Arquidiocese de Braga -

21 dezembro 2021

Esperança e desespero

Fotografia DR

DACS com La Croix International

Devemos escolher qual vamos abraçar e partilhar com os outros. A escolha deve ser óbvia para aqueles de nós que estão a tentar seguir a Cristo e imitar o modo como viveu sobre a Terra.

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A Cidade Eterna está agora a fervilhar, à medida que entramos nesta última semana antes do Natal. Parece que há muito mais visitantes de fora da cidade e turistas do exterior do que havia no ano passado nesta altura.

Uma verdadeira agitação tomou conta de Roma! 

Mas isso não significa que todas as pessoas estejam felizes ou esperançosas. Uma greve de transportes públicos na semana passada trouxe muito mais carros particulares do que o normal para as ruas e, no meio do tráfego congestionado, havia muitas pessoas agitadas e agressivas atrás do volante.

Enquanto isso, as pessoas estão a tentar viver como se a pandemia de Covid tivesse acabado. Mas o uso obrigatório das máscaras em ambientes fechados e mesmo em espaços exteriores lotados tornou-se exasperante para muitos.

Cobrir as nossas faces e manter a distância são lembretes constantes e desagradáveis de que ainda não escapamos ao perigo.

O Papa Francisco disse repetidamente – como na última sexta-feira, a um grupo de embaixadores – que a humanidade deve emergir da crise de saúde de um modo melhor e mais fraterno do que como entrou nela.

Mas será que as pessoas estão a ouvir?

Para muitos, 2021 foi outro ano difícil e deprimente, especialmente para aqueles que têm dificuldade em ter paciência, ou em aceitar a realidade de que a pandemia nunca terminará até que as pessoas finalmente estejam vacinadas.

 

Esperança e desespero

E agora que a variante Ómicron se está a espalhar rapidamente pelo mundo, muitas pessoas estão a ser dominadas por uma sensação de tristeza e até de desespero.

Não é apenas a Ómicron, mas também uma sensação de que a história não está a ir para lugar nenhum. Aumenta a violência, as ameaças de guerra, a catástrofe ecológica... Muitos jovens dizem que não querem ter filhos porque não querem trazê-los a um mundo sem futuro. Mas nós acreditamos no futuro de Deus.

Estas são as palavras de Timothy Radcliffe, o ex-mestre da Ordem dos Pregadores. Proferiu-as na última sexta-feira, na homilia que fez na missa matinal que celebrou com os seus irmãos dominicanos em Oxford, Inglaterra.

O que disse a seguir é algo que todos devemos ponderar.

“Adoro a palavra «confiança» – do latim con fidens, «acreditar juntos». Neste tempo de espera, devemos transmitir confiança uns aos outros... Devemos partilhar a nossa esperança. Esperança e desespero são contagiosos. E cada um de nós escolhe se quer ser uma fonte de esperança ou de desespero”.

Esperança ou desespero. Devemos escolher qual vamos abraçar e partilhar com os outros.

A escolha deve ser óbvia para aqueles de nós que estão a tentar seguir a Cristo e imitar o modo como viveu sobre a Terra.

 

O que significa ser cristão

Mas não é óbvio, ou é? Frequentemente, somos tentados a optar pela tristeza e pelo desespero. Porquê? Talvez porque nos falte paciência e não consigamos olhar o mundo de longe e com uma perspectiva mais longa.

Radcliffe começou a sua homilia lembrando como John Henry Newman definiu o que significa ser cristão. Significa “esperar por Cristo”. Disse, então, que “esperamos com confiança” e “não procrastinamos”.

Reflectindo sobre a genealogia de Jesus, o Messias que Mateus apresenta no início do seu relato do Evangelho, o ex-mestre dominicano disse que a maioria das pessoas mencionadas nessas 42 gerações são figuras amplamente desconhecidas que aparentemente realizaram muito pouca coisa.

“É uma história que não vai a lugar nenhum... e parece uma história que não leva ao cumprimento”, disse.

Havia prostitutas, assassinos e adúlteros na linhagem real de Jesus. Ah, e houve a deportação da Babilónia também. Em quase todas as conjunturas, havia motivos para desesperar. Nada parecia esperançoso.

 

Viver no mundo real, o mundo de Deus

Parece o nosso próprio mundo e a nossa própria Igreja, por vezes. Também nos podem levar ao desespero.

Ainda assim, como aponta Radcliffe, esta árvore genealógica deteriorada estava, na verdade, “a permitir o nascimento de Jesus Cristo”. Estava realmente a levar ao cumprimento o tempo todo – o cumprimento da promessa de Deus.

Como pessoas que professam ser cristãs, devemos escolher a esperança. Novamente, e novamente, e novamente outra vez.

“Esta esperança significa que podemos agir agora como aqueles que acreditam na promessa. Na antífona que iremos cantar esta noite, pediremos à Sabedoria que nos ensine o caminho da prudência. E a prudência não é ser-se cauteloso, na tradição medieval. A prudência é viver no mundo real. E o mundo real é o mundo de Deus. E nesse mundo nós estamos a viajar em direcção ao cumprimento”.

Estas belas e encorajadoras reflexões são ainda mais extraordinárias porque o homem que as proferiu acaba de superar uma provação de saúde extremamente desafiante, passando os últimos meses a recuperar de uma grande intervenção cirúrgica.

Ouvi-lo pregar com tanta clareza e ousadia é outro sinal de esperança. Concluiu a homilia assim:

“Portanto, não procrastinemos. Vamos agir hoje. Quem são as pessoas a quem devemos pedir perdão? Hoje. Quem são as pessoas a quem eu devo perdoar? Quem são as pessoas a quem eu devo estender a minha mão com bondade? Não há tempo a perder”.

Artigo de Robert Mickens, publicado no La Croix International a 17 de Dezembro de 2021.