Arquidiocese de Braga -

4 janeiro 2022

Resolveu rezar mais em 2022? Aqui ficam 5 dicas.

Fotografia iStock

DACS com America

"É Deus que nos convida a orar, Deus que nos ajuda a orar e Deus que nos dá os frutos da oração."

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Perdi a conta ao número de vezes que ouvi as pessoas dizerem no início de Janeiro: “este ano vou rezar mais!”.

O tom em suas vozes é frequentemente insistente e as palavras “rezar mais” ditas com grande força, como se estivessem a repreender-se a si mesmas.

Embora algumas pessoas evitem resoluções no início do novo ano, penso que esse é um objectivo nobre. Mas há um perigo: se criarmos uma resolução inatingível e falharmos, isso pode fazer-nos sentir mal connosco.

No caso de resoluções falhadas sobre a nossa vida de oração, podemos também sentir-nos culpados perante Deus – e até mesmo pior do que antes de termos feito essa resolução.

Com isso em mente, aqui estão cinco dicas para colocar a resolução da oração em prática.

 

1. Reze menos

Sei que soa contraintuitivo, mas esta é uma forma de segurança contra fazer uma resolução que não conseguimos cumprir. Na minha experiência, as pessoas estabelecem frequentemente objectivos que estão próximos do impossível para preencher as suas agendas ocupadas.

“Vou rezar uma hora por dia, sem falta” dizem os jovens pais com crianças ao seu cuidado. Então, a primeira vez que escutam o choro delas durante a oração e param a oração para cuidar das suas crianças, talvez desistam por completo. Então, novamente, sentem-se desnecessariamente culpados.

Mesmo que tenha tempo para isso, a perspectiva de 60 minutos contínuos de oração a cada dia pode parecer muito pesada.

Neste caso, sugiro frequentemente começar com objectivos mais modestos. Vá com calma (isto é especialmente útil para alguém que não tem rezado nada ultimamente). Inicie com 15 minutos por dia. Ou 30 minutos. Isto não é apenas mais fácil de gerir, como tem a vantagem de parecer muito fazível, pelo que as pessoas relaxam e aproveitam mais – e cumprem com os seus planos de oração. Então, para rezar mais, tente rezar menos. Pelo menos no início. E depois reze mais.

 

2. Diversifique

Frequentemente as pessoas ficam presas numa rotina, sobretudo se já rezam há muito. Um dos meus orientandos espirituais (uma pessoa que vem falar comigo sobre como Deus está activo na sua vida diária e na oração privada) uma vez disse-me, taciturno, como uma oração se consegue tornar monótona. Recordou a sua rotina, que incluía o rosário, lendo o Evangelho do dia e alguma contemplação Inaciana. Podia perceber-se o tédio na sua voz.

Em resposta, sugeri que experimentasse novas formas de oração. Isto é válido para todos nós. Se estiver numa rotina de oração, tente um pouco de contemplação Inaciana. Se se sentir cansado da contemplação Inaciana, experimente alguma lectio divina. Se está entediado com a lectio, experimente centrar-se na oração. Ajuda agitar as coisas de vez em quando.

Isto não deveria ser surpreendente. É como qualquer relacionamento. Se deseja manter-se ligado a um amigo (uma boa meta), mas encontra-se sempre com ele das mesmas formas, poderá descobrir que as coisas estão a ficar obsoletas. Se vir o seu amigo todas as semanas num jantar a uma sexta-feira à noite, por meses a fio, com a intenção de manter contacto, a situação pode começar a parecer “gasta”. Nesse caso, vocês os dois diriam: “Ei, vamos fazer alguma coisa diferente. Vamos dar um passeio pela praia ou no parque. Vamos ver um filme”. E assim poderá relacionar-se com o seu amigo de uma nova forma.

Algo semelhante pode estar em acção na oração. Agite um pouco as coisas.

 

3. Abandone se não estiver a funcionar

Outra queixa comum é a da oração parecer um fardo. Às vezes, é o que acontece com pessoas devotas que montaram uma agenda lotada de orações para si mesmas. Há alguns anos, uma mulher disse-me que a lista de pessoas por quem rezava diariamente (uma boa meta) acabou por se tornar num compromisso de 30 minutos. Entre isso, o rosário, o Evangelho diário, o exame de consciência e algumas leituras espirituais, começou a temer a oração. A oração tornou-se um fardo e ela começou a evitá-la.

Nestes casos, aconselho as pessoas a deixarem algo de lado. Para esta orientanda, lembrei-lhe que embora rezar por outras pessoas seja importante, se isso a levou a abandonar a oração, então talvez seja hora de esquecer a lista de nomes por um tempo. Ela ainda podia rezar por todos eles com uma intenção comum.

Agora, é claro, só porque algumas partes da oração podem ser difíceis, não significa que precisemos sempre de “abrir mão” de algo. Mas, em alguns casos, especialmente se o estiver a fazer recear, evitar ou até temer a oração, é hora de rever o que está no seu “prato”.

 

4. Arranje um orientador espiritual

Poucas coisas são tão encorajadoras para a vida de oração quanto um orientador espiritual, alguém que o ajude a perceber onde Deus está activo na sua oração e vida diária. No passado, este ministério era frequentemente visto como algo reservado a clérigos ou membros de ordens religiosas. Mas hoje centenas de milhares (milhões?) de leigos falam com orientadores espirituais, que muitas vezes são leigos.

Isto levanta a questão: onde encontro um e como saber o que procurar? O meu livro “Aprender a Rezar” fala disto com mais detalhes, mas, em resumo, comece por procurar alguém que tenha sido formado profissionalmente para o trabalho. Santa Teresa de Ávila disse que, se tivesse que escolher entre um director que era sábio e um que era santo, escolheria o sábio. Por outras palavras, formados na direcção. Isto é essencial. Seria como dizer a um médico: quer alguém que seja saudável ou inteligente?

Para encontrar um orientador, pergunte numa casa de retiros local, peça uma recomendação a alguém que já consulte um orientador espiritual, ou veja o que consegue encontrar em Directores Espirituais Internacionais ou no Gabinete de Espiritualidade Inaciana.

 

5. Confie em Deus

Sim, isso é certo, mas muitas vezes quando tomamos decisões sobre a nossa vida espiritual, somos tentados a pensar que os resultados dependem de nós (esse tipo de pensamento tem uma heresia especial: Pelagianismo).

Mas é Deus que nos convida a orar, Deus que nos ajuda a orar e Deus que nos dá os frutos da oração. Não somos nós a apertar os dedos com força ou a cerrar os dentes. Deus está ao nosso lado.

Na verdade, o próprio desejo de orar mais vem de Deus. Portanto, veja este desejo e a sua resolução como um chamamento. E confie que Deus estará consigo e que o irá ajudar. Como o meu próprio orientador espiritual gosta de dizer: “O que chama quer ajudar o chamado”.

 

Artigo do Pe. James Martin, S.J., publicado em America a 30 de Dezembro de 2021.