Arquidiocese de Braga -
15 dezembro 2021
Julgamento por fraude no Vaticano sofre mais atrasos
DACS com AP
Tribunal adiou a tomada de qualquer decisão até que os procuradores terminem a repetição da investigação a quatro dos dez arguidos originais.
O julgamento por fraude e apropriação indevida, que começou em Julho com grande atenção mediática, sofreu mais um atraso na terça-feira quando o tribunal adiou a tomada de qualquer decisão até que os procuradores terminem a repetição da investigação a quatro dos dez arguidos originais.
O adiamento significa que o julgamento, que já estava a decorrer a passo de caracol até pelos padrões italianos, não vai avançar até meados de Fevereiro, pelo menos. O presidente do tribunal, Giuseppe Pignatone, disse que esperava que então possa “finalmente” unir as duas partes do julgamento e começar a sério.
Pignatone descreveu o estado actual do julgamento como um “local de obras”, e disse que “a chave é que o julgamento precisa de mais tempo antes de poder começar a sério”.
Depois de dois anos de investigação, os procuradores do Vaticano acusaram em Julho 10 pessoas – incluindo o outrora poderoso cardeal Angelo Becciu – com uma série de crimes financeiros relacionados com o investimento de 350 milhões de euros da Santa Sé numa propriedade residencial de Londres.
Os procuradores alegam que alguns funcionários do Vaticano e corretores italianos extorquiram milhões de euros à Santa Sé em taxas e comissões, sendo a maioria do dinheiro doações dos fiéis. Um corretor foi acusado de extorquir o Vaticano em 15 milhões de euros para ter controlo total do edifício. Os acusados negam qualquer crime.
O papel do Papa Francisco no negócio também tem estado sob escrutínio. Várias testemunhas disseram que o próprio aprovou negociar um acordo de saída do negócio com o corretor acusado de extorsão.
Em Outubro, Pignatone ordenou que os procuradores desistissem as acusações de quatro dos suspeitos e recomeçassem a investigação por terem falhado em respeitar procedimentos básicos durante a investigação. Esses procedimentos têm o objectivo de proteger os direitos dos acusados, incluindo convocá-los para interrogatório para que possam responder às acusações.
Na terça-feira, a procuradora assistente Gianluc Perone disse que, até à data, os procuradores apenas tinham falado com uma pessoa, e que esperavam saber a 20 de Janeiro se os procuradores iriam pedir novas acusações ou que as acusações sejam retiradas.
Pignatone marcou uma audiência para 25 de Janeiro – “espero que seja a última”, disse – e afirmou que esperava que, em meados de Fevereiro, pudesse unir os procedimentos contra ambos os conjuntos de acusados e começar o julgamento.
O juiz presidente também tem repetidamente ordenado que os procuradores entreguem à defesa as gravações de vídeo de um suspeito que se tornou testemunha vital para que os actuais suspeitos possam preparar adequadamente a defesa. Os procuradores inicialmente concordaram, tendo depois recusado fazê-lo e, de seguida, entregue a maioria das gravações com cortes que, em alguns casos, eram de uma hora.
Na terça, Pignatone anunciou que tinha nomeado especialistas técnicos para fornecer transcrições da testemunha principal, o monsenhor Alberto Perlasca, assim como de todos os outros acusados. Não tomou uma decisão, no entanto, sobre os pedidos da defesa de receber as gravações na íntegra.
Numa moção, os procuradores reforçaram a recusa de entregar as gravações na íntegra, afirmando que os cortes eram de informação não relacionada com o julgamento que é necessário manter secreta por razões relacionadas com a investigação. Para além disso, recusaram as alegações da defesa de que havia documentos em falta nas quase 30 mil páginas de provas reunidas na investigação.
Os procuradores escreveram que as alegações de provas em falta para um dos arguidos, Cecilia Marogona – que foi consultora de segurança do Vaticano – são “surpreendentes, assim como radicalmente infundadas” porque os documentos estão todos disponíveis para consulta da defesa, e indicaram onde é que os advogados poderiam encontrar os materiais.
Artigo original de Nicole Winfield, Associated Press.
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