Arquidiocese de Braga -
29 setembro 2021
Líderes da Igreja na Venezuela destacam desafios que os refugiados enfrentam
DACS com La Croix International
Os mais de 5 milhões que fugiram têm que suportar uma condição de integração hostil nos países anfitriões e extorsão, sequestro e tráfico de pessoas no caminho para o seu destino.
A Cáritas Venezuela está a alertar as pessoas sobre a dura realidade da complexa emergência humanitária no país, onde o preço de uma xícara de café aumentou 2597% de Agosto de 2020 a Agosto de 2021 (…).
A Pastoral Social da Cáritas Venezuela quer apresentar a realidade dos migrantes venezuelanos a todo o mundo através de uma série de materiais elaborados para divulgação nas redes sociais.
A Conferência Episcopal da Venezuela (CEV), em nota à Fides, destacou que este ano permanece caracterizado pelo impacto adverso da pandemia de COVID-19, tendo tido um impacto significativo sobre os grupos mais vulneráveis da sociedade.
Mais de 5,6 milhões de venezuelanos numa população de 30 milhões são refugiados em mais de 17 países, apesar de terem as maiores reservas de petróleo do mundo e de ser um país que não está em guerra.
As pessoas estão a fugir da Venezuela em busca de alternativas devido à deterioração dos serviços básicos, hiperinflação, colapso económico, falta de trabalho e fome. Especialistas em direitos humanos descreveram a crise de migrantes no país da América do Sul como a maior onda migratória que a região experimentou nos últimos 50 anos.
Aqueles que emigraram têm que suportar uma condição de integração hostil nos países anfitriões e extorsão, sequestro e tráfico de pessoas no caminho para o seu destino. Em linha com a mensagem deste ano – “Rumo a um «nós» cada vez mais amplo”, a CEV sublinhou o apelo do Papa Francisco para um caminho conjunto em direcção a um “nós” cada vez mais amplo, “em prol da renovação da família humana, construindo juntos um futuro de justiça e paz, e garantindo que ninguém seja deixado para trás”.
O Papa Francisco exortou a comunidade global “a construir um mundo mais inclusivo, que não exclua ninguém”. O êxodo venezuelano deve-se à escassez de combustível, alimentos e medicamentos, bem como à agitação política no país.
Ultimamente, o risco da travessia por terra e da COVID-19 levaram os venezuelanos desesperados a voltarem-se para uma rota marítima mais perigosa, onde o contrabando de pessoas, o narcotráfico, naufrágios e a pirataria os aguardam. As perigosas vias de navegação tornaram-se um meio de transporte, já que há uma corrida desesperada para obter o estatuto de refugiado no país.
Desde 2014, o número de venezuelanos que procura o estatuto cresceu 8000%. Mas foram menos de 145 mil os venezuelanos que o conseguiram, de acordo com a ACNUR, a agência das Nações Unidas para os refugiados.
A crise humanitária espalhou-se para os países vizinhos da Venezuela e transformou-se numa crise regional. Dos 5,6 milhões de venezuelanos que deixaram o seu país, 4,6 milhões estão alojados nas regiões da América Latina e do Caribe. Mais do que qualquer outro país, a Colômbia acolhe 1,7 milhões de venezuelanos e concedeu um estatuto de protecção temporária de 10 anos a mais de 1,7 milhões de venezuelanos em Fevereiro deste ano.
O governo dos EUA seguiu o exemplo com um estatuto de proteção temporária para cerca de 329 mil venezuelanos. Os observadores dizem que a comunidade internacional ainda não acordou para o escalar da catástrofe, classificando-a antes como uma mera crise regional.
As calamidades humanitárias e económicas na Venezuela também são agravadas por um conflito entre Juan Guaidó, líder da Assembleia Nacional e reconhecido pelos Estados Unidos e dezenas de outras nações como presidente interino, e Nicolas Maduro, de 58 anos, que venceu uma disputada eleição em Maio de 2018.
O povo da Venezuela, como observou a assembleia dos bispos católicos venezuelanos na sua 115ª Plenária em Janeiro, “está a sofrer as terríveis consequências de um modelo económico, imposto por um regime e ideologia de tipo comunista, que empobreceu a todos, especialmente os mais fracos”.
Uma transição democrática, acrescentou a Assembleia, é difícil de conseguir no meio da desqualificação dos membros da oposição, intimidação e ameaça do actual regime que chegou ao poder através de “eleições ilegítimas”.
Artigo publicado no La Croix International a 27 de Setembro de 2021.
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