Arquidiocese de Braga -

23 novembro 2021

É assim que as Missionárias Franciscanas de Cristo têm tornado sustentável a sua dedicação aos vulneráveis ​

Fotografia DR

DACS com Vida Nueva Digital

Todos os anos, cerca de 40.000 euros saem da casa mãe para as oito comunidades no sul e nordeste da Etiópia e as três na Tanzânia, onde as Irmãs Franciscanas Missionárias de Cristo estabeleceram clínicas, centros infantis e escolas.

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Mais de cem anos passaram desde que Teresa de Jesus Crucificado, também conhecida como Faustina Zavagli, correu para a Capela de Santo Onofre em Rimini. Prostrou-se ao pé do grande quadro da Crucificação. Com o olhar fixo nos braços abertos de Cristo, a freira abriu-Lhe o seu coração angustiado. O dinheiro tinha acabado.

Os cofres da fraternidade tinham sido esvaziados pela necessidade de colocar a estudar as muitas meninas que tinham sido privadas da educação pela pobreza. No dia seguinte não haveria como comprar comida para as pequenas, que vinham das áreas mais pobres e eram acolhidas nessa primeira casa. A Teresa de Jesús Crucificado nunca faltou criatividade desde que iniciou este projecto em 1882. Tinha quase cinquenta anos e teve que abandonar a vida contemplativa por motivos de saúde.

Sentia-se como se estivesse num beco sem saída. Então voltou-se para o Crucifixo: “Senhor, cuida tu mesmo”. Caso contrário, não haveria escolha a não ser vender uma preciosa pintura. Felizmente, não foi necessário. Os testemunhos relatam que, pouco depois, a fundadora das Irmãs Franciscanas Missionárias de Cristo encontrou a soma de que necessitava para colocar em prática a sua intuição: dar educação e oportunidades a quem sofre a injustiça.

Ao passar pelo quadro, a Irmã Lorella Chiaruzzi, que há três anos foi chamada para dirigir o instituto como Madre Superiora, muitas vezes pensa naquele episódio. Incluindo o fardo de ter que sustentar uma pequena família, mas não tanto: 158 Irmãs espalhadas pela Itália, América Latina e África.

Mantendo a fé no testamento daquele Francisco cujo carisma nutre o instituto: “Trabalhei com as minhas mãos e quero trabalhar; e desejo firmemente que todos os outros frades trabalhem num ofício compatível com a honestidade. Quem não sabe, que aprenda, não por cobiça de receber a recompensa pelo trabalho, mas para dar o exemplo e afastar a ociosidade”.

 

Uma média empresa

“O ímpeto, a inventividade e a confiança na Providência são os pilares do nosso plano de negócios para o desenvolvimento da empresa”, brinca a Irmã Lorella.

Se em termos de espírito e missão não há como quantificá-la, em números, a congregação assemelha-lhe a uma média empresa que, para se manter de pé, deve encontrar recursos para pagar a cem funcionários, manter as suas estruturas e cumprir com as obrigações, burocráticas e fiscais.

Além de garantir a manutenção das freiras. Não é de estranhar que a Irmã Lorella, de vez em quando, sinta a mesma angústia que Teresa diante do Crucifixo.

“Sim, tenho que admitir que atribuo grande importância às questões económicas. Nas contas, ajudam-me duas funcionárias e um gestor. Cada casa tem a sua própria contabilidade”.

Outras quatro irmãs, como manifestação de sinodalidade, ajudam a Superiora nas tarefas de governo. Porque os problemas que acabam no escritório da irmã Lorella são muitos. São os problema próprios de cinco escolas, duas residências para idosos e uma casa de retiros. Depois, há o noviciado em Assis, o corpo discente em Roma e a recente experiência intercongregacional na Diocese de Spoleto. E as missões no Brasil, Etiópia e Tanzânia. Há também uma experiência nova e emergente em Moçambique.

Os projectos exteriores mantêm-se com trabalho no campo e microempresas, por exemplo, com uma fornalha criada para gerar uma pequena renda, bem como para dar trabalho aos mais vulneráveis ​​da comunidade, especialmente mulheres.

“Só o projecto brasileiro é autónomo graças ao salário mínimo que as três irmãs recebem pelo serviço pastoral na paróquia. Os outros projectos dão mais trabalho, mas é por serem maiores e mais exigentes e precisam que continuemos a apoiá-los a partir de Itália. Fazemos isto com angariações de fundos, doações de benfeitores e mercados solidários. E, sobretudo, com o fundo do secretariado missionário que está cada vez menor”.

Todos os anos, cerca de 40.000 euros saem da casa mãe para as oito comunidades no sul e nordeste da Etiópia e as três na Tanzânia, onde as Irmãs Franciscanas Missionárias de Cristo estabeleceram clínicas, centros infantis e escolas. Em 2019 rondavam os 4,8 milhões de euros face a 4,5 milhões de rendimentos.

Estes últimos provêm das mensalidades dos lares de idosos e escolas particulares. Mas estas últimas estão a diminuir porque cada vez nascem menos crianças. Enquanto isso, o custo do pessoal está a aumentar devido ao facto de ser preciso contratar cada vez mais leigos, já que não há religiosas em número suficiente para assumir alguns desses empregos.

 

São José contra a parede

A pandemia atingiu realidades já frágeis, causando um terramoto.

“Os pais das crianças eram generosos. Muitos queriam pagar a mensalidade até quando não havia aulas presenciais para os pequenos, porque tivemos que fechar duas creches e uma casa de repouso. Alguns dos nossos hóspedes mais velhos morreram do vírus na segunda vaga. Mantemos as residências como podemos. Felizmente, temos um colchão graças a alguns investimentos que fizemos, como um fundo de pensões do qual é possível retirar algumas quantias antecipadamente, se necessário. A nossa principal fonte de rendimento agora são as pensões das cinquenta irmãs que as recebem de um total de 69 residentes na Itália. Em cada fraternidade os recursos são partilhados e, graças às jubiladas, todas estamos a avançar”.

Os números não são elevados, dado que a maioria delas recebe apenas cerca de 650 euros porque não descontaram o suficiente, uma vez que passaram a vida de missão em missão.

Fazer face às despesas é um desafio. Tanto que Lorella às vezes se sente tentada a seguir o exemplo de uma de suas irmãs mais velhas e colocar a estátua de São José contra a parede na esperança de convencê-lo a interceder para superar as dificuldades.

“Pior do que esta crise, existe apenas o drama de desperdiçá-la”, diz Lorella, parafraseando o Papa Francisco.

 

Purificação

“A Covid obriga-nos a tomar conhecimento de uma série de problemas já presentes para enfrentá-los com coragem e abertura ao novo. E uma pitada de humor, como a das irmãs do pós-guerra que se sustentavam com o trabalho nos acampamentos de Verão. A pandemia pode ser uma grande oportunidade de «purificação». Há muito que as congregações fazem o mesmo e talvez seja hora de voltar às origens do carisma, de renunciar ao que não é adequado para acabar com o que já não serve, sem remorsos. Estamos a viver uma grande experiência da Providência”.

A Superiora enumera vários exemplos que vão desde as embalagens de alimentos que a Protecção Civil lhes deu até ao presente inesperado de uma empresa com o qual puderam abrir um poço numa missão.

“É isso que nos dá força para seguir em frente”, conclui Lorella que, em vez de contornar a estátua de São José, nos momentos de dificuldade caminha de madrugada pela praia de Rimini. “Repito para mim mesma: «Lorella, a congregação não é tua. Já existe há 136 anos porque o Senhor assim o deseja. Respira, Ele vai solucionar, como sempre»”.

 

Artigo de Lucia Capuzzi, publicado em Vida Nueva Digital a 23 de Novembro de 2021.