Arquidiocese de Braga -

4 outubro 2021

Cardeal Czerny, um ano depois da “Fratelli tutti”: “Longe de ser utópica, é realismo comprometido”

Fotografia Jesuítas do Canadá

DACS

O cardeal jesuíta responsável pelo lançamento da encíclica social do Papa assinala que “a amizade social entre muçulmanos e católicos não só é possível como satisfatória.”

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“Longe de ser utópica, tem um realismo comprometido que dá esperança”. É a reflexão lançada pelo cardeal jesuíta Michael Czerny, apenas um ano depois de o Papa Francisco ter assinado a encíclica “Fratelli tutti” em Assis, convertida numa referência como um roteiro “em cristão” para esta era pós-pandemia.

É o que afirma uma entrevista ao jornal La Razón, feita pelo subsecretário da secção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano e Integral. 
“Se realmente lêssemos a «Fratelli tutti» com o coração, não nos perguntaríamos se a fraternidade é uma utopia irrealizável”, explica o cardeal responsável por lançar este documento magisterial.

 

Fé e esperança

“Diante de um grande desafio como este, é imperativo responder imediatamente com fé e esperança e com grande generosidade”, afirma com entusiasmo sobre a sua missão. Prova disso é a criatividade do Dicastério para divulgar a “Fratelli tutti”.

Na verdade, é a primeira vez que uma encíclica tem uma campanha de divulgação virtual, especialmente nas redes sociais, um projecto com o qual colaboraram cerca de 300 entidades para explicar o que é a fraternidade universal e a amizade social e como torná-las realidade. 
Marta Isabel González, funcionária vaticana responsável pela Comunicação e Imprensa no Dicastério, atesta esta iniciativa pioneira: “Esta campanha está alinhada com a comunicação actual, colaborativa, aberta e dentro de uma igreja sinodal, a pedido do Papa Francisco”.

 

Desafio global

É precisamente esta consciência de abertura que Michael Czerny transmite numa entrevista em que apela à promoção do diálogo inter-religioso: “A amizade social entre muçulmanos e católicos não só é possível, como satisfatória, além de ser essencial para assumir com responsabilidade os enormes desafios de um mundo global e desfrutar das inúmeras riquezas de um mundo intercultural”.

O que diria o Cardeal Czerny a quem pensa que esta encíclica e que Francisco são anticapitalistas e populistas? 
“Convido-vos a ler e reler a encíclica, com calma, e a escutar o Papa Francisco, em vez de caírem em rótulos que não ajudam muito”, recomenda o jesuíta, para quem a parábola do Bom Samaritano é suficiente para compreender as coordenadas em que o Pontífice argentino se move.

 

Voz incómoda

D. Czerny assume que Francisco incomoda uns e outros: “A voz da denúncia de Jesus incomoda. A parábola do Bom Samaritano, com as suas implicações sociais, políticas e económicas é incómoda ”.

Além disso, o subsecretário do Vaticano deixa um recado aos políticos, assim como o Papa faz na encíclica. Assim, considera que, hoje, “há muitos políticos cujos nomes são pouco conhecidos, porque vivem a sua vocação não para a promoção dos próprios interesses, mas ao serviço do bem comum. Em todos os lados pode haver alguém a quem cabe governar, que sabe ouvir o ponto de vista do outro, facilitando o espaço de todos”.

Artigo de vida Nueva Digital, publicado a 3 de Outubro de 2021.