Arquidiocese de Braga -

19 maio 2017

D. Francisco Senra Coelho: "Movimentos são chamados a unir esforços"

Fotografia Ana Marques Pinheiro

Flávia Barbosa | DM

D. Francisco Senra Coelho, Bispo Auxiliar de Braga, espera que os Movimentos diocesanos adiram em força à Vigília do Pentecostes. Este ano a iniciativa sai à rua no dia 3 de junho para responder aos desafios do Papa e do Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga.

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Bispo Auxiliar D. Francisco Senra Coelho afirma que os diferentes carismas devem trabalhar de mãos dadas ao serviço da mesma Igreja. Em entrevista ao Diário do Minho sublinhou a importância da Vigília do Pentecostes, no dia 3 de junho, para uma maior comunhão entre os diferentes Movimentos da Arquidiocese de Braga. 

 

O tema da Vigília é a «Igreja em partida». Porquê? 

O grande tema do nosso encontro é esta «Igreja em partida» porque ela nasceu em saída. No Pentecostes, o Espírito abriu o coração dos Apóstolos e fez com que eles abrissem também a porta do Cenáculo e viessem anunciar Cristo vivo e ressuscitado. A Igreja nasceu em partida, como nos lembra o Papa Francisco! Será a partir dos dons do Espírito Santo, nesta temática da Fé Contemplada, que percorreremos  o trajeto entre a basílica dos Congregados, a igreja de Santa Cruz e a igreja de S. Paulo até à Igreja-Mãe, a Sé de Braga. Este percurso vai fazer-nos contemplar os dons do Espírito Santo. As paragens nestes diversos momentos de oração nas igrejas referidas serão de comunhão, de paz. Mas também de alento para a nossa tarefa e para o nosso trabalho! Afinal, os Movimentos são convidados a trabalhar em rede, de mãos dadas, de um modo unido, cada um com o seu carisma, ao serviço da mesma Igreja. Teremos a alegria de contar com a presença do nosso Arcebispo no momento de acolhimento e de partida da Basílica dos Congregados. Na qualidade de Bispo Auxiliar responsabilizado pela Comissão Arquidiocesana do Laicado e da Família acompanharei o percurso, fazendo depois na Catedral o compromisso com todos de sermos esta Igreja em missão. Sempre em missão! Na humanização, no serviço ao ser humano pela construção da paz na esperança que brota do amor. 

 

O que se pretende transmitir com esta ação? 

Estamos habituados sobretudo a localizar a Igreja nos atos litúrgicos, nos interiores dos templos. Mas a Igreja tem que ir ao encontro da pessoa na sua circunstância concreta, tem que percorrer o caminho de todos os dias da nossa cidadania. É onde acontece a esperança, o sonho, a vontade de construir uma vida feliz, mas também momentos duros... Quantas vezes o caminho que vamos percorrer não foi atravessado com lágrimas devido a uma notícia triste como um resultado complicado de um exame médico ou a perda de um emprego? Queremos percorrer o caminho da humanidade, queremos estar com ela, queremos ser uma Igreja na rua, no quotidiano, onde se dá o despojamento da solenidade e se apresenta a espontaneidade do compromisso humano com os outros. É uma dimensão não triunfalista, não de proselitismo, mas sim de comungar a peregrinação de todos os seres humanos que andam numa busca também. É apenas uma proposta, dizer a cada ser humano que se cruza connosco: «vamos a caminho como tu; se quiseres, vem connosco».

 

Podemos dizer que é um caminho de descoberta? 

Sim, absolutamente. Todos os Movimentos têm uma data, um contexto muito concreto, a presença de Cristo nas circunstâncias da história da Igreja, da Humanidade. Braga é rica em Movimentos. Importa descobrir a sua beleza e perceber com fé o dom que eles transportam porque nascem do Espírito Santo como dádiva a cada geração. Estarmos juntos, redescobrir a beleza que levamos em nós, darmos as nossas mãos, fazermos acontecer a unidade na Arquidiocese à volta do nosso Bispo: eis o desafio da Vigília! Espero que as bases dos Movimentos estejam presentes e deem o seu contributo a esta busca de caminhos novos para a Igreja na fidelidade aos desafios do Papa Francisco.

Vigília do Pentecostes sai à rua para responder a desafios do Papa e do Arcebispo Primaz

 

É importante que os Movimentos estejam juntos…

Os Movimentos podem ter uma tendência para se fecharem em si próprios, de «viver para dentro». Um certo intimismo é essencial, a fidelidade ao carisma fundacional é importante… Mas seria muito redutor se nos situássemos apenas aí. Somos convidados a perceber que estamos ao serviço da Igreja diocesana, ela tem o direito de contar connosco. Temos um dom que nos foi concedido, um carisma, mas é para estar ao serviço dos outros. Os Movimentos são chamados, mais do que nunca, a unir esforços, a ter projetos comuns, a fazer um trabalho em rede e de mãos dadas porque os desafios são muito semelhantes a todos!... Temos de conseguir traduzir a beleza do Evangelho, a ternura, o amor de Deus e a própria carícia que Ele faz a cada ser humano como Pai. É preciso fazer chegar isso aos outros mostrando a nossa própria esperança e vida... sobretudo às novas gerações! Penso que o maior desafio da Igreja na Europa é a transmissão da fé às novas gerações. Não temos tido muito sucesso, parece-me. 

 

Porquê? 

Porque temos falado demais e testemunhado menos. Aquilo que o Papa Francisco nos diz com a sua vida é que importa, antes de tudo, ser sinal. Quando necessário, colocar uma legenda, usar as palavras, claro… Mas temos de ser imagens que não precisam de texto! É esta a linguagem que as novas gerações entendem. Quando percebemos a imagem não precisamos de explicações. Muitas vezes, o que o Papa faz não precisa de explicação… E quando ele explica alguma coisa fala de assuntos interessantes, importantes para as pessoas, com uma linguagem que todos entendem. É exatamente aqui que reside, talvez, algum do seu êxito: a força da imagem e a pertinência da palavra. É este o caminho que os Movimentos têm que percorrer na unidade com a diocese, acho. 

 

Este é um bom momento para reforçar essa ideia… 

O Arcebispo convoca-nos no dia da Vigília do Pentecostes. Foi nesse dia que Deus concedeu aos Apóstolos o dom das línguas: Pedro falava e todos o percebiam. Como a sua linguagem se assumiu universal no amor, na humanização e na ternura, todos o perceberam porque aquilo que ele dizia era de coração. É esse o caminho que pressinto estar a ser proposto pelos sinais dos tempos, pelo Espírito Santo. Trata-se da união com o nosso Bispo para com ele fazermos acontecer aqui uma Igreja a caminho, em partida, em direção ao sofrimento humano, a tantas pessoas sós, a tantas pessoas que já não acreditam que exista amizade verdadeira. Temos que dizer «sim» a essa amizade, ela é também o nosso caminho e é o nosso projeto de vida. É na amizade que se gera a confiança e é na confiança que é possível partilhar o segredo da nossa vida. Para nós, cristãos, é alguém: Jesus Cristo. Será Ele, no Seu amor, que surgirá como a beleza máxima, a que salva o mundo. Queremos compartilhá-la com todos num ambiente de amizade e de confiança, na transmissão daquilo que é o nosso tesouro: Jesus Cristo. 

 

O que podemos esperar da dinâmica da Vigília?

O cortejo será iniciado pelo Arcebispo, que fará um ensinamento a todos os Movimentos presentes na basílica. Depois vamos refletir nos sete dons do Espírito Santo numa atitude contemplativa, como Maria. Na Catedral decorre o encerramento do cortejo e um compromisso de unidade, de comunhão, de trabalho em rede, de mãos dadas com toda a Igreja, a sentir que somos um só na Arquidiocese. Gostaríamos muito que os Movimentos trouxessem os seus estandartes, os seus cachecóis, os seus lenços, os seus bonés, que houvesse muita cor... porque a vida não é a preto e branco! A vida é de esperança, é de muita cor. Afinal, um campo de girassóis não é um jardim, é uma monocultura. Um jardim é variado e a beleza dos Movimentos está precisamente na sua variedade. Também gostaríamos muito que trouxessem alguns instrumentais, como a viola ou o acordeão, e que fossem cantando ao longo deste trajeto os seus cânticos. Uma das coisas que os  caracteriza são os cânticos próprios. Haveria assim muita alegria, muita cor, muita festa… O desejo é o de cada Movimento, com os seus sinais e com as suas melodias, fazer um trajeto de cor e de mensagem pelas suas riquezas musicais e instrumentais. No fim, na Catedral, teremos o momento de consagração no qual pediremos pelo Arcebispo e onde estaremos muito unidos ao Papa. Queremos ser uma Igreja que demonstra ao mundo de hoje a esperança que lhe surge da alegria do Evangelho.

 

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