Arquidiocese de Braga -

22 dezembro 2017

Presépios animados

Fotografia

Nalguns presépios mais modernos, já se vê o comboio ou o carro dos bombeiros, a roda dos parques de diversões, e não falta sequer o elevador do Bom Jesus de Braga subindo a encosta quase a pique. Parece que ainda ninguém se lembrou de construir uma linha

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por Luís da Silva Pereira

Uma das tradições mais encantadoras da época natalícia, na região do Minho, são os presépios animados. Com maior ou menor número de figurantes que se mexem sem saírem do sítio ou se deslocam por toda a área do presépio, recria-se diante dos nossos olhos extasiados um ambiente predominantemente rural. Estão ali representados os ferreiros, malhando o ferro na bigorna; os carpinteiros, serrando as madeiras ou pregando pregos; os moleiros, moendo o milho; as tecedeiras, urdindo mantas e lençóis de linho; os cavadores revirando a terra; as lavadeiras, batendo a roupa nos lavadouros; a peixeira, de canastra na cabeça, apregoando gorazes ou carapaus; os pescadores nas margens dos ribeiros, a ver se apanham o almoço; padeiras enfornando; pastores, mugindo cabras e ovelhas; enfim, cães, galinhas, patos, cavalos e burros, moinhos de vento, carros de bois, bandas de música. É toda uma sociedade que, simbolicamente, trabalha e se diverte diante do Menino, exercendo as suas profissões, e mostrando os seus saberes herdados de pais e avós. Nalguns presépios mais modernos, já se vê o comboio ou o carro dos bombeiros, a roda dos parques de diversões, e não falta sequer o elevador do Bom Jesus de Braga subindo a encosta quase a pique. Parece que ainda ninguém se lembrou de construir uma linha de montagem de automóveis ou a redação de um diário com jornalistas batendo as teclas do computador. Não é tarde. A inventiva destes artistas não tem limites.

Para lá do tom levemente ingénuo e, por vezes, até cómico destes maquinismos, que todos os anos, infalivelmente, se repetem e atraem milhares de crianças e adultos, formula-se uma intuição verdadeiramente admirável. Na sua simplicidade, quer os artistas que montam estes artefactos, quer as pessoas que vêm contemplá-los estão a afirmar que a nova terra e o homem novo nascido com a encarnação do Menino Deus se vão construindo também com a infinitamente variada e quotidiana atividade humana. Estão a mostrar que o trabalho do homem, feito com dor ou com prazer, com êxito ou com fracassos, no silêncio do anonimato ou no vozear da fama, só adquire o seu sentido pleno quando realizado diante de Deus Menino, acompanhando-o na construção de uma nova sociedade.


FONTE: Ecclesia Semanário, n.º 1603, 22 de Dezembro de 2017, pp. 30-33.