Arquidiocese de Braga -

28 setembro 2021

Teólogo afirma que a juventude da Igreja africana terá impacto no próximo Sínodo

Fotografia Juste Hlannon /LCA

DACS com La Croix International

Reitor do Seminário no sul de Benin afirma que a Igreja na África conhece bem a expressão sinodal da Era Apostólica – “o Espírito Santo e nós próprios resolvemos...”.

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Ambroise Kinhoun é um sacerdote e teólogo que actua como reitor do Seminário Maior Bispo Louis Parisot em Tchanvédji, no sul de Benin.

Como a fase preparatória para a Assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade começa nas dioceses locais a 17 de Outubro, o responsável faz propostas para uma participação única da Igreja na África.

 

Que relevância tem para a Igreja na África uma assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade?

Chegou a hora de uma conversão mais genuína à Igreja de Cristo.

Graças a  Deus, o tema deste Sínodo irá reacender o aggiornamento que o Concílio Vaticano II convocou para toda a Igreja.

De facto, a reflexão sobre a sinodalidade é, antes de tudo, uma meditação sobre a natureza e a missão da Igreja de Cristo.

Sem uma redescoberta profunda do mistério da Igreja, o debate sobre a sinodalidade será reduzido a uma questão de método e pedagogia, talvez eficaz, mas em última análise mundana e, portanto, alheia à própria verdade da Igreja.

O Sínodo sobre a sinodalidade é, transversalmente, um Sínodo sobre a Igreja.

Dito isto, numa África em que o encontro com Cristo está, progressivamente, a tocar as fibras culturais, um Sínodo sobre a Igreja é uma graça de conversão para a Igreja: tornar-se Igreja e agir como Igreja.

O nosso cristianismo é verdadeiramente eclesial? Quais são os seus sinais?

Como bem disse o grande Santo Africano Agostinho de Hipona (+430): “Cada um de nós recebe o Espírito Santo na medida em que ama a Igreja”.

Será que a nossa ligação a Cristo se tornou em “amor pela Igreja?”.Estamos a caminhar em direcção a uma maturidade eclesial.

 

Qual é que pode ser a contribuição para este Sínodo que é específica da Igreja de África?

Alguns já indicaram a riqueza da experiência da Igreja na África como a “Família de Deus”.

Creio que a juventude da Igreja em África terá uma contribuição decisiva.

Em África, conhecemos e ainda vivemos uma era apostólica e patrística. Devemos dotar o Catolicismo deste ardor das origens.

Sabemos bem o que significa a perseguição. Iremos, portanto, ao Sínodo com o “sangue dos nossos mártires” e as relíquias dos nossos santos, especialmente daqueles que ainda não foram canonizados.

Eles são o método da fundação e influência das nossas comunidades eclesiais.

O apostolado da família Cristã, da infância missionária e dos jovens – onde a oração comunitária é um caldeirão cultural da escuta de Deus e dos outros tendo em vista decisões importantes – são todos sinais de uma sinodalidade concreta.

Em suma, a Igreja em África sabe bem o que significa esta expressão dos apóstolos em Jerusalém no ano 50: “o Espírito Santo e nós próprios resolvemos…” (At 15, 28).

A sinodalidade não é, portanto, uma consulta democrática, mas antes a arte de caminhar em conjunto com o Espírito Santo, alma da Igreja.

 

O que propõe como contribuição única da Igreja Africana?

Temos uma concepção tradicional de autoridade e poder que constitui um fardo para a prática da subsidiariedade e da colegialidade como expressões concretas da comunhão eclesial. Com base nisto, atrevo-me a fazer três propostas.

Em primeiro lugar, uma avaliação crítica do modus governandi (a função de governo) no regime Africano: deixar que uma plataforma seja usada para dar a impressão que o clero cede em questões de administração e governo. Perguntemos ao povo de Deus.

O episcopado não é “a síntese dos ministérios”, mas antes “o ministério da síntese”. Este espírito é suficientemente percebido no exercício do ministério episcopal? Como é que o sacerdote na África é visto, especialmente pelos jovens e crianças?

Nas nossas dioceses, os instrumentos da sinodalidade, como o conselho de consultores, o conselho sacerdotal, o conselho pastoral, etc., são funcionais? E como?

Em segundo lugar, a formação dos leigos para a liderança cristã: se a sinodalidade é o método adequado para a acção eclesial, então é necessário preparar e acompanhar, através de uma formação ad hoc, os leigos que têm a missão específica de santificar o [poder] temporal com o seu compromisso familiar, social e político. Em África, temos muito a fazer a esse respeito.

Finalmente, a sinodalidade deve romper fronteiras: as nossas Igrejas em África estão timidamente presas às fronteiras políticas impostas pelo colonizador. Enriquecemo-nos muito pouco com a vida da Igreja nas nossas nações irmãs.

As conferências episcopais regionais e o Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagascar (SECAM) podem ter uma dimensão laical onde o património eclesial é partilhado.

Não pode haver verdadeira sinodalidade sem comunhão concreta.

Entrevista de Juste Hlannon, publicada no La Croix International a 28 de Setembro de 2021.