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D. Jorge Ortiga | 4 Jan 2008
A inteligência na pastoral da Igreja
Eucaristia na Sé
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Nesta eucaristia de acção de graças e de reconhecimento público e eclesial, da pessoa e obra do Cón. Avelino de Jesus da Costa, o Evangelho que acabamos de ouvir questiona-nos e conduz-nos a assumir o espírito que acompanhou a vida de quem queremos homenagear. Numa dedicação extrema, vemo-lo como infatigável procurador da verdade. A qualidade de catedrático exigia-lhe o rigor da ciência histórica; a vivência do sacerdócio tornou-se paradigma para que a mesma verdade, identificada com Cristo nos acontecimentos, resplandecesse nos pequenos pormenores da história. Nos meandros do passado, purificava-se uma imagem de Igreja que não teme corrigir ou rectificar datas ou tradições em nome da verdade.
Deste dado inquestionável gostaria de extrair uma lição para que a Arquidiocese, nos seus sacerdotes e leigos, prolongue o exemplo do Cón. Avelino numa busca da verdade como alguém que sabe que Cristo «vive» na mesma verdade e que a Igreja se deve tornar uma sua eterna e permanente procuradora. Numa época de relativismo, associado a muito desencanto e desilusão, como crentes, apoiamo-nos e queremos viver da verdade que é Cristo, encontrando-O no cultivo do conhecimento de todas as realidades humanas.
O Papa Bento XVI convida a Igreja a esta atitude perante a constatação de tantos enganos. Diz ele na carta encíclica «Spe caritati»: «A pessoa humana, na sucessão dos dias, tem muitas esperanças – menores ou maiores – distintas nos diversos períodos da sua vida. Às vezes pode parecer que uma destas esperanças a satisfaça totalmente, sem ter necessidade de outras. Na juventude, pode ser a esperança do grande e suave amor; a esperança de uma certa posição na profissão, deste ou daquele sucesso determinante para o resto da vida. Mas quando esta esperança se realiza, resulta com clareza que na realidade, isso não era a totalidade. Torna-se evidente que o ser humano necessita de uma esperança que vá mais além. Vê-se que só algo de infinito lhe pode bastar, algo que será sempre mais do que aquilo que ele alguma vez possa alcançar. Neste sentido, a época moderna desenvolveu a esperança da instauração de um mundo perfeito que, graças aos conhecimentos da ciência e a uma política cientificamente fundada, parecia tornar-se irrealizável. Assim, a esperança bíblica do reino de Deus foi substituída pela esperança do reino do ser humano, pela esperança de um mundo melhor que seria o verdadeiro «reino de Deus». Esta parecia finalmente a esperança grande e realista de que a pessoa humana necessita. Estava em condições de mobilizar – por um certo tempo – todas as energias do ser humano; o grande objectivo parecia merecedor de todo o esforço. Mas com o passar do tempo torna-se claro que esta esperança escapa sempre para mais longe». (Bento XVI, S. S. 30).
Sabemos que a verdade, como expressão da fé, acontece como um dom que se acolhe na oração, se realiza na transparência da vida mas que cresce no exercício duma inteligência que interroga e investe as energias num trabalho persistente. Aqui quem conheceu o Cón. Avelino de Jesus da Costa encontra uma referência; quem não o conheceu sabe que foi um homem possuído pela causa da verdade à qual entregou a sua vida até aos últimos momentos. As forças físicas diminuíam, mas o projecto de concretizar esperanças antigas acompanhava-o.
Penso, por isso, que esta eucaristia pode ser uma denúncia para quem, sacerdotes ou leigos, pensa numa verdade adquirida num determinado momento e preservada com o zelo da tranquilidade ou preguiça. Denunciando e interpelando as consciências, deveria, também, suscitar mais fome pela verdade. Parece-me que com o pensamento débil deveremos reconhecer um deficit de inteligência para aceitar que devemos percorrer certos caminhos na convicção de que o futuro da Igreja passa por aqui. Com uma inteligência criativa teremos de estar em todos os âmbitos da vida humana numa interpretação coral, ou seja, de todos, sacerdotes ou leigos. Estes por causa da fé e em nome da fé, devem mergulhar nos domínios da ciência; aqueles terão de se consciencializar de que sem reflexão e estudo nunca haverá resposta pastoral convincente.
Estamos em espírito natalício. A estrela conduziu os pastores ao encontro de Cristo. No panorama cultural, em Portugal e no estrangeiro, o Cón. Avelino foi uma estrela que resplandeceu e se ultrapassou a si próprio. Pequeno em estatura, deu um grande contributo à Igreja e à sociedade. Algo podemos imaginar. Muito mais terá acontecido como resultado do seu trabalho.
Fixando o nosso olhar no seu testemunho, gostaria de renovar um apelo já formulado várias vezes. O futuro da Igreja está condicionado pelo interesse que dedicamos à pastoral da inteligência ou da cultura. Urge reestruturarmos o nosso pensamento numa matriz verdadeiramente cristã e eclesial sabendo que nada do que é humano nos é estranho. Dai que, movido pela graça do encontro com Cristo, devemos mostrar que ele «mora» num conhecimento mais profundo da Sua pessoa e daquilo que Ele é capaz de suscitar, no presente e no passado. É uma tarefa de todos, sacerdotes e leigos. Cada um tem potencialidades a desenvolver e ninguém se pode furtar a esta responsabilidade.
Continuando comprometidos na família, rogo ao Deus Menino, incarnado na humanidade, que faça resplandecer a Sua luz na inteligência de todos os cristãos de modo que acreditemos nesta responsabilidade histórica de nos colocarmos na vanguarda de todas as áreas humanas do saber. Não há conflito ou oposição entre fé e ciência. Importa estar presente e fazer com que a luz de Cristo chegue a todos os mundos e ambientes humanos.
Que a homenagem ao Cón. Avelino se prolongue no compromisso de dar à pastoral da inteligência o lugar que ela tem neste tempo de confusão e pluralismo. Maria, a Senhora da Sabedoria, nos ensine a procurar Cristo em todos os caminhos do saber.
Sé Catedral: 04-01-2008
Jorge Ortiga, A. P.
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