Arquidiocese de Braga -

15 setembro 2021

Mulheres na Guarda Suíça? Novas expansões abrem portas a mudanças no Vaticano

Fotografia CNS photo/Vatican Media via Reuters

DACS com America, The Jesuit Review

A reconstrução total e a ampliação dos alojamentos da Guarda Suíça não só irão melhorar a vida dos guardas e das suas famílias, mas também irão abrir portas à a futura possibilidade de recrutamento de mulheres.

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Actualmente, as inscrições para servir no corpo que já conta com 515 anos de existência estão abertas apenas a cidadãos suíços do sexo masculino que serviram no exército suíço e que são católicos, com menos de 30 anos de idade e atléticos, com pelo menos 1,72m de altura e que ostentem uma “reputação imaculada”.

Mas, pelo menos desde o novo milénio, o principal obstáculo que impedia a abertura de portas às mulheres era a acomodação, não o género. Há um quartel com a maioria dos homens a viver em espaços apertados e partilhados.

“Sessenta por cento do nosso corpo tem menos de 25 anos; mulheres no mesmo quartel (que os homens) daria azo a grandes problemas”, disse o coronel Elmar Mäder, então comandante da Guarda Suíça, em 2004, explicando por que nunca permitiria mulheres na Guarda na altura.

O comandante seguinte, o coronel Daniel Anrig, disse aos jornalistas em 2008 que adoraria permitir recrutas femininas, mas tal mudança só poderia ser considerada “quando as circunstâncias mudassem”, referindo-se especificamente à situação das acomodações.

Essas circunstâncias devem agora mudar nos próximos anos, depois de um grande projecto de reconstrução ter sido iniciado com a conclusão projectada para 2026 – o 520º aniversário da fundação da Guarda Suíça. A inauguração está prevista para 6 de Maio de 2027 – o 500º aniversário do Saque de Roma, quando 147 Guardas suíços perderam a vida ao defenderem o Papa Clemente VII.

Jean-Pierre Roth, diretor da “Fundação para a Renovação do Quartel da Guarda Papal Suíça no Vaticano”, disse ao Catholic News Service por e-mail a 13 de Setembro que o novo projecto prevê 123 quartos individuais distribuídos em quatro andares diferentes. Actualmente, existem apenas 12 quartos individuais, disse.

O novo desenho e traçado tornarão as coisas “flexíveis o suficiente para permitir uma secção separada para mulheres adaptada ao número de mulheres-Guardas”, explicou, acrescentando que cabe ao Vaticano decidir e aprovar a existência de Guardas femininas. As mulheres têm sido autorizadas a servir voluntariamente em todas as funções militares no exército suíço desde 2001, enquanto o serviço é obrigatório para os homens saudáveis.

O novo projecto de um quartel moderno “torna possível para o Vaticano integrar mulheres na Guarda, se decidir fazê-lo”, disse Roth ao CNS.

“Previmos quartos individuais para todos os Guardas. Mas a criação de uma secção feminina na Guarda Pontifícia será uma decisão do Vaticano, não da nossa Fundação. Até agora, nada foi decidido a esse respeito e, que eu saiba, nada está em andamento”, acrescentou.

O edifício actual tem 150 anos e vários problemas que exigem reparos constantes e consideráveis. Depois de o Papa Francisco ter decidido em 2018 aumentar o número de membros da Guarda de 110 para 135, isso colocou ainda mais pressão sobre a necessidade de acomodações maiores e mais espaçosas.

O novo quartel, projectado por um escritório de arquitectura com sede na Suíça, terá alojamentos mais modernos com espaçosas áreas de reunião. Atenderá aos actuais códigos de construção e segurança e aos padrões de eficiência ambiental.

O custo total do projecto é estimado em 60 milhões de dólares, incluindo os custos de alojamento dos Guardas noutro lugar enquanto o antigo quartel é demolido e o novo construído. A Fundação foi criada para arrecadar fundos para esses custos a partir de dadores externos.

O tenente Urs Breitenmoser, da Guarda Suíça, disse ao CNS por e-mail, a 13 de Setembro, que o objetivo principal de construir um quartel totalmente novo era fornecer “edifícios novos seguros e modernos com espaço e privacidade suficientes para os 135 Guardas suíços – quartos individuais com casa de banho –, bem como apartamentos adicionais para as famílias que vivem fora dos muros do Vaticano, uma vez que não há mais apartamentos vagos disponíveis no quartel actual”.

O Vaticano tinha relaxado as regras relativas ao casamento dos Guardas, que estava reservado apenas para o nível de liderança, de Cabo para cima. Embora os candidatos possam não ser casados ao entrar na Guarda, agora podem casar-se mais cedo e constituir família.

As novas instalações permitiriam às famílias viver no local e manter uma comunidade unida, de acordo com o site da Fundação.

O Vaticano aprovou os últimos planos preliminares para o novo edifício em 2020, e também será necessária a aprovação da cidade de Roma e da UNESCO, já que o Vaticano é considerado Património Mundial.

As principais funções da Guarda Suíça são fornecer serviços de segurança, proteger o Papa e a sua residência e oferecer guarda de honra nas entradas principais do Estado da Cidade do Vaticano, em audiências públicas, missas e recepções diplomáticas.

O Papa Francisco disse: “A vida que levo seria inconcebível sem os Guardas Suíços. Eles estão sempre a meu lado – dia e noite”.

“É ainda mais importante que eles possam contar com acomodações modernas e seguras no Vaticano, que se torna uma segunda casa para as suas esposas e filhos também”, afirmou, no site da Fundação.

 

Artigo de Carol Glatz / Catholic News Service, publicado em America, The Jesuit Review, a 14 de Setembro de 2021.