Arquidiocese de Braga -

26 março 2021

Cansaço, depressão, videonarcisismo: os efeitos da pandemia segundo Byung-Chul Han

Fotografia Elisenda Pons

DACS com La Tercera

O conhecido filósofo sul-coreano explorou através de um ensaio os efeitos da pandemia. Para Han, a pandemia evidenciou aspectos endémicos das sociedades neoliberais, como o cansaço, a preocupação excessiva com a imagem e a depressão.

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Para Byung-Chul Han, o vírus faz com que os problemas da sociedade que existiam antes da pandemia se acentuem ainda mais. Nesse sentido, e num breve ensaio que publicou no passado Domingo, no jornal espanhol El País, afirmou que a enorme sensação de cansaço é de longe o mais notório dos problemas.

“De um modo ou de outro, hoje, todos nós nos sentimos muito cansados e extenuados. Trata-se de um cansaço fundamental, que permanentemente e em todas as fases acompanha a nossa vida como se fosse a nossa própria sombra. Durante a pandemia, sentimo-nos até mais esgotados do que o costume. Até mesmo a inactividade forçada pelo confinamento nos cansa. Não é a ociosidade, mas sim o cansaço, que impera em tempos de pandemia”, explicou.

O autor de “Sociedade da Transparência” considera que este cansaço é algo que já vem de trás e a chave para entendê-lo é a autoexigência que os seres humanos impuseram como norma nas sociedades neoliberais.

“O que caracteriza o sujeito desta sociedade que, ao ver-se forçado a ser produtivo, se explora a si mesmo, é a sensação de liberdade. Explorar-se a si mesmo é mais eficaz do que ser explorado por outros, porque devolve uma sensação de liberdade”, diz Han.

Outro aspecto importante para o filósofo é a perda dos rituais aos quais a presencialidade havia habituado os seres humanos. “Os rituais geram uma comunidade sem comunicação, enquanto hoje o que predomina é uma comunicação sem comunidade”, diz.

No fundo, para Han trata-se de mais uma demonstração de que o vírus acentua um mal já existente. Neste caso, o que descreveu como “a permanente encenação do ego” nas nossas sociedades.

“O vírus acelera o desaparecimento dos rituais e a erosão da comunidade. São eliminados até mesmo esses rituais que ainda restavam, como ir ao futebol ou a um concerto, comer num restaurante, ir ao teatro ou cinema. A distância social destrói o social. O outro tornou-se um potencial portador do vírus de quem tenho que manter distância”, explicou.

 

Videochamadas e a preocupação com a imagem

Nesse sentido, mostra-se crítico em relação à comunicação digital, a única forma que o mundo encontrou para seguir em frente. O seu principal alvo são as videoconferências, que geram o que classifica como “videonarcisismo”, ou uma exagerada preocupação com a imagem. Precisamente numa época em que antes da pandemia já existia uma febre de selfies e uma exaltação icónica.

“O videonarcisismo tem alguns efeitos secundários absurdos: provocou um aumento exponencial de operações estéticas. Ver no ecrã uma imagem distorcida ou desfocada faz com que as pessoas comecem a duvidar do seu próprio aspecto. Quando o ecrã tem boa resolução, percebemos logo as rugas, a queda progressiva do cabelo, manchas na pele, papos nos olhos e outras alterações na pele pouco estéticas... O espelho digital faz com que as pessoas caiam numa dismorfia, ou seja, que prestem uma atenção exagerada a possíveis defeitos do seu aspecto corporal”, observou.