Arquidiocese de Braga -

10 janeiro 2022

Francisco, à freira “capelã” LGTBI dos Estados Unidos: “Obrigado pela sua proximidade ao estilo de Deus”

Fotografia

DACS com Vida Nueva Digital

Papa “reabilita” por carta Jeaninne Gramick, a quem o Vaticano proibiu o seu projecto pastoral com homossexuais em 1998.

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“Obrigado”. Com este elogio, Francisco dirigiu-se em carta manuscrita a Jeaninne Gramick, religiosa e co-fundadora, juntamente com o padre salvadorenho Robert Nugent, do New Ways Ministry, um projecto pastoral de acompanhamento aos católicos LGTBI que comemora as suas bodas de ouro.

Francisco quis juntar-se a esta celebração através de várias cartas que têm recebido na plataforma nos últimos meses. Na mais recente, sublinha em espanhol a obra desta consagrada por “50 anos de proximidade, compaixão e ternura” numa missão que descreveu  “ao estilo de Deus”.

 

Sem medo

“Não tem tido medo da proximidade”, escreve Jorge Mario Bergoglio sobre a carreira de Gramick, que hoje tem 80 anos. Sobre este tempo de entrega, destaca como ao aproximar-se, a religiosa fê-lo “sentindo a dor e sem condenar ninguém, mas com a ternura de uma irmã e de uma mãe”.

Noutra das cartas enviadas por Francisco nestes meses ao New Ways Ministry, afirmou que sabia o “quanto tinha sofrido” e descreveu-a como “uma mulher corajosa que toma as suas decisões na oração”.

 

Onze anos de investigação

É que estas cinco décadas de trabalho da religiosa não têm sido fáceis, já que alguns bispos perseguiram as suas superioras em vários momentos para interromperem o seu trabalho no New Ways Ministry. Foi tal o acompanhamento que fizeram durante o pontificado de João Paulo II que Roma abriu uma investigação que durou onze anos e que terminou com uma nota da Congregação para a Doutrina da Fé em 1999 que proibia Gramick e Nugent de realizarem qualquer trabalho pastoral relacionado com os homossexuais.

O motivo? De acordo com o departamento então liderado por Joseph Ratzinger, não declararam com precisão “o mal intrínseco dos actos homossexuais e a desordem objectiva da inclinação homossexual”.

A pressão foi tanta que a freira deixou a sua congregação, as Irmãs da Escola de Nossa Senhora, e juntou-se às Irmãs de Loreto, que compreenderam o valor do seu trabalho e a apoiaram nas suas iniciativas.

 

A orientação do Espírito

Agora, as cartas de Francisco podem ser consideradas uma reabilitação de facto para a consagrada, que não interrompeu o seu trabalho de acompanhamento do grupo.

“Sempre senti que o Espírito Santo me estava a guiar”, explica a freira numa entrevista à America Magazine.

“Temos percorrido um longo caminho. Claro, não estamos onde deveríamos estar como Igreja, mas há 50 anos não era possível sequer pronunciar a palavra «gay»”, considera Gramick.

A religiosa não tem problemas em falar sobre o seu “castigo” não cumprido: “Não concordei com o cardeal Joseph Ratzinger quando saiu essa notificação, mas respeitei-o. Sinceramente, acho que ele estava a fazer o que considerava correcto”.

“Amo o Cardeal Ratzinger, o Papa Bento XVI. Acho que ele é um homem santo”, garante.

Artigo de José Beltrán, publicado em Vida Nueva Digital a 8 de Janeiro de 2022.