Arquidiocese de Braga -

4 junho 2016

Décimo Domingo (Ano C)

Fotografia

Carlos Nuno Salgado Vaz

Jesus é a vida mais forte que a morte e veio para conduzir os homens à vida eterna.

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Os evangelhos narram 3 ressurreições realizadas por Jesus; a do filho da viúva de Naim, que escutaremos este décimo domingo (Ano C); a do filho do chefe da Sinagoga, Jairo; e a de Lázaro. Com estas narrações, o que os evangelhos pretendem é fazer-nos cientes do anúncio pascal: Jesus é a vida mais forte que a morte e veio para conduzir os homens à vida eterna. Jesus dá-nos a certeza de que a vida não acaba na sepultura, mas nos braços de Deus. O milagre de Naim, no seu sentido mais profundo, acontece sempre que um discípulo de Jesus morre: é ressuscitado pelo amor do Pai.

Elias e Jesus

Ligando a revitalização narrada na primeira leitura, operada pelo profeta Elias, e a operada por Jesus, vemos que Jesus toma a iniciativa e decide transformar o que era uma coincidência casual num encontro verdadeiro e profundo, numa relação escolhida e conduzida até às últimas consequências. Nasce tudo no segredo do coração que se deixa ferir pela dor insuportável de uma mulher no mais puro ato de pobreza e abandono, depois de ter perdido o único filho, sendo ela já viúva.

Diz o evangelista que Jesus «vendo-a se comoveu até ao mais profundo das suas entranhas». A compaixão aqui narrada não é uma forma de comiseração, mas é escuta e acolhimento benigno do outro no seu sofrimento; é capacidade de sofrer com quem está no máximo sofrimento; capacidade de com-sofrer com quem passa ao nosso lado e de quem decidimos fazer-nos próximos.

Jesus sabe bem que a compaixão deve ser manifestada. Por isso não a esconde, mas manifesta-a abertamente e exprime essa compaixão pronunciando uma palavra de consolação dirigida à pobre viúva, uma palavra simples e todavia difícil de pronunciar naquela circunstância: «Não chores!».

Depois aproxima-se, faz parar o corteja fúnebre, e profere umas palavras que, humanamente, parecem loucas: «Rapaz, eu te digo: levanta-te». Enquanto que Elias precisou de se estender por três vezes sobre o rapaz da viúva de Sarepta de Sidónia e invocou Deus com grande insistência, aqui, a Jesus basta uma ordem, a palavra poderosa que exprime o agir de Deus e transforma em realidade aquilo que diz: «o morto sentou-se e começou a falar».

Jesus mostra ainda que o seu comportamento não é motivado por qualquer protagonismo, pois imediatamente faz a entrega do filho à sua mãe sem acrescentar quaisquer palavras. É este o seu modo de narrar, a quem o quiser compreender, que ele veio para dar a salvação de Deus aos homens, isto é, aquela vida de plenitude de que a revitalização/ressurreição de um morto é o sinal mais evidente.

E a multidão parece ter compreendido o sentido profundo do que tinha acontecido, pois passa do sinal visível ao sinal escondido, passa de Jesus a Deus, aquele que o enviou e em nome do qual ele age. Todos dão glória a Deus e confessam: «apareceu entre nós um grande profeta. Deus visitou o seu povo».

Deus visitou o seu povo

A expressão «visitou o seu povo» deve ser entendida no sentido bíblico: Deus faz-se vizinho para tomar cuidado de modo ativo e participante: a longa história que tinha começado no Êxodo do Egipto quando «Deus tinha visitado os filhos de Israel e tinha visto a sua dor» realiza-se agora aqui com Jesus. É Ele a presença definitiva de Deus entre os homens, como tinha cantado profeticamente Zacarias no «Benedictus»: «Bendito o Senhor Deus de Israel que visitou e redimiu o seu povo, e nos deu um Salvador poderoso, na casa de David seu servo».

Esta ideia de que Deus «visitou o seu povo» para o salvar de todos os males que o afligem encontra-se unicamente no evangelho de Lucas. É, além disso, uma salvação que é oferecida especialmente aos mais pobres, aos marginados e aos que exerciam atividades mal vistas pela sociedade daquele tempo.

A situação desta pobre viúva sem o filho é do mais dramático que se possa imaginar, é a situação de uma pessoa sem futuro, absolutamente desamparada na sua velhice. E é precisamente perante esta situação realmente dramática que Jesus toma a iniciativa: comovem-se-lhe as entranhas e decide atuar, movido pela misericórdia e pela bondade. Aproxima-se do cortejo fúnebre, toca o caixão – gesto que o convertia automaticamente em pessoa religiosamente impura segundo a lei –, e fala ao morto que, nesse mesmo instante, recupera a vida.

A palavra poderosa de Jesus transformou a morte em vida, a tristeza em alegria, o desespero em esperança renovada.

Perante as situações difíceis que encontra, Jesus não apresenta sistemas ou programas, mas dirige-se a cada ser humano necessitado, toma sobre si a sua dor e ajuda-o.

O que de verdade determina a qualidade da vida humana, o que lhe confere densidade, felicidade e fecundidade é o amor. Por isso, todas as experiências de amor são experiências de vida e de céu. Como diz Paulo aos Coríntios: o amor não acaba nunca. Por isso é gérmen de ressurreição.

Como ao jovem de Naim, também Jesus nos convida, sobretudo a nós cristãos, a levantarmo-nos para vivermos no amor e para dar testemunho efetivo da misericórdia divina.