Arquidiocese de Braga -

4 outubro 2018

Reclusos já trabalham no Presépio de Priscos há quatro anos

Fotografia Hugo Delgado / WAPA

DACS com Pe. João Torres

Reclusos cumprem um horário de trabalho entre as 08h30 e as 17h00, com intervalo de 60 minutos para almoço. São acompanhados por um guarda prisional.

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O projecto “Mais Natal Priscos” da Paróquia de Priscos, concelho de Braga, dá trabalho a reclusos do Estabelecimento Prisional de Braga há quatro anos, no âmbito de um protocolo assinado entre a Paróquia, o Presépio ao Vivo de Priscos e a Direcção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP). A paróquia de Priscos já gastou mais de 90 mil euros neste projecto. É a única paróquia de Portugal a realizar esta missão.

"Trata-se de um projecto muito importante para dar mais dignidade à vida dos reclusos.  A reintegração social de reclusos não pode nem deve ser um exercício de palavras, sem gestos, é necessário criar oportunidades e condições de vida mais digna para aqueles seres humanos. Já passaram por Priscos, ao longo destes 4 anos, cerca de 25 reclusos. Que cumprindo a sua pena de reclusão entraram também num processo de humanização, porque acredito que estas pessoas se possam reintegrar na sociedade e não há melhor forma de integração do que o trabalho", adiantou o Pe. João Torres, responsável pelo projecto “Mais Natal Priscos”.

O pároco apontou ainda algumas falhas à reinserção social de reclusos no país, apelidando o sistema de "desatento", feito com "trabalho ligeiro" e com base em "decisões pouco esclarecidas".

"O problema do nosso sistema prisional nunca foi, como continua a não ser hoje, no essencial um problema de má legislação ou falta dela, antes consiste num problema de falta de visão global da estratégia adequada à execução das leis elaboradas, falta de vontade política e administrativa, falta de organização e de gestão, falta de meios humanos, técnicos e financeiros e, também, falta de empenhamento da própria sociedade no seu conjunto", acrescentou.

O Pe. João Torres referiu ainda a necessidade de um sistema prisional aberto à esperança, que seja capaz de ir além de boas reflexões e estatísticas.

No Presépio ao Vivo de Priscos os reclusos cumprem um horário de trabalho entre as 08h30 e as 17h00, com intervalo de 60 minutos para almoço, entre as 12h00 e as 13h00. São acompanhados por um guarda prisional.

Os dividendos retirados da solidariedade dos visitantes do Presépio ao Vivo de Priscos e a ajuda  do Município de Braga através do orçamento participativo suportam o pagamento aos reclusos. A remuneração é de 419,22 euros, a que acresce uma percentagem de 10% que reverte para os Serviços Prisionais. Esta espécie de salário é depositado na conta individual dos reclusos, mas só pode ser utilizada pelos beneficiários uma parte do valor, a outra só após terem cumprido a pena. 

A selecção dos reclusos fica a cargo do estabelecimento prisional de Braga, que seleciona os reclusos com competências para a realização das tarefas propostas, tendo também de respeitar vários critérios, nomeadamente terem cumprido uma parte substancial da pena ou já terem realizado sem quaisquer problemas saídas precárias, entre outras condições.

À organização do Presépio ao Vivo de Priscos cabe ainda fornecer as máquinas e ferramentas adequadas e necessárias ao trabalho dos reclusos, bem como o equipamento individual, fardamento e material de protecção e segurança, bem como um seguro de acidentes pessoais.

"Este tipo de trabalho no exterior é inquestionavelmente, um elemento positivo e primordial no tratamento penitenciário, pela utilidade social que se reveste e pela valorização que proporciona ao indivíduo, sendo também um elemento de coesão social, na medida em que permite estabelecer e consolidar relações sociais. Através do exercício de uma actividade laboral estruturada e continuada, os reclusos desenvolvem competências pessoais e sociais, nomeadamente ao nível da aquisição de hábitos de trabalho, cumprimento de horários e regras e gestão das relações laborais", concluiu o Pe. João Torres.