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2 Mar 2018
Profetas para hoje
Discurso na abertura da Nova Ágora "Olhares sobre a ecologia"
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A Arquidiocese quer, com a Nova Ágora, proporcionar a toda a comunidade uma experiência emblemática de alegria, paixão e reflexão. São apenas três noites que teremos pela nossa frente mas os seus efeitos, assim creio, prolongar-se-ão por um período bem mais extenso. Os contributos dos nossos convidados, a quem aproveito para agradecer e saudar, e o diálogo que se proporcionará são o ponto central desta noite e uma oportunidade para nos questionarmos sobre o nosso estilo de vida e modo contemporâneo de estar em sociedade.

Vivemos num mundo fragmentado onde as tendências e opções não convergem. Muitas pessoas e instituições percorrem caminhos paralelos e dificilmente cruzam pensamentos que permitam crescer na responsabilidade de construir uma sociedade diferente. Alguém dizia que a inflexibilidade é o principal inimigo da convivência entre os homens que lutam por um futuro melhor. As imposições, assim como atitudes de sobranceria, não são de todos desejáveis. E a primeira instituição a dever respeitar este princípio é a própria Igreja. Não obstante o contexto em Portugal ser católico, o diálogo e a abertura de espírito deverão ser sempre bens inalienáveis.

É urgente uma transformação cultural. Uma mudança sustentável que parta do diálogo, da diversidade de pensamento, de valores humanos partilhados e da disponibilidade para mudar comportamentos. As futuras gerações não nos perdoarão se nos esquivarmos a este caminho. É fundamental, repito uma vez mais, um novo modelo de cultura, complexo e plural, onde os diversos campos de pensamento e de acção interagem. Uma cultura com protagonistas novos, onde todos contam e valem por aquilo que são e não pelo seu estatuto social. Uma cultura que converge para a salvaguarda da dignidade humana.

A História confirma-nos a existência de profetas que, em determinados momentos, ousaram transformar a realidade com palavras sábias e, sobretudo, com a eloquência do testemunho. Se no passado esta tarefa estava maioritariamente confiada aos profetas de Deus, hoje pede-se uma aliança entre crentes e não-crentes, uma aliança de pessoas de boa vontade que coloque a verdade do Homem acima das crenças pessoais.

Os profetas não têm medo de anunciar o fim de uma era e de apontar pistas para um futuro diferente. Não basta, por isso, uma única voz e um pensamento uniforme. Impõe-se uma reflexão conjunta onde cada um não se dispensa de pensar e de oferecer a originalidade das suas convicções. É este horizonte plural que queremos introduzir com a Nova Ágora: o espírito da praça aberta onde se dialoga e se apresentam soluções inovadoras para novos problemas. Ao mesmo tempo, diálogo pressupõe discernimento e cautela quanto aos falsos profetas da moda. Se estivermos atentos, facilmente identificamos caminhos que prometem soluções fáceis, caminhos da moda e que, estranhamente, favorecem grupos de segregação e de gente alheia à nossa cultura portuguesa e ocidental. Existem profetas que vendem ilusões! Desejam a popularidade e o sucesso. Pretendem dar razão aos seus apaniguados. São vendedores da banha da cobra e criam ilusões para receberem aplausos.

Que pretendem as conferências da Nova Ágora? Partilhar, reflectir, criar consciência de participação e fazer com que todos – políticos, empresários, gestores, professores – se tornem a âncora de uma nova cultura para a Igreja e para a sociedade. Pilar fundamental desta cultura é a valorização da pessoa na sua individualidade e dignidade. É de pessoas, vidas e sonhos que queremos falar esta noite.

Muito obrigado pela vossa presença e obrigado por participarem deste futuro que se vai desenhando pelo diálogo.

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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