, os missionários Franciscanos são proféticos e encarnam o lema da sua congregação: “Verdadeira caridade, amor e sacrifício”. Porque, como disse a sua fundadora, María Ana Mogas Fontcuberta, “os pobres não devem ficar à espera”.
Artigo de Rubén Cruz, publicado em Vida Nueva Digital a 12 de Janeiro de 2022.
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