Arquidiocese de Braga -

15 fevereiro 2024

Quaresma e cinzas lembram fragilidade humana e tempo favorável à conversão

Fotografia Avelino Lima

DM - Francisco de Assis

D. José Cordeiro, Arcebispo de Braga, presidiu à cerimónia na Sé, com apelos à oração, jejum e abstinência

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À semelhança de toda a Igreja Católica, a Arquidiocese de Braga iniciou ontem, na sua igreja-mãe, a Sé Catedral, o tempo quaresmal. Na cerimónia, com celebração da Missa e Imposição das Cinzas, o Arcebispo de Braga apelou aos fiéis presentes a não se limitarem a repetir gestos, ou a reevocar realidades de outros tempos, mas sim a viver um caminho da conversão, neste tempo favorável.

Com a Sé Catedral bem composta, além do Arcebispo, D. José Cordeiro, a eucaristia foi concelebrada pelo Bispo Auxiliar, D. Delfim; pelo Arcebispo Emérito e por vários cónegos e sacerdotes da Arquidiocese de Braga.

Num rubrica a que chamou “Tripé hebraico à conversão pascal”, D. José Cordeiro recorda que a etapa quaresmal que se iniciou ontem é decisiva no caminho de Páscoa. “Na verdade, o caminho é uma das metáforas mais completas da vida cristã, ou melhor, é sinónimo da comunidade pascal, cujos membros são até chamados ‘os do caminho’ (At 9, 2).  Temos a convicção, como afirmou o Papa Pio XII, que ‘o Ano Litúrgico, que a piedade da Igreja alimenta e acompanha, não é uma fria e inerte representação de factos que pertencem ao passado, ou uma simples e nua reevocação de realidades de outros tempos’. O Ano Litúrgico é, antes de mais, o próprio Cristo, que vive sempre na Sua Igreja”.

Na leitura do Arcebispo de Braga, no Evangelho de ontem apresenta-se o tripé da piedade hebraica: a esmola, a oração e o jejum. 

“Jesus dá a esta tripeça espiritual um sentido maior e afasta todo o tipo de aparência e de hipocrisia: a esmola é mais que uma expressão do amor ao próximo, porque tem de ser praticada no segredo e na caridade por Cristo; a oração é mais que sinal do amor a Deus, se feita no silêncio e na gratuidade com Cristo; o jejum vai para lá de uma libertação pessoal, testemunhado na alegria e na simplicidade a libertação em Cristo. A propósito do trinómio espiritual penitencial disse Santo Agostinho: ‘O jejum e a esmola são as duas asas da oração’. Sem oração não há missão”, citou.

Segundo D. José, a Bíblia conserva viva a inteligência global que o ser humano é formado “do pó da terra” (Gn 2,7). “A Igreja ao inserir na liturgia o rito das cinzas, interpela-nos no dinamismo da própria vida. As cinzas pertenceram a velhos ramos verdejantes. A fragilidade da vida também se expressa no símbolo das cinzas, que são, simultaneamente, um valor acrescentado de fé e de bênção. A pessoa humana é um ser para a vida”, salientou. 

O prelado bracarense citou Romano Guardini, que no seu entender escreveu com sapiência simbólica: “Tudo se torna cinza. A minha casa, a minha roupa, os meus móveis, o meu dinheiro; campos, prados, bosques. O cão que me acompanha e o animal que está no curral. A mão com que escrevo, o olho que lê, e todo o meu corpo. As pessoas que amei; aquelas que odiei e as que temi. O que me pareceu grande sobre a terra, o que me pareceu pequeno, o que considerei desprezível – tudo cinza, tudo...”. Todavia, ao ser impostas as cinzas fazêmo-lo com o sinal da cruz pascal, em memória do Batismo que recebemos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, disse, em jeito de oração.

Arcebispo de Braga lembra importância do Lausperene quaresmal-pascal 

O Arcebispo de Braga desafiou os cristãos a usar bem os remédios próprios dos peregrinos de esperança, onde aparece, entre outros, a esmola, o jejum, a oração e a adoração eucarística. O apelo foi feito ontem, na eucaristia e imposição das cinzas que decorreu na Sé Catedral, marcando o início da Quaresma 2024.

“Neste caminho comum usemos bem os remédios próprios dos peregrinos de esperança: a esmola, o jejum, a oração, a escuta da Palavra, o silêncio, a adoração eucarística, a lectio divina, a contemplação, a via-sacra, o rosário, o Pai-nosso, a humanidade, a fraternidade, o cuidado da casa comum, a hospitalidade e a partilha diária do pão”, disse, acrescentando ainda a música e a arte, como a exposição ‘CRUZ: caminho de redenção, esperança e amor’, inaugurada ontem no Museu Pio XII.

Na sua homilia, D. José Cordeiro referiu-se ao início, na Sé Catedral, do percurso do Lausperene quaresmal-pascal. “A celebração e a adoração eucarística, lugar privilegiado do encontro com Jesus, encoraje a Arquidiocese para bem acolher de 31 de maio a 2 de junho próximos o quinto Congresso Eucarístico Nacional”.

Acolher todos

O prelado bracarense lamentou o crescente secularismo e a desafeição pela eucaristia, esperando que o congresso seja oportunidade de acolhimento.

“A comunidade é em si mesma mistagoga, porque a forma de rezar da comunidade ajuda a fazer a experiência do Mistério, como, por exemplo, acontece na participação litúrgica de uma boa comunidade celebrativa. Esta mesma comunidade é lugar de hospitalidade, aberta a todos, que inclui os mais pobres, os migrantes, as pessoas com deficiência, a todos como casa da caridade e da missão”.