Arquidiocese de Braga -

22 setembro 2021

A última missionária do Afeganistão: “O pior foi ver as mulheres tratadas como coisas”

Fotografia

DACS com Vida Nueva Digital

Shahnaz Bhatti ficou no país até 25 de Agosto, quando conseguiu sair com o exército italiano.

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“O sofrimento que mais me marcou foi ver as mulheres tratadas como coisas. Uma dor indescritível foi ver as jovens que deviam casar-se com a pessoa decidida pelos chefes de família, contra a vontade da jovem”.

Estas são as palavras da Irmã Shahnaz Bhatti, religiosa da Caridade de Santa Joana Antida Thouret, que deu o seu testemunho à Ajuda à Igreja que Sofre – Itália.

Paquistanesa, Bhatti esteve em missão no Afeganistão até 25 de Agosto, quando, escoltada pelo exército italiano, conseguiu deixar o país.

“Foi um momento muito difícil, estávamos trancadas em casa e tínhamos medo”, relata a religiosa. É que, durante mais de um ano, foram apenas duas nesta comunidade que se encarregaram do projecto “Pró filhos de Cabul”, nascido em 2001 para responder ao apelo de João Paulo II de dar assistência aos mais pequenos de Cabul num momento em que a guerra ameaçava inundar o país.

“Assim que possível, a freira que estava comigo foi embora e eu fiquei sozinha até ao fim”, continua. “Ajudei as irmãs da Madre Teresa, nossas vizinhas, a fugir com os seus 14 filhos com deficiências graves e sem família, e a embarcarem no último voo para a Itália antes dos ataques”, explica. E garante: “se as crianças não tivessem sido salvas, não teríamos saído”.

 

“A democracia não se exporta”

“Agradeço à Farnesina e à Cruz Vermelha Internacional que nos ajudaram a chegar ao aeroporto, bem como a presença do Padre Giovanni Scalese, que representou a Igreja Católica no Afeganistão e não nos deixou até à nossa partida”, continuou.

Recorda ainda que a viagem de Cabul até ao aeroporto foi muito difícil.

“Foram duas horas entre tiroteios, mas no final lá chegamos”, afirmou.

Depois de tantos anos no Afeganistão, partilhando a vida com a população local, Bhatti está convencida de que “não se pode mudar uma mentalidade com boas intenções”.

“Acredito que um projecto cultural com as novas gerações pode mudar a mentalidade para fazer chegar a democracia. Estamos a ver isso com mulheres jovens que não querem renunciar aos seus direitos à liberdade, mas é necessária a formação das novas gerações. A democracia não se exporta, cultiva-se”, concluiu.

Artigo publicado em Vida Nueva Digital a 21 de Setembro de 2021.