Arquidiocese de Braga -

26 fevereiro 2024

Passos de Barcelos substituem procissão por rica e intensa cerimónia na Matriz

Fotografia Francisco de Assis

DM - Francisco de Assis

Com narração do evangelho, pregação, reflexões e cânticos, o evento foi presidido pelo bispo Auxiliar de Braga, D. Delfim Gomes

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O mau tempo obrigou a mudar os planos da organização dos Passos de Barcelos. Assim, a majestosa Procissão dos Passos realizada ontem, dia 25, foi substituída por uma cerimónia no interior da igreja Matriz de Barcelos, onde houve lugar a reflexões, pregação e narração da Paixão e Morte de Cristo, intercalada por muitos cânticos interpretados pela Banda da Oliveira, pelo Coral Magistrói e pelo Coro de Barcelos.  

A cerimónia foi presidida pelo Bispo Auxiliar de Braga, D. Delfim Gomes e a pregação esteve a cargo do cónego Luís Miguel Rodrigues, que pediu aos presentes que procurem sobretudo seguir os Passos de Cristo, isto é, praticando a caridade, fazendo ao próximo, sobretudo aos mais frágeis e marginalizados, aquilo que Ele pede.

Apesar de, à partida, já se soubesse que não iria haver procissão, muitos barcelenses encheram a igreja Matriz, dando força celebrativa comunitária à manifestação de fé. Alguns figurados, com mensagens bíblicas e da Quaresma; realizou-se o tradicional gesto com Verónica, entre outros momentos. Confrarias, irmandades, bombeiros e autoridades civis e militares de Barcelos marcaram presença na Matriz.

Um mundo onde deve haver lugar para todos 

A primeira reflexão foi feita por Manuel Sá Paula. Referiu que Passos, na sua origem latina e semântica, carregou-se do sentido de sofrimento e dos seus momentos, de fatalidade, destino, “suportar a Cruz”.

"Olhando para o mundo, confirmamos essa ideia trágica: nas crianças, mulheres, homens perseguidos em grandes guerras ativas e outras adormecidas pelo planeta, abandonados por todos, enredados nos interesses dos pretensos amigos de ocasião, dos interesses dos amigos do passado e dos falsos amigos do futuro; nos escorraçados, cuspidos, chicoteados física e psicologicamente, porque a sua perspetiva de vida, de orientação não cabe no seu país, na sua cultura, na sua religião, lugares onde deviam caber todos, todos, todos", disse, citando o Papa Francisco. 

Manuel Sá Paula falou ainda nas vítimas "silenciosas e silenciadas de maus-tratos na sua infância, na sua vida doméstica, social e profissional".

Num outro momento, Manuel Sá Paula elencou alguns pecados da humanidade, apontando como o principal de todos a indiferença. Por isso, pediu que, sobretudo os cristãos, saibam fazer a diferença.

"A diferença faz-se olhando os Passos, olhando para o outro com compaixão. Se sentirmos o outro, se sofrermos com o outro, se valorizarmos o outro, conseguimos mudar a humanidade".

Deixar no mundo as marcas de Cristo 

O pregador, cónego Luís Miguel Rodrigues falou ao Diário do Minho e, ao dirigir-se aos presentes, falou da Quaresma, um tempo propício para os cristãos se prepararem para a Páscoa, a grande notícia para os crentes.   

 Lembrou a preparação que se fazia para os catecúmenos, aqueles que se vão batizar na Vigília Pascal. A comunidade era chamada a testemunhar e a participar na preparação, aproveitando também para reavivar e renovar o seu batismo.

Para o pregador, o grande encontro entre Jesus e sua Mãe é consequência do grande encontro da humanidade com Deus. "De Deus com a humanidade. Nesse encontro, assim como a Mãe assume as dores do filho, Deus assume as nossas dores, os nossos dramas, as nossas angústias para nos libertar e salvar. Quando se fala em Deus e dos seus discípulos, Jesus é muito claro, vinde a mim benditos do meu Pai receber a herança, porque tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, estava nu e agasalhaste-me", disse.

Referiu ainda que tudo o que fazemos por Deus acaba por ficar marcado em nós. "Exemplo disto é a Verónica. Aquela mulher piedosa, ao enxugar o rosto de Cristo, Jesus deixou no lenço, o seu rosto estampado. Também nós, quando fazemos obras de misericórdia, Ele fica marcado em nós de forma indelével. Somos imitadores de Jesus, seguimos os Passos de Jesus».

No fim, a imagem do Senhor dos Passos foi levada, em procissão, ao Templo  Senhor da Cruz.