Arquidiocese de Braga -
8 novembro 2019
São Bartolomeu é modelo de bispo, apóstolo e pastor
DACS | Fotografias: Avelino Lima / DM
L'Osservatore Romano distinguiu canonização de Frei Bartolomeu.
O conhecido jornal iatliano "L'Osservatore Romano" distinguiu, no passado domingo, a canonização de Frei Bartolomeu dos Mártires, apresentando-o como modelo de bispo, apóstolo e pastor.
De acordo com o diário, terá sido Hubert Jedin, Historiador do Concílio de Trento, a apontar Bartolomeu como o modelo de novo bispo originado a partir da reforma católica.
"Uma santidade, a sua, actualíssima e exemplar, ainda hoje, para todos aqueles pastores que desejam aproximar-se mais e mais de Jesus Cristo e seguir o seu exemplo de pastor bonus", explica o L'Osservatore.
O perfil exemplar de santidade episcopal foi o que Bartolomeu terá descrito no documento "Stimulus Pastorum" (SP) e que, segundo Jedin, terá sido o mais vivo e eficaz discurso do bispo aquando a reforma católica. É precisamente no SP que encontramos fundidos numa nova unidade a figura evangélica do Bom Pastor, o ideal da antiguidade cristã e o imperativo de agora.
"A santidade de Bartolomeu dos Mártires, hoje universalmente reconhecido, não pode ser circunscrita somente na área de ministério pastoral realizado por anos na Igreja local de Braga em Portugal e vigorosamente defendido na sua integridade no Concílio de Trento, mas deve ser lido e também destacado em outras áreas da sua vida terrena: humilde e pobre filho de São Domingos, assíduo leitor das Sagradas Escrituras e profunda conhecedor de teologia e de espiritualidade, professor claro e actualizado, pronto para dispensar em eloquência de palavras e doutrina o que aprendeu nos seus estudos e em oração, religioso ao mesmo tempo contemplativo e apostólico, testemunho perfeito do tradicional e definição conhecida do frade pregador que remonta a S. Tomás de Aquino", continua o jornal.
O artigo realça ainda que, desde as primeiras declarações e discursos, Bartolomeu foi capaz de permanecer com um estilo pastoral original e inovador, para quem as palavras devem ser sempre modeladas na imagem do pastor que está sempre em defesa e orientação das ovelhas a ele confiadas, pelas quais vive e dá a vida.
Jedin, que o descreveu como "o novo tipo ideal de bispo, apóstolo e pastor, um elemento essencial da reforma tridentina", não consegue esconder a sua admiração por esta figura que, com humildade e simplicidade, conseguiu desencadear uma verdadeira reforma.
"Aqui está finalmente um bispo que leva a palavra até aos mais importantes problemas internos da Igreja da época. E que bispo! Vindo da ordem dominicana, ele goza, tanto pelo zelo apostólica, tanto pela sua personalidade inatacável, da maior consideração, tanto em casa como no Concílio de Trento. Atingindo uma ampla experiência, ele não descreveu um ideal feito de doutrina ou ascético, mas tentou dar sugestões e diretrizes de forma simples aos seus colegas e indiretamente a todos aqueles que fazem trabalho dedicado ao cuidado das almas para a sua atividade pastoral", conclui o historiador.
São Bartolomeu dos Mártires é imagem de “Igreja em saída”
A Sé Catedral foi pequena para acolher tanta gente que rejubilou com a canonização de Frei Bartolomeu dos Mártires. A eucaristia solene de Domingo, dia 10 de Novembro, foi presidida pelo Cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos.
“Os ulteriores testemunhos com os quais Deus quis ilustrar este seu servo, a expansão do seu culto para além dos confins da Arquidiocese de Braga, a relevância eclesial da sua santidade e da incidência do seu ensinamento sobre a prática cristã e sobre a evangelização, levaram o Santo Padre Francisco a inclui-lo definitivamente no elenco dos Santos”, afirmou D. Angelo durante a homilia.
O cardeal apontou o Santo como uma figura de elevada importância “pela profundidade da sua cultura teológica e do seu ensinamento”, elogiando-lhe o forte empenho pela reforma da Igreja e pela renovação da vida cristã. Descreveu ainda São Bartolomeu como um “zeloso pastor de almas” e um dos mais conceituados sacerdotes do Concílio de Trento.
“Enfim, compreendemos a grande actualidade da sua mensagem, especialmente no âmbito doutrinal e pastoral, como homem de oração, grande evangelizador e Bispo totalmente dedicado às pessoas a ele confiadas. O Santo que hoje proclamamos, no sulco e na sequela do exemplo dos Doutores da Igreja e dos grandes teólogos, responde de modo eminente à figura do sacerdote e do pastor, que une o amor pela ciência ao da piedade e a solicitude pelas necessidades espirituais das gentes”, sublinhou.
D. Angelo elogiou ainda o carácter de Bartolomeu que, já bispo, continuou com a oração assídua, incentivando os demais a seguir o seu exemplo já que a pregação é capaz de “suscitar afabilidade e doçura nas relações humanas, misericórdia e generosidade com o povo, zelo e fervor no ministério da pregação, paciência e constância nas adversidades e nas perseguições”.
“Incansável na renovação da diocese, com um estilo vocacionado para a mais absoluta pobreza pessoal, ele visitou todo o território metropolitano, permanecendo diversos dias nas quase 1.300 paróquias. A visita pastoral, que efetuava cada três anos, era uma expansão da presença espiritual do Bispo entre os fiéis, tornando-se efectivamente num eficaz instrumento para compreender, admoestar e corrigir. A sua paixão pela Igreja levou-o a prestar grande atenção ao tema da reforma, pedindo aos sacerdotes e aos fiéis leigos maior coerência e fidelidade ao Evangelho”, afirmou, ainda durante a homilia.
O Cardeal também destacou eventos formativos para sacerdotes e leigos promovidos pelo Santo, que nunca se cansou de realçar a importância da catequese, elogiando-lhe igualmente a construção do seminário diocesano e as melhorias – físicas e morais – que providenciou ao clero.
“No convento do Bom Retiro, conta o biógrafo Luís de Sousa, viveu com estilo humilde e observante, como o “melhor dos religiosos” e, para merecer a pobre pensão que lhe chegava de Roma, de boa vontade prestava o seu serviço na pregação e na catequese, socorrendo os pobres e os humildes do povo, distribuindo aos indigentes tudo o que possuía, até mesmo a cama onde dormia”, apontou, referindo-se aos últimos anos de vida de Bartolomeu, que até ao fim preferiu viver humildemente.
Ao longo da homilia foram muitas as vezes que D. Angelo Becciu referiu a simplicidade e carinho de São Bartolomeu pelo povo, dizendo que a sua figura é a imagem da “Igreja em saída” capaz de ir ao encontro de todas as pessoas tão pedida pelo Papa Francisco.
O Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, também exprimiu a sua alegria por um dia de festa não só para a Arquidiocese de Braga, mas para a Igreja em Portugal.
“Exultamos de alegria e queremos acolher os desafios que este evento nos coloca. É grande e sublime o testemunho de santidade de S. Bartolomeu dos Mártires. Não o consideramos inacessível pois sabemos que nos encorajará nesta aventura de sermos, aqui e agora, discípulos missionários e nos acompanhará na tarefa de renovarmos a Igreja para que, neste mundo complexo e indiferente, se apresente como verdadeiro sinal de salvação para todos. A sua vida é um legado deixado há muitos anos mas de tremenda atualidade para a sociedade pós-moderna que muitos querem que seja pós-cristã”, afirmou.
D. Jorge espera que a vida de S. Bartolomeu continue a ser eloquente e persuasiva, dotando as comunidades actuais de “uma semente de renovação” que faça à Igreja mostrar a sua vitalidade.
O prelado agradeceu a todos os presentes, incluindo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, aos bispos oriundos de Portugal e Espanha e às autoridades civis.
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