Arquidiocese de Braga -

28 dezembro 2021

João Paulo I beatificado a 4 de Setembro de 2022

Fotografia DR

DACS

Um decreto de 13 de Outubro de 2021 já tinha reconhecido o milagre de uma cura extraordinária por intercessão de João Paulo I.

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O Vaticano confirmou esta terça-feira que o Papa João Paulo I será beatificado a 4 de Setembro de 2022. A data foi oficialmente anunciada pela Congregação para as Causas dos Santos e a celebração vai ser presidida pelo Papa Francisco.

Albino Luciani é o sexto dos Papas do século XX a quem foi introduzida a Causa de Beatificação e Canonização que já levou ao culto da Igreja universal Pio X, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II. A Causa de Albino Luciani como Confessor da Fé foi inaugurada a 23 de Novembro de 2003 na diocese de Belluno-Feltre e encerrada a 9 de Novembro de 2017 com a proclamação das virtudes heróicas. Com o decreto de 13 de Outubro de 2021, foi reconhecido o milagre de uma cura extraordinária atribuída à intercessão de João Paulo I.

 

Ao lado dos pobres, sempre

Nascido a 17 de Outubro de 1912 em Forno di Canale (hoje Canale d'Agordo), na província de Belluno, norte de Itália, e falecido a 28 de Setembro de 1978 no Vaticano, Albino Luciani foi Papa apenas por 34 dias, um dos pontificados mais breves da história. Era filho de um operário socialista que trabalhava há muito tempo como emigrante na Suíça. No bilhete escrito pelo seu pai, dando-lhe o consentimento para entrar no seminário, lê-se: “Espero que quando fores padre, fiques ao lado dos pobres, porque Cristo estava ao lado deles”. Palavras que Luciani colocaria em prática durante toda a sua vida.

Albino foi ordenado sacerdote em 1935 e, em 1958, logo após a eleição de João XXIII, foi nomeado Bispo de Vittorio Veneto. Filho de uma terra pobre caracterizada pela emigração, mas também muito viva do ponto de vista social, e de uma Igreja caracterizada por grandes sacerdotes, Albino Luciani participou em todo o Concílio Ecuménico Vaticano II e aplicou as suas directrizes com entusiasmo.

Passou muito tempo no confessionário e foi um pastor próximo do seu povo. Durante os anos em que se discutia a legalidade da pílula anticoncepcional, pronunciou-se repetidamente a favor da abertura da Igreja sobre o seu uso, tendo escutado muitas famílias jovens.

Após a publicação da encíclica Humanae Vitae, na qual Paulo VI declarou a pílula moralmente ilícita em 1968, o bispo de Vittorio Veneto promoveu o documento, aderindo ao magistério do Pontífice. Paulo VI nomeou-o patriarca de Veneza no final de 1969 e criou-o cardeal em Março de 1973.

 

“Humilitas”

Albino Luciani, que escolheu a palavra “humilitas” para o seu brasão episcopal, foi um pastor que viveu sobriamente, firme no que é essencial na fé, aberto do ponto de vista social, próximo dos pobres e dos trabalhadores. Era intransigente quando se tratava do uso sem escrúpulos do dinheiro em detrimento do povo, como foi demonstrado pela sua firmeza durante um escândalo económico em Vittorio Veneto que envolveu um dos seus sacerdotes. No seu magistério, insistiu particularmente no tema da misericórdia.

Grande comunicador, escreveu um livro de sucesso intitulado “Illustrissimi”, com cartas escritas e enviadas aos grandes do passado com julgamentos sobre o presente. Deu particular importância à catequese e à necessidade de clareza dos que transmitem o conteúdo da fé. Após a morte de Paulo VI, foi eleito a 26 de Agosto de 1978 num conclave que durou um dia.

 

Homenagem aos Papas precedentes

Ao unir os nomes João e Paulo, não só homenageou os Papas que o quiseram como bispo e cardeal, mas também marca um caminho de continuidade na aplicação do Concílio. Foi o Papa que abandonou o uso do “nós”, do plurale maiestatis, e nos primeiros dias recusou o uso da sedes gestatoria (a liteira que transportava os Papas).

As audiências das quartas-feiras durante o seu breve pontificado foram encontros de catequese: o Papa falava sem texto escrito, citava poemas de memória, convidou um menino e um acólito a aproximarem-se e falou com eles. Num discurso improvisado, recordou ter passado fome enquanto criança e repetiu as palavras corajosas do seu predecessor sobre os “povos da fome” que questionam os “povos da opulência”.

 

Fama de santidade

Faleceu repentinamente na noite de 28 de Setembro de 1978. O Papa foi encontrado sem vida pela irmã que costumava levar café ao seu quarto de manhã. Em poucas semanas do seu pontificado, entrou no coração de milhões de pessoas pela sua simplicidade, humildade, as palavras em defesa dos pobres e pelo seu sorriso evangélico.

Muitas teorias foram construídas em torno da sua morte súbita e inesperada, com supostas conspirações usadas para vender livros e produzir filmes. Uma pesquisa documentada sobre a morte, que encerra definitivamente o caso, foi assinada pela vice-postuladora do processo de beatificação, Stefania Falasca (Cronaca di una morte).

A fama de santidade de Albino Luciani espalhou-se muito rapidamente. Muitas pessoas rezaram e rezam por ele. Muitas pessoas simples e até mesmo um episcopado inteiro – o do Brasil – pediram a abertura do processo que agora, após um procedimento ponderado e bem pensado, chegou à sua conclusão.


Artigos originais disponíveis em Avvenire e Vatican News