Arquidiocese de Braga -

3 janeiro 2022

A reforma definitiva contra os abusos, segundo Hans Zollner: “A separação dos poderes na Igreja”

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DACS com Vida Nueva Digital

O director do Instituto da Dignidade Humana e do Cuidado às Pessoas Vulneráveis ​​alerta que concentrar as tarefas legislativas, judiciais e executivas no bispo “prejudica a transparência e a responsabilização.”

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“Do nosso ponto de vista, isto é, do ponto de vista dos países da Europa Ocidental, assim como dos anglo-saxões, seria preciso muito mais consistência ao exigir o que já é possível através das leis”. Assim se expressou o director do Instituto de Antropologia e Estudos Interdisciplinares sobre a Dignidade Humana e o Cuidado das Pessoas Vulneráveis ​​– até Setembro o Centro para a Proteção de Menores – da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, o jesuíta Hans Zollner.

 

A aposta do Papa Francisco

Em declarações ao jornal alemão Welt am Sonntag, Zollner expressou o desejo de que o Papa Francisco tome medidas mais consistentes contra os abusos.

Para o jesuíta, neste campo, poderia ser criada uma maior segurança jurídica e os afectados poderiam ser acomodados no direito processual do Vaticano.

Destaca ainda que o Papa admitiu erros e fez da superação dos abusos uma questão central para a Igreja. Uma evolução que definiu como “uma curva de aprendizagem íngreme”.

A partir da sua posição na Gregoriana, Zollner defende que o seu trabalho não é “escrever directrizes para logo colocá-las na prateleira. É realmente abordar o assunto e ser abordado pelas vítimas”.

A prevenção dos abusos, afirma o jesuíta, é muito importante para a credibilidade da Igreja Católica.

 

Direitos dos envolvidos

Por outro lado, no portal católico alemão Katholisch.de também partilha que na Igreja não há “segurança jurídica quanto aos procedimentos”.

“Tampouco os direitos dos envolvidos no processo estão suficientemente esclarecidos: arguidos, vítimas, superiores...”, assinala, lamentando que não se exponha de forma explícita “quem pode dizer e saber o quê e quando”.

Além disso, Zollner dá um passo em frente para exigir uma reforma legislativa concreta: “a separação de poderes na Igreja”.

“O facto de os poderes legislativo, judiciário e executivo estarem unidos no bispo dificulta a transparência e a responsabilização”, detalha o maior especialista em abusos no mundo católico.

Por outro lado, comenta que nunca experimentou “qualquer resistência directa e orquestrada” ao seu trabalho.

“Tenho percebido que alguns se sentem muito desconfortáveis ​​com o assunto. Acham que não se deve maldizer a Igreja, mas sim defendê-la. Mas quase nunca mo dizem directamente”, admite.

Nesse sentido, destaca que “na Igreja, muitas vezes falta a coragem para se ser transparente, assumir responsabilidades e comunicar abertamente”.

 

Artigo de Mateo González Alonso, publicado em Vida Nueva Digital a 3 de Janeiro de 2022.