Arquidiocese de Braga -

29 março 2021

Monges trapistas vendem mais de duas toneladas de queijo em 24 horas

Fotografia Divine Box

DACS com La Croix International

Sem visitantes e com os restaurantes fechados, a Abadia de Cîteaux estava sem conseguir escoar os muitos queijos produzidos. Vendas online foram sucesso indiscutível.

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Os monges trapistas da Abadia de Cîteaux, no nordeste da França, há muito que se sustentam com uma lucrativa operação de fabrico de queijos que fornecem exclusivamente a restaurantes e aos visitantes diários que os compram directamente no mosteiro, no coração da Borgonha. Assim que pandemia de coronavírus irrompeu, a maioria dos negócios no país, incluindo os restaurantes, foi forçada a fechar e os visitantes pararam de aparecer. Como resultado, os monges acabaram com muito queijo por vender em mãos: cerca de quatro mil bolas, para ser mais exacto. São mais de 2,8 toneladas do desejado queijo de pasta semi-mole da Abadia. Os monges decidiram então fazer algo que nunca haviam feito antes: tentar vender a iguaria artesanal online. Para surpresa dos monges, foi um grande sucesso. O monge responsável pelo marketing da Abadia é o irmão Jean-Claude, trapista há quase 60 anos. Jean-Claude contou a Arnaud Bevilacqua, do La Croix, como é que venderam o queijo online.

 

Ficou surpreendido com o sucesso das vendas online?

Ficamos maravilhados. Nem por um momento pensámos que venderíamos tantos queijos em tão pouco tempo. É realmente uma grande surpresa, uma que não consigo explicar facilmente. Em primeiro lugar, penso que o nosso queijo tem uma boa reputação: o sabor delicioso desempenhou um papel importante. Além disso, as pessoas têm uma grande confiança nos produtos monásticos, que consideram um sinal de muito boa qualidade e autenticidade. E talvez também queiram expressar a sua solidariedade para com as Abadias, já que algumas das pessoas nos escreveram dizendo que estavam felizes por poderem ajudar. Também ficámos muito surpreendidos com a cobertura mediática sobre o projecto, não imaginávamos sequer que o jornal local fosse aparecer.

 

Como tomaram a decisão de avançarem para este tipo de vendas?

Fomos contactados há quase um ano pela Divine Box, uma start-up especializada na venda online de artesanato monástico, mas não tínhamos necessidade de vender online. Pelo contrário, em tempos normais, antes do primeiro confinamento, não havia uma semana em que eu não recusasse pedidos. Se queriam queijos Cîteaux, iam buscá-los a Cîteaux, sem despesas de publicidade ou de envio. Mas, desde então, os pedidos realmente diminuíram, considerando que quase 60% das nossas vendas eram para empresas. Os fornecedores habituais deixaram de abastecer os restaurantes, o que provocou uma queda acentuada nas vendas. Mas as nossas 75 vacas continuam a produzir leite e nós continuamos a fazer queijo, não podemos é mantê-lo cá indefinidamente. O nosso armazenamento foi aumentando progressivamente. No Inverno passado, logo após o Natal, demos quase três mil queijos ao “Restos du Cœur”, uma instituição de caridade francesa que distribui alimentos, para não os deitar fora. Mas o armazenamento foi reposto rapidamente, dado que os restaurantes permaneceram fechados. Então, entramos em contacto com a Divine Box novamente e dissemos que estávamos finalmente interessados ​​numa operação online.

© Abadia de Cîteaux

 

Em que medida é que as vendas online superaram as expectativas? 

Esperávamos vender cerca de uma tonelada de queijo em três dias e, afinal, vendemos pouco mais de duas toneladas, ou três mil queijos, em 24 horas. Tivemos até que recusar alguns pedidos, não teríamos o suficiente para atender a todos. Ainda temos muito trabalho a fazer para colocar tudo nas caixas e enviar para o distribuidor no dia 30 de Março. Nunca tivemos interesse em vender online porque é muito trabalhoso e requer pessoal e equipamento. Por outro lado, se um dia ficarmos novamente sobrecarregados com o nosso stock, penso que faríamos novamente o que fizemos com a Divine Box.

 

Sobre o trabalho na Abadia

Na página da Abadia pode ler-se que “o mosteiro é uma oficina, os monges são artesãos”. 

“Tal como acontece com o artesão, o trabalho está integrado no equilíbrio da nossa vida, por isso não temos férias nem reforma... a actividade adapta-se simplesmente às idades da vida”, afirmam os monges.

As tarefas são variadas e vão desde a formação intelectual, ao acolhimento de hóspedes e manutenção da casa. No entanto, a principal fonte de rendimentos da Abadia é a queijaria, que ainda há pouco sofreu uma remodelação para poder continuar a fabricar os melhores queijos e conciliar os desafios do fabrico com os horários da vida monástica.

“Como artesãos, queremos viver do trabalho das nossas mãos. A exigência de resultados é a mesma que em qualquer profissão: o queijo deve ser bom, a refeição deve estar pronta, os doentes devem ser tratados. Confrontados com esses imperativos, também carregamos a nossa quota-parte de stress”, dizem os monges. 

Apesar da remodelação da queijaria para um modelo mais industrial, há muito trabalho que continua artesanal: os monges produzem aquilo de que precisam, cultivando assim o gosto pelo trabalho cuidadoso, até porque “o respeito pelas coisas de Deus na oração também se expressa na atenção aos objectos da vida quotidiana”.

“E, acima de tudo, a ajuda mútua, a comunhão e a humildade são as melhores formas de experimentar a eficácia na paz”, dizem, explicando que não há competição num lugar em que tudo é comum – desde o dinheiro à habilidade, mas também a boa vontade e o cansaço – e onde o erro é reconhecido na humildade. 

“Essas ferramentas são os nossos investimentos mais seguros. Os seus frutos são principalmente espirituais: paz e alegria. Mais cedo ou mais tarde, os frutos também são materiais: uma economia saudável”, concluem.

Artigo adaptado a partir do texto publicado no La Croix International, a 29 de Março de 2021.