Arquidiocese de Braga -
22 setembro 2021
Bispos da Europa Central e de Leste ouvem sobreviventes na cimeira sobre abusos sexuais
DACS
A conferência, chamada “A Nossa Missão Comum de Salvaguardar os Filhos de Deus”, está a ter lugar à porta fechada, mas o site e as redes sociais da Comissão Pontifícia para a Protecção de Menores, assim como a conferência episcopal polaca e o portal Vatic
Os bispos da Europa Central e de Leste escutaram testemunhos angustiantes de vítimas de abuso na cimeira que está a ter lugar em Varsóvia, na Polónia, sobre abusos sexuais.
Entre os primeiros testemunhos esteve o do padre franciscano polaco Tarsycjusz Krasucki, que foi violado em 1993, com 17 anos, pelo padre Andrzej Dymer, director de um centro onde estava a viver depois de ser expulso de um colégio interno.
“Já passaram quase 29 anos desde o meu trauma”, disse Krasucki. “As minhas primeiras tentativas de investigar e clarificar o caso começaram há 26 anos. O julgamento canónico penal durou 17 anos. A sentença canónica final foi pronunciada há mais de seis meses [cinco dias antes da morte de Dymer]. A sentença foi pronunciada, mas não publicada. Consequentemente, até agora a Igreja falhou em confirmar oficialmente tanto as minhas feridas como a culpa do autor do crime.”
Durante este período de tempo, três bispos serviram na Arquidiocese de Szczecin-Kamień, mas nenhum deles alguma vez se encontrou com Krasucki. Na verdade, defenderam e protegeram o violador, com um dos bispos a adiar durante nove anos um segundo julgamento pedido pela Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano.
“Hoje falo da minha experiência durante uma conferência internacional organizada pela Comissão Pontifícia para a Protecção de Menores”, disse o padre. “Para mim, este convite é uma espécie de reconhecimento oficioso do mal que sofri. No entanto, é possível que a minha Igreja, a nossa Igreja, a Igreja de Jesus Cristo, revele publica e explicitamente a sentença do julgamento canónico mais longo? Se não somos capazes de reconhecer oficialmente e dizer a verdade, então como é que podemos confiavelmente proclamar Jesus – o Caminho, a Verdade e a Vida?”
Krasucki reconheceu que, ao falar na conferência em representação dele mesmo, torna-se uma referência importante para outros que foram também vítimas na Igreja, e acrescentou que as histórias que ouviu são “absolutamente aterradoras”.
O sacerdote também disse que houve muitas mudanças introduzidas na Igreja mas que, no entanto, quando se trata de colocar as vítimas como prioridade, a Igreja continua a falhar, no que descreve como muita conversa mas pouca acção. Até que isto mude, diz Krasucki, “não podemos falar do verdadeiro bem da Igreja” porque ainda há mentiras e uma tendência para proteger os perpetradores, com as vítimas e sobreviventes a não serem respeitados.
A conferência, chamada “A Nossa Missão Comum de Salvaguardar os Filhos de Deus”, está a ter lugar à porta fechada, mas o site e as redes sociais da Comissão Pontifícia para a Protecção de Menores, assim como a conferência episcopal polaca e o portal Vatican News, têm publicado grande parte dos procedimentos.
O cardeal norte-americano Seán Patrick O’Malley, arcebispo de Boston e presidente da Comissão Pontifícia, afirmou que é necessário continuar a combater “os abusos sexuais onde quer que tenha ocorrido e sem considerar o estatuto ou cargo da pessoa que cometeu o crime”.
O’Malley também disse que que a coragem e testemunho de tantos sobreviventes e das suas famílias, que estão profundamente empenhadas em que outros não sejam feridos da mesma forma, deve ser “reconhecida e bem-vinda”.
Partilhar