Arquidiocese de Braga -

7 outubro 2020

Papa Francisco assina "Fratelli Tutti"

Fotografia Vatican Media

DACS

Pontífice assinou nova Encíclica no passado Sábado, 3 de Outubro, em Assis.

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Depois da Encíclica “Lumen Fidei”, em 2013, e da “Laudato Si”, em 2015, o Papa Francisco presenteia-nos agora com "Fratelli Tutti" (Todos Irmãos), novamente inspirada em São Francisco de Assis. 

"Este Santo do amor fraterno, da simplicidade e da alegria, que me inspirou a escrever a encíclica Laudato si’, volta a inspirar-me para dedicar esta nova encíclica à fraternidade e à amizade social. Com efeito, São Francisco, que se sentia irmão do sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram da sua própria carne. Semeou paz por toda a parte e andou junto dos pobres, abandonados, doentes, descartados, dos últimos", começa por dizer o Pontífice no documento.

Preocupado com a crescente polarização que domina o mundo, a indiferença globalizada, as guerras, os direitos esquecidos das minorias, a pobreza, o racismo e várias outras problemáticas que a todos assolam, Francisco sugere a fraternidade e a amizade social como antídotos eficazes. Como a pandemia surgiu a meio da escrita destes oito capítulos, o Papa também lhe dedica – e às suas repercussões – várias passagens ao longo da Encíclica.

"Contudo, rapidamente esquecemos as lições da história, «mestra da vida». Passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta. No fim, oxalá já não existam «os outros», mas apenas um «nós». Oxalá não seja mais um grave episódio da história, cuja lição não fomos capazes de aprender", afirma.

 

O que dizem...?

“A voz do Papa Francisco é voz que destoa no tom e na tónica; expõe, dá nome à maré de desumanidade que avança inclemente e inconsciente: denuncia tudo o que fecha, tudo o que reduz, tudo o que exclui, tudo o que esconde, tudo o que apouca, tudo o que descria o mundo e a humanidade”

Isabel Varanda

 


“Estou convencido de que esta encíclica, juntamente com o Documento sobre a Fraternidade Humana, reiniciará o comboio da história que parou na estação da ordem mundial atual, enraizada na irracionalidade, com sua injustiça, orgulho e violência colonial.”

Mohamed Mahmoud Abdel Salam

 

“Num momento em que, em múltiplos fóruns, se tem vindo a discutir as consequências do advento da quinta geração da Internet móvel – tema de capa, por exemplo, do mais recente número da revista francesa L’Obs –, o Papa Francisco manifesta a necessidade de maior proximidade humana e de menor relacionamento com ecrãs: mais comunicação, menos tecnologia, portanto. É o que ele defende na carta encíclica Fratelli Tutti (Todos irmãos), sobre a fraternidade e a amizade social, agora tornada pública.”

Eduardo Jorge Madureira

 

É, provavelmente, o documento mais importante do seu pontificado.

John L. Allen Jr.


Estamos provavelmente perante o testamento político-social do Papa Francisco: se a Laudato Si’, sobre o cuidado da casa comum, é talvez o texto mais inovador do seu pontificado, na proposta que faz à Igreja Católica e ao mundo no âmbito da ecologia integral, a nova encíclica Fratelli Tutti, ontem assinada em Assis e que foi divulgada pouco antes das 11h30 deste domingo, 4 de Outubro, é uma síntese do pensamento do Papa argentino acerca da fraternidade e da amizade social. Ou seja, é a sistematização do pensamento político e social do Papa (…)

António Marujo

 


A autenticidade da procura do Papa Francisco ressalta da forma como denuncia o instrumentalizar do povo para a satisfação de projetos pessoais e permanência do poder.

João Vaz

 

Algumas chaves de leitura segundo a Santa Sé

As sombras dum mundo fechado (Cap. 1) propagam-se sobre o mundo, deixam feridos na margem da estrada, que são marginalizados, descartados. As sombras afundam a humanidade na confusão, solidão e vazio. Encontramos um estranho no caminho (Cap. 2), ferido. Perante esta realidade podemos tomar duas atitudes: seguir em frente, ou determo-nos; incluí-lo ou excluí-lo, definirá o tipo de pessoa ou projeto político, social e religioso que somos.

 

Deus é amor universal, e dado que somos parte desse amor e o compartilhamos, somos chamados à fraternidade universal, que é abertura. Não há “outros”, nem “eles”, só há “nós”. Queremos com Deus e em Deus um mundo aberto (Cap. 3) (sem muros, sem fronteiras, sem excluídos, sem estranhos), e para isso temos e queremos um coração aberto (Cap. 4).

Vivemos uma amizade social, buscamos um bem moral, uma ética social porque sabemos que somos parte de uma fraternidade universal. Somos chamados ao encontro, à solidariedade e à gratuidade.

Para um mundo aberto com o coração aberto, devemos fazer a política melhor (Cap. 5). Política para o bem comum e universal, política para e com o povo, quer dizer, popular, com caridade social, que busca a dignidade humana e é executada por homens e mulheres com amor político, que integram a economia num projeto social, cultural e popular.

Saber dialogar é o caminho para abrir o mundo e construir a amizade social (Cap. 6); e é a base para uma política melhor. O diálogo respeita, consensualiza e busca a verdade; o diálogo dá lugar à cultura do encontro, isto é, o encontro torna-se estilo de vida, paixão e desejo. Quem dialoga é amável, reconhece e respeita o outro.

Mas isto não basta, temos de enfrentar a realidade das feridas do desencontro e estabelecer e percorrer, em seu lugar, percursos dum novo encontro (Cap. 7).

Temos de curar as feridas e restabelecer a paz; precisamos de audácia e de partir da verdade, partir do reconhecimento da verdade histórica, companheira inseparável da justiça e da misericórdia, que é indispensável para se caminhar rumo ao perdão e à paz. Perdoar não é esquecer; o conflito no caminho rumo à paz é inevitável, mas, não por isso a violência é aceitável. Por isso a guerra é um recurso inaceitável e a pena de morte uma prática a erradicar.

As várias religiões do mundo reconhecem o ser humano como criatura de Deus, como criaturas numa relação de fraternidade. As religiões são chamadas ao serviço da fraternidade no mundo (Cap. 8). A partir da abertura ao Pai de todos reconhecemos a nossa condição universal de irmãos. Para os cristãos, o manancial de dignidade humana e de fraternidade está no Evangelho de Jesus Cristo: daí surgem as nossas ações e compromissos. Para nós, este caminho de fraternidade tem também uma Mãe chamada Maria.

Perante os feridos pelas sombras de um mundo fechado, que jazem na beira da estrada, o Papa Francisco chama-nos a fazer nosso e atuar, o desejo mundial de fraternidade, que parte de reconhecer que somos Fratelli tutti, todos irmãs e irmãos.

 


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Encíclica Fratelli Tutti

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