Arquidiocese de Braga -
24 novembro 2021
O último dos monges Tibhirinos juntou-se aos seus irmãos
DACS
Jean-Pierre Schumacher morreu no Domingo, aos 97 anos, num mosteiro Trapista em Marrocos.
O padre Trapista de 97 anos já tinha morrido quando os seus companheiros monges em Midelt Priory foram vê-lo depois da Eucaristia. O sacerdote tinha recebido a unção dos enfermos naquela manhã.
Schumacher nasceu em 1924, em Lorraine, no nordeste da França. Foi criado numa família católica de classe trabalhadora de seis filhos e educado pelos Padres Maristas.
Ordenado sacerdote em 1953, ingressou na Abadia Trapista de Notre-Dame de Timadeuc, na Bretanha. A pedido do arcebispo de Argel, ele e três outros monges foram à Argélia em 1964 para dar nova vida à Abadia de Nossa Senhora do Atlas em Tibhirine. O objectivo era “construir uma pequena comunidade no meio do mundo muçulmano, vivendo pobres no meio dos pobres”.
Um desejo ardente de diálogo com os muçulmanos
Como em qualquer mosteiro Trapista, a vida dos monges era de oração e trabalho.
Apesar do desejo ardente de estabelecerem um diálogo com os muçulmanos, os monges sentiram o perigo a aumentar durante a “Década Negra” da guerra civil da Argélia, na década de 1990. Mas decidiram colectivamente permanecer no mosteiro, apesar das ameaças.
Durante a noite de 26 para 27 de Março de 1996, homens armados sequestraram sete dos monges.
O padre Jean-Pierre estava no turno da noite no mosteiro. Estava a rezar de joelhos ao lado da cama quando a maçaneta da porta começou a ranger.
“Estava a girar no vazio porque, como todas as noites, eu tinha colocado a tranca, por segurança”, contou num livro que escreveu em 2012 com o jornalista francês Nicolas Ballet.
Os captores pensaram que havia apenas sete monges, quando na verdade eram nove. Acabaram por matá-los. Jean-Pierre perguntou-se sempre porque é que ele e outro monge, Amédée, sobreviveram ao massacre quando as cabeças dos sete confrades sequestrados foram encontradas numa vala não muito longe da abadia.
“Ama o irmão, odeia o vício”
No fim, viu o seu destino nesta frase que uma freira suíça partilhou com ele: “Há pessoas que são levadas a testemunhar pelo dom das suas vidas e outras que o fazem através das suas vidas”. Jean-Pierre deu assim testemunho, antes de tudo, da força do martírio dos seus irmãos. Mas confessou que nunca lamentou a perda dos seus companheiros monges.
“Não estou triste, não fiquei triste”, disse. “Os ,eus irmãos chegaram ao fim, a ponto de oferecer todo o seu ser a Deus, sem nenhum desejo de sacrifício, mas em obediência ao ideal de vida monástica que nos une além da vida terrena”, disse Jean-Pierre.
Os Monges de Tibhirine foram beatificados em Dezembro de 2018 em Oran, juntamente com doze outros religiosos mortos na Argélia durante a “Década Negra”.
Quatro anos após o assassinato dos seus confrades, Jean-Pierre mudou-se para a pequena comunidade Trapista em Midelt (Marrocos), onde se juntou a outros oito monges. Muitas vezes perguntavam-lhe sobre a questão do perdão.
“Só Deus o pode conceder se o culpado pedir a Deus”, dizia. Mas então acrescentava que seguia a instrução de São Bento para lidar com alguém que cometeu uma falta grave – “Ama o irmão, odeia o vício”.
“A morte dos santos é uma semente para os Cristãos”
A vida de Jean-Pierre ganhou uma luz nova e inesperada em 2010, quando o filme de sucesso de Xavier Beauvois, “Of Gods and Men”, que conta a história dos Trapistas de Tibhirine de 1993 até ao seu rapto em 1996, foi lançado.
Jean-Pierre disse que o filme era “muito fiel” à mensagem de fraternidade dos Trapistas, especialmente dirigida os muçulmanos.
“A beleza radiante deste filme reforçou a minha convicção de que a morte dos meus irmãos não foi em vão. A morte dos santos é uma semente dos Cristãos”, disse no seu livro.
O Padre Jean-Pierre encontrou-se com o Papa Francisco em 2019 durante a visita Papal a Marrocos.
O seu funeral será celebrado no dia 30 de Novembro no Priorado de Midelt em Marrocos, onde morreu.
Artigo de Héloïse de Neuville, publicado no La Croix Internaational a 23 de Novembro de 2021.
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