Arquidiocese de Braga -
5 novembro 2021
Mulher “prega” na eucaristia de encerramento do encontro da Família Inaciana reunida em Marselha
DACS com La Croix International
A Irmã Christine Danel, Superiora Geral da Congregação de Xavières, focou-se na santidade à luz dos escândalos de abusos sexuais na Igreja.
“Estou impressionada com o número de pessoas que me agradeceram e parabenizaram por esta meditação no Dia de Todos os Santos”, disse Christine Danel, Superiora Geral das Irmãs Xavière ou Missionárias de Jesus Cristo.
A Superiora de 55 anos reflectiu sobre a santidade logo após a homilia de um bispo. A ocasião foi a missa de encerramento de uma celebração de uma semana da Família Inaciana, que inclui os Jesuítas, numerosas congregações religiosas femininas e outros grupos ligados à espiritualidade de Santo Inácio de Loyola.
“Eles não estavam tão interessados no que eu disse quanto no facto de ter sido uma mulher a falar naquele momento da missa”, disse a Irmã Danel ao La Croix. “É verdade que isto não acontece com frequência”, sublinhou.
O Arcebispo Jean-Marc Aveline, de Marselha, que presidiu à Liturgia do Dia de Todos os Santos, pregou sobre a passagem do Evangelho do dia. Mas convidou então a irmã Christine, cuja congregação religiosa foi fundada na sua diocese há 100 anos, a oferecer “alguns caminhos para meditação”.
O padre François Boëdec, responsável pela província jesuíta da Europa Ocidental, propôs a ideia. A Irmã Christine, vestida com uma veste roxa que os membros de ordens religiosas de inspiração inaciana usaram durante o encontro em Marselha, falou por pouco mais de cinco minutos.
“Acesso à voz e ao governo”
“Todos os santos: como ousamos falar de santidade depois de descobrirmos a extensão dos crimes perpetrados na nossa Igreja?”, começou por dizer.
“Como é que a sexualidade, o poder e o sagrado se podem ter tornado tão mal orientados? Precisamos de muita humildade, nas nossas palavras, e de muita coragem, nas nossas acções, para nos reformarmos”, disse a Ir. Danel, Superiora das Missionárias de Jesus desde 2017.
Exortou todos aqueles que estavam reunidos a não confundirem “santos” com “anjos” e a desconfiarem da ilusão de perfeição.
"É um engodo que nos pode levar à frustração, rancor ou hipocrisia e a mascarar as nossas falhas”, alertou.
A Irmã fez eco de algumas das propostas que a Comissão Independente da França sobre Abuso Sexual na Igreja (CIASE) emitiu no relatório publicado no mês passado.
“Temos um longo caminho a percorrer para desenvolver esta alteridade, esta complementaridade, em todas as áreas da Igreja, incluindo o acesso a ter uma voz e ao governo”, disse.
Esse “acesso a ter uma voz” ainda é um trabalho em progresso, considerando que apenas padres e diáconos podem pregar a homilia na missa. É muito raro ouvir-se uma mulher falar na igreja após a proclamação do Evangelho, embora os leigos possam comentar as leituras bíblicas durante a Liturgia da Palavra (com ou sem a Comunhão do tabernáculo) na ausência de um sacerdote – isto é, quando a Eucaristia não é celebrada.
Mas essa questão de abrir o ministério da pregação aos leigos tem-se tornado um tema recorrente em várias partes da Igreja. Há um grande apoio a esta ideia na Alemanha, por exemplo.
Padres espalhados pela igreja
O Papa Francisco emitiu um motu proprio em Janeiro passado que permite especificamente que as mulheres sejam oficialmente nomeadas para os ministérios do leitor e do acólito. Simbolicamente, o texto magisterial afirma que as mulheres têm um lugar no altar. Mas isto é verdade apenas para os ministérios menores.
Actualmente, as mulheres não podem ser ordenadas diaconisas ou sacerdotes, as únicas pessoas que podem pregar a homilia na missa. Permitir que um leigo ofereça uma meditação directamente após a homilia seria um meio termo satisfatório?
“Possivelmente, poderia responder a uma forte necessidade de hoje haver uma pluralidade de vozes na Igreja e uma visão da Palavra de Deus diferente da do sacerdote”, disse a irmã Christine.
A Família Inaciana permitiu este e outros gestos simbólicos durante o encontro de Marselha. Durante a Missa do Dia de Todos os Santos, por exemplo, apenas uma minoria dos padres presentes estava à volta do altar. A maioria estava espalhada pela igreja, de alva, e até mesmo alguns na fila de trás.
O leccionário foi levado por uma procissão de crianças liderada por uma menina. E, durante a vigília de oração da noite anterior, uma mulher deu a bênção final. Mais precisamente, ela convidou todos os participantes a levantarem as mãos para se abençoarem uns aos outros.
Artigo de Mélinée Le Priol, publicado no La Croix International a 3 de Novembro de 2021.
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