Arquidiocese de Braga -
10 junho 2018
Palavra de Vida - junho 2018
Balasar (Santa Eulália)
«Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9).
O Evangelho de Mateus abre a narração da pregação de Jesus com o surpreendente anúncio das Bem-Aventuranças. Jesus proclama “bem-aventurados”, isto é, plenamente felizes e realizados, todos aqueles que, aos olhos do mundo, são considerados vencidos ou criaturas com pouca sorte: os humildes, os doentes, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os puros de coração, os que trabalham na construção da paz. A estes, Deus faz grandes promessas: serão por Ele saciados e consolados, serão herdeiros da Terra e do Seu Reino.
Trata-se de uma verdadeira revolução cultural. Muda radicalmente a nossa visão, muitas vezes fechada e míope, segundo a qual estas categorias de pessoas são uma parte marginal e insignificante, na luta pelo poder e pelo sucesso.
«Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus».
Na visão bíblica, a paz é o fruto da salvação que Deus realiza. Portanto, a paz é, antes de mais, uma dádiva de Deus. É uma caraterística do próprio Deus, que ama a humanidade e toda a Criação com um coração de Pai e tem para todos um projeto de concórdia e harmonia. Por isso, quem trabalha pela paz demonstra uma certa “semelhança” com Ele, como um Filho.
Escreve Chiara Lubich: «Pode ser portador de paz quem a possuir em si mesmo. Devemos ser portadores de paz, acima de tudo, com o nosso comportamento em cada momento, vivendo em harmonia com Deus e com a sua vontade. […] “… Serão chamados filhos de Deus”. Receber um nome significa tornar-se aquilo que o nome exprime. Paulo dizia que Deus é “o Deus da paz”. Por isso, ao saudar os cristãos, dizia-lhes: “O Deus da paz esteja com todos vós”. Os pacificadores manifestam o seu parentesco com Deus, agem como filhos de Deus, testemunham Deus, que […] imprimiu na sociedade humana aquela ordem cujo fruto é a paz» (1). Viver em paz não é simplesmente a ausência de conflitos. Nem sequer é vivermos tranquilos, com um certo compromisso sobre alguns valores, que permitem sermos aceites sempre e em todo o lado. É antes um estilo de vida, profundamente evangélico, que exige a coragem de fazer escolhas contra a corrente. Sermos “pacificadores” é, sobretudo, criar ocasiões de reconciliação na nossa vida e na dos outros, a todos os níveis: antes de mais, com Deus, depois com aqueles que estão connosco na família, no trabalho, na escola, na paróquia, nas associações, nas relações sociais e internacionais. Portanto, é uma atitude decisiva de amor ao próximo, uma grande obra de misericórdia, que restabelece todos os relacionamentos. Foi precisamente isso que o Jorge, um adolescente venezuelano, decidiu fazer na sua escola: «Um dia, no final das aulas, apercebi-me que os meus colegas estavam a organizar uma manifestação de protesto, durante a qual tinham a intenção de usar a violência, incendiando carros e atirando pedras. Imediatamente pensei que esse comportamento não estava em sintonia com o meu estilo de vida. Propus então aos meus colegas que escrevêssemos uma carta à Direção da escola: assim poderíamos apresentar as nossas exigências de outra maneira, sem recorrer à violência. Eu e alguns deles redigimos a carta e fomos entregá-la ao Diretor».
«Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus».
Nestes tempos, afigura-se particularmente urgente promover o diálogo e o encontro entre pessoas e grupos, diferentes entre si pela história, tradições culturais e pontos de vista, mostrando apreço e acolhimento por esta variedade e riqueza.
Como disse recentemente o Papa Francisco: «A paz constrói-se no coro das diferenças. (…) E a partir destas diferenças aprendemos com o outro, como irmãos. (…) O nosso Pai é Um só, nós somos irmãos. Amemo-nos como irmãos. E, se discutirmos entre nós, que seja como irmãos, que se reconciliam imediatamente, que voltam a ser sempre irmãos» (2).
Também nós podemos trabalhar para conhecer os rebentos de paz e fraternidade, que tornam já as nossas cidades mais abertas e humanas. Cuidemos bem deles e façamo-los crescer… Assim contribuiremos para a eliminação das divisões e dos conflitos que as atravessam.
Letizia Magri
1) Cf. C. Lubich, Diffondere pace, Città Nuova, 25, [1981], 2, pp. 42-43; 2) cf. Saudação do Santo Padre, Encontro com os líderes religiosos de Myanmar, 28 de novembro de 2017.
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